Terra Deu, Terra Come - Rodrigo Siqueira(2010)
Direção: Rodrigo Siqueira
Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como
mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João
Batista, que morreu com 120 anos. O ritual sucede-se no quilombo Quartel
do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. Com uma canequinha
esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver já
assentado na cova: "O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua
taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem
em paz".
Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17 horas
de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo,
muita cantoria com os versos dos vissungos, tradição herdada da áfrica.
Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas
Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos
conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas
durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos
18 e 19.
Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros
enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas, o
primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tio com quem trabalhava o
enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em uma
sinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João
dos Santos. "É um diamante e tanto, você precisa ver que botão de
mágoa." Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias
carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o
tempo inteiro: João Batista tinha pacto com o Diabo?; O Diabo existe?;
estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?; como Deus
inventou a Morte?
A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca
pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No
filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade
e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é
vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.
Terra Deu, Terra Come é um filme cheio de encantos e encantamentos.
Pedro de Alexina, 81 anos, comanda como mestre de cerimonias o funeral
de João Batista, morto aos 120 anos. Documentário, memória e ficção se
misturam para tecer uma história fantástica que retrata um canto
metafísico do sertão mineiro. É preciso ver para crer.
Entre 2010 e 2011 o Terra Deu, Terra Come conquistou os mais
relevantes prêmios consagrados aos documentários no Brasil. Também
recebeu o reconhecimento dos mais importantes críticos de cinema do
país.
TERRA DEU TERRA COME venceu o prêmio International Young Talent
Competition - Generation DOK - no 53º DOK LEIPZIG, Alemanha, um dos mais
tradicionais e importantes festivais de documentários da Europa. Eis as
palavras do júri do festival: "O filme vencedor levou os juízes a um
mundo completamente desconhecido (e evidentemente quase esquecido). Seu
personagem central —um indivíduo admirável e mesmerizante— é o tipo de
pessoa que provavelmente só aparece uma vez na vida de um
documentarista. O registro de sua ligação com um mundo de rituais e
mitos, à beira do desaparecimento, é a um tempo fascinante e de
relevância histórica. O filme claramente se beneficiou do acesso
exclusivo (do diretor ao personagem), ganho ao longo de um período de
tempo extenso e trabalhado com grande senso artístico. O filme expõe um
mundo sobre o qual nada conhecíamos, e o faz de uma maneira encantadora,
prazerosa e, por vezes, emotiva, que certamente descortina um novo
território e abre as portas para uma verdadeira experiência de
documentário."
Cartola - Música para os Olhos (2006)
A história de um dos compositores mais importantes da música
brasileira. A história do samba a partir de um dos seus expoentes mais
nobres. Utilizando linguagem fragmentada, "Cartola" traça um painel da
formação cultural do Brasil, convidando a uma reflexão na construção da
memória deste país. O retrato de um homem que se reconstruía com seu
tempo.
A Negação do Brasil: O Negro nas telenovelas Brasileiras
Documentário sobre a trajetória dos atores negros na televisão e a evolução dessa imagem construida como personagem.
4 Vozes Femininas de África: Odete Semedo, Vera Duarte, Sónia Sultuane e Conceição Evaristo
Mesa redonda "4 Vozes Femininas de África: Odete Semedo, Vera
Duarte, Sónia Sultuane e Conceição Evaristo" realizada na UFRJ em
09/08/2011 com três escritoras Africanas - Odete Semedo, Vera Duarte,
Sónia Sultuane - e uma brasileira - Conceição Evaristo.
Um Dia Sem Mexicanos
Uma pequena comédia com premissa interessante que mostra de forma
engraçada a "tragédia" que seriam os Estados Unidos sem imigrantes.
O que aconteceria à Califórnia se a população latina do lugar -- um
terço da população ativa do estado -- de uma hora para outra
desaparecesse? Essa premissa fantástica e curiosíssima é o mote desta
simpática comédia do diretor Sergio Arau, que já tinha realizado um
curta-metragem homônimo e de mesma temática, que serviu de base para
esse trabalho.
