Por Daiane Souza
O Brasil contará com o Observatório da Discriminação Racial durante
os eventos internacionais dos quais será sede nos próximos anos. Foco da
atenção mundial em 2014, o país receberá seleções de 32 nações para a
Copa do Mundo e, por se tratar da segunda nação com o maior número de
negros, já pensa estratégias para a fiscalização e prevenção de atitudes
racistas, além de xenófobas e homofóbicas.
O assunto foi debatido entre o presidente da Fundação Cultural
Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araujo, a vereadora Marta Rodrigues, da
Comissão de Reparação da Câmara de Salvador e Ailton Ferreira,
secretário Municipal de Reparação da capital baiana, na manhã desta
quinta-feira (19). A FCP, instituição vinculada ao Ministério da Cultura
(Minc) e referência nas questões da cultura negra, apoiará à
iniciativa.
Para Eloi Ferreira, a ideia é aproveitar a visibilidade que a Copa
trará, a fim de alertar para a importância de combate ao racismo. “Por
meio do futebol internacional queremos assegurar o respeito à
diversidade e dar visibilidade às manifestações da cultura
afro-brasileira”, destacou. Ele propõe que as manifestações que fazem
parte da identidade nacional sejam incorporadas à missão do
Observatório, tornando sua postura institucional referência nas questões
racial e cultural.
Articulação – De acordo com Marta, o Observatório
da Discriminação Racial já existe em Salvador e atua nas grandes
manifestações locais como o Carnaval, desde 2005. “Porém a ideia é
nacionalizar o trabalho, ampliando-o para todos os estados onde
acontecerão os jogos da Copa”, ressalta. Mas, para que isso seja
possível, ela alerta que é fundamental a articulação entre Governo,
instituições privadas e sociedade.
Marcos Antônio Almeida Sampaio, presidente do Conselho Municipal das
Comunidades Negras (CMCN), explica que a primeira grande experiência do
Observatório já tem data para acontecer. “Será em 2013 durante a Copa
das Confederações. O evento será a nossa base e o preparo para que
possamos cobrir outros eventos internacionais”, disse.
Segundo ele, os diagnósticos da exclusão a serem registrados durante
esses eventos poderão servir de base para ações do próprio Governo no
combate ao racismo e na melhoria de serviços voltados a população negra.
“Os dados serão importantes, pois poderão colaborar na criação de
estratégias que venham a solucionar demandas sociais como desemprego,
qualificação do atendimento à saúde, ensino e outros”, completou.
Metas e ações – No que diz respeito à ampliação do
programa, entre as principais metas a serem alcançadas estão o
desenvolvimento de campanhas educativas tratando das temáticas
“racismo”, “xenofobia” e “homofobia”; o mapeamento de oportunidades para
a geração de emprego e renda aos afrodescendentes, garantia da equidade
na participação de negros no mercado de trabalho durante o evento e a
capacitação e qualificação dos envolvidos com este mercado.
Entre as ações previstas estão audiências direcionadas a jornalistas e
locutores de futebol para que evitem situações que possam gerar
constrangimentos, estimulem a ética e o respeito à diversidade, e para
que saibam lidar com fatos que venham a ocorrer durante os jogos.
Ailton Ferreira pontua que o Brasil tem o dever de tratar das
questões de racismo. “Temos que mostrar ao mundo que estamos atentos”,
diz. Dada a relevância do futebol brasileiro e os atos racistas a que
jogadores do país já estiveram submetidos, ele explica que uma das
propostas em estudo é uma campanha em que apareçam jogadores-ícones,
acompanhados do slogan No país dos craques não cabe racismo.
Marta completa, recordando que em um evento internacional onde o lema é Juntos num só ritmo,
não se pode andar passo a passo com as discriminações. A vereadora
esclarece que uma campanha como esta pode trazer inúmeros resultados
positivos. Entre eles, a reflexão dos próprios jogadores em relação à
sua raiz e identidade.
Ailton Fereira, Marta Rodrigues e Eloi Ferreira após reunião sobre o Observatório da Discriminação Racial
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