Agência FAPESP – Uma pesquisadora da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar) trouxe da Espanha para o Brasil, há 10 anos, o
conceito de “Comunidades de Aprendizagem”, uma proposta de transformação
das escolas que tem o objetivo de garantir a máxima aprendizagem, a
convivência plena na diversidade e a participação da comunidade em todos
os processos e decisões.
Desde então, a professora Roseli Rodrigues de Mello, do Departamento
de Metodologia de Ensino do Centro de Educação e Ciências Humanas da
UFSCar, dedicou-se a trabalhar na adaptação da proposta à realidade
brasileira – esforço que resultou na transformação de quatro escolas de
São Carlos (SP) em comunidades de aprendizagem .
As bases conceituais da proposta – assim como a experiência de
adaptação ao Brasil e a implantação do programa na cidade do interior
paulista – estão detalhadas no livro Comunidades de Aprendizagem: outra escola é possível , publicado com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.
Mello escreveu a obra em coautoria com Fabiana Marini Braga e Vanessa
Gabassa, duas de suas orientandas que tiveram participação no processo.
O trabalho de Mello com a proposta de comunidades de aprendizagem
começou em 2001, quando obteve auxílio da FAPESP para realizar
pós-doutorado no Centro Especial de Investigação em Teorias e Práticas
Superadoras de Desigualdades (CREA), da Universidade de Barcelona, na
Espanha.
“Fui a Barcelona para estudar esse programa que aproxima a escola das
famílias dos estudantes e da comunidade, abrindo-se para uma gestão
compartilhada e dialogada com o entorno, a fim de efetivar a
aprendizagem de conteúdos de alta qualidade para todos os estudantes da
rede pública. A proposta une o conceito de aprendizagem dialógica à
noção de diversidade cultural como riqueza humana”, disse Mello à Agência FAPESP.
De volta ao Brasil em 2002, a professora difundiu a proposta junto à
Secretaria Municipal de Educação de São Carlos, que encampou a ideia. A
partir daí, teve início o processo de implantação da transformação em
escolas do município.
“Comecei a orientar mestrados e doutorados, com Bolsas da FAPESP, com
projetos voltados para investigar a capacidade de adaptação da
proposta. Era preciso saber se seria possível implantar as comunidades
de aprendizagem em um formato idêntico ao modelo espanhol, ou se havia
especificidades locais que precisavam ser consideradas”, declarou Mello.
Braga, que foi orientada por Mello no mestrado e doutorado, fez uma
leitura comparativa do contexto da legislação na Espanha e no Brasil. “A
comparação teve o objetivo de identificar se a legislação brasileira
favoreceria ou atrapalharia a transformação das escolas”, contou Mello.
A partir de então, entre 2007 e 2009, Mello coordenou o projeto “Comunidades
de Aprendizagem: aposta na qualidade de aprendizagem, na igualdade de
diferenças e na democratização da gestão da escola”, financiado pela FAPESP por meio do Programa de Melhoria do Ensino Público.
Gabassa, nesse momento, terminava seu mestrado sobre comunidades de
aprendizagem, sob orientação de Mello, e iniciava seu doutorado sobre o
impacto da aprendizagem na sala de aula.
A obra, segundo Mello, é fruto de 10 anos de pesquisas financiadas
pela FAPESP. “O livro conta toda essa trajetória e descreve o que
desenvolvemos na pesquisa e no trabalho de implantação dessas
Comunidades de Aprendizagem no Brasil”, disse.
Atualmente, em São Carlos três escolas municipais de ensino
fundamental e uma escola estadual de ensino médio funcionam como
Comunidades de Aprendizagem, segundo Mello. "O programa de Comunidades
de Aprendizagem prevê a transformação das escolas para garantir dois
objetivos fundamentais. O primeiro é a aprendizagem dos conteúdos
escolares com a máxima qualidade para todos os estudantes da escola. O
segundo é efetivar na escola o que chamamos de convivência respeitosa
entre as muitas culturas e formas de ser dos alunos, professores e
comunidade”, explicou.
A fim de garantir a aprendizagem máxima para todos os alunos – que
historicamente não ocorre nas escolas brasileiras – o programa prevê
trazer a comunidade para dentro da escola e nunca afastar o aluno da
sala de aula. “Chamamos o pessoal da comunidade para participar das
discussões, levantar problemas e considerar perspectivas de solução
junto com o conselho da escola, intensificando sua interação com os
estudantes”, afirmou.
A transformação, segundo Mello, requer todo um processo de estudo com
base na sociologia, na psicologia, nas teorias das organizações e nas
teorias da aprendizagem, que indicam caminhos mais seguros para
viabilizar a interação da escola com a comunidade do entorno.
“A escola não tem esse histórico, por isso não basta estabelecer
diretrizes abstratas. É preciso estabelecer uma forma consistente de
encaminhar as mudanças, caso contrário a transformação poderia gerar
ainda mais conflitos. Por isso nossa proposta de Comunidades de
Aprendizagem foi elaborada com um grupo que conta com 120 pesquisadores
de diferentes áreas”, declarou Mello.
Na Espanha, de acordo com Mello, 150 escolas já se tornaram
Comunidades de Aprendizagem. “Uma pesquisa abrangente feita em 14 países
da União Europeia para localizar as práticas educacionais bem-sucedidas
no continente apontou as Comunidades de Aprendizagem como exemplo de
convívio respeitoso e qualidade de educação”, disse a professora.
O primeiro capítulo do livro apresenta as Comunidades de Aprendizagem
em seu contexto atual, em âmbito internacional, e quanto às implicações
e especificidades do Brasil, que colocam às escolas o desafio de se
transformar. O segundo capítulo detalha o conceito de aprendizagem
dialógica, que é a base teórico-metodológica da proposta.
O terceiro capítulo trata das fases de transformação das escolas. O
quarto apresenta o funcionamento dos processos de uma Comunidade de
Aprendizagem, com base em experiências pesquisadas pelas autoras nos
dois países. O quinto capítulo faz um balanço dos elementos que
favorecem ou se tornam obstáculos, no contexto brasileiro, para a
transformação das escolas.
- Comunidades de Aprendizagem: outra escola é possível
Autoras: Roseli Rodrigues de Mello, Fabiana Marini Braga e Vanessa Gabassa
Lançamento: 2012
Preço: R$ 28
Páginas: 176
Mais informações: www.editora.ufscar.br
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