O filme começa mostrando o cotidiano da população do estado
americano, em uma espécie de semi-documentário, acompanhando diversos
personagens (o roteiro se assemelha muito a um filme-painel, com várias
situações paralelas que aos poucos vão se cruzando). Mostra um estado
que tem problemas com a imigração ilegal, com a xenofobia, com o
sub-emprego e até com a estereotipação -- há uma personagem na trama,
americana de descendência latina, que trabalha em um jornal voltado para
os hispânicos e que é obrigada por seu editor a forçar o sotaque que
ela não tem para "agradar" ao seu público-alvo.
De uma hora para outra os latinos (não somente os mexicanos -- o
título já vem com uma piada embutida, pois para os americanos todos os
latinos são mexicanos, não importando se eles são brasileiros,
porto-riquenhos ou cubanos) vão simplesmente sumindo e o estado passa a
ser circundado por uma estranha névoa, como em um passe de mágica. Até
mesmo os famosos, como Salma Hayek, Cheech Marin e Plácido Domingo
acabam desaparecendo, para desespero dos americanos anglo-saxões. Sem os
trabalhadores latinos -- quase sempre relacionados ao trabalho menor,
como empregadas domésticas e trabalhadores rurais -- o estado acaba se
tornando uma grande confusão, como se esses trabalhadores fossem
realmente importantes para o lugar e que só então os americanos
percebessem isso.
O filme trata de um assunto sério de forma bastante criativa e
engraçada -- como não dar uma risadinha, nos créditos iniciais, da
logomarca da Televisa, notável emissora de tevê mexicana, mais conhecida
por realizar aqueles dramalhões chorosos? Inclusive há uma parte no
filme em que o dramalhão toma conta, propositalmente, inclusive com
aquela reviravolta típica -- quase uma novela mexicana! O filme também
não deixa de fazer certas observações críticas a respeito da situação
dos imigrantes, através de legendas. Mas chega uma hora em que a piada
cansa e o filme se torna monótono. Não deixa de ser irritante a forma
passiva como os latinos são mostrados, como se fossem pobres coitados
sem personalidade -- eu o acusaria até de ser racista em certos
momentos, por incrível que pareça - mas até o final feliz chegar, o
espectador já deu (poucas) risadas ao som de "California Dreamin'",
clássico musical do The Mamas & The Papas.
A Estética da Magreza
Os padrões estéticos variam com o passar do tempo. Marilyn Monroe,
ícone da beleza feminina dos anos 1950, tem um corpo que hoje seria
considerado gordo e baixo, se comparado com a modelo Gisele Bundchen.
Apesar de vivermos em uma época em que a diversidade deve ser valorizada
e respeitada, os padrões de beleza divulgados pelos meios de
comunicação valorizam características que nem sempre dialogam com o povo
brasileiro. Com grande frequência o belo é propagado com sendo o cabelo
loiro e liso, a pele branca, o nariz fino, os olhos claros e o corpo
magro. Para se encaixar nos padrões vigentes, as pessoas se submetem a
alisamentos, tinturas de cabelo, implantes de silicone, regimes,
lipoaspirações, etc.
Pesquisa realizada com alunos e professores da rede pública revela
que a maioria dos alunos já presenciou discriminações por causa de
características físicas. A discriminação e o bullying constantemente vêm
mascarados no formato de brincadeira. Baleia, Shrek, tampinha, saco de
osso, dragão: são inúmeros os apelidos pejorativos utilizados para
discriminar os colegas. Os gordos são os que mais sofrem discriminações
por causa do corpo. Nem sempre vencer o preconceito é fácil e muitos
alunos aceitam os apelidos por ser difícil enfrentar os colegas. O
problema se agrava quando falamos das pessoas obesas.
Recentemente, têm surgido no Brasil movimentos sociais denominados
Fat Power (Poder Gordo ou Orgulho Gordo). Esses movimentos buscam
legitimar o direito da pessoa ser gorda sem sofrer discriminação e
também lutam por adaptações nas estruturas físicas dos espaços públicos
(assentos de avião, cadeiras de cinema, roletas de ônibus, etc).
Participam do debate do deputado Irajá Abreu (DEM-TO); Lucio Luiz,
jornalista e educador, colunista do portal Papo de Gordo; Liliane
Machado, jornalista e professora de Comunicação da Universidade Católica
de Brasília e doutora em Estudos Feministas e de Gênero pela
Universidade de Brasília; e Aline Carvalho, modelo plus size, escreve no
portal gmaravilhosas.
Lima Barreto: Um Grito Brasileiro
A breve, conturbada e brilhante vida do escritor Lima Barreto. Após
o pai enlouquecer, abandonou os estudos para cuidar da família. Mulato,
sofreu com o racismo. Mesmo assim, destacou-se com a publicação de
Triste fim de Policarpo Quaresma. A importância dessa obra para a
literatura brasileira. O forte sentimento nacionalista do escritor que
se tornou jornalista do Correio da Manhã, jornal no qual denunciava as
injustiças sociais.
Velho Recife Novo
Excelente documentário que fala sinteticamente do problema
urbanístico pelo qual Recife tem passado, mas que poderia estar falando
de qualquer grande cidade brasileira onde a visão de mundo
médio-classista é formada pelas objetivos de mercado das grandes
construtoras e das montadoras. Um filme que todos os que buscam uma
melhor qualidade de vida de sua cidade deveriam assistir.
Sinopse Oficial: Oito especialistas de diversas áreas (arquitetura e
urbanismo, economia, engenharia, geografia, história e sociologia)
opinam sobre a noção de espaço público na cidade do Recife e destacam
temas como: a história do espaço público na cidade, o efeito dos
projetos de grande impacto no espaço urbano, modos de morar recifense, a
relação entre a rua e os edifícios, a qualidade dos espaços públicos,
legislação urbana, gestão e políticas públicas e mobilidade.
Filmes Ruins, Árabes Malvados: Como Hollywood transforma um povo em Vilão
Imperdível!
Nesse documentário franco, humano e sensível, Dr. Jack Shaheen,
autor do livro de enorme sucesso "Reel Bad Arabs", analisa quase mil
filmes envolvendo a figura do árabe no cinema norteamericano.
Cerca de 25% de todos os filmes já produzidos em Hollywood incluem a
figura do árabe e apenas um não denigre a imagem dos árabes.
Eles são retratados como cruéis, machistas, idiotas, fanáticos e as
mulheres como objetos sexuais, submissas ou tolas. Presente desde o
desenho animado até as superproduções, a estratégia segue a mesma forma
covarde de como os judeus eram retratados pela propaganda nazista.
Esse tipo de preconceito acaba trazendo para o ocidente convenientes ingredientes sociais para uma guerra: o ódio e o medo.
Nada é por acaso, a política norteamericana no oriente médio e Hollywood estão intrinsecamente ligados.
É ótimo para os grupos armamentistas, petroleiras e banqueiros que
financiam as guerras, que os árabes sejam vistos como vilões, pois dessa
maneira, a opinião pública estará sempre ao seu lado, garantindo
enormes lucros com um eventual conflito. Vale a pena destacar que vários
desses grupos são os próprios donos das indústrias cinematográficas e
canais de TV, que veiculam esses filmes.
Um dos povos que mais tem sofrido desse preconceito são os
palestinos, que apesar de serem oprimidos, vítimas de uma ocupação
massiva, cruel e hedionda, são retratados como terroristas.
O documentário, além dessas denúncias, apresenta lindas propostas
de como acabar com o preconceito descabido contra os árabes, mas que
também poderia ser qualquer outra minoria.
Europa e Grécia: Do Esquecimento à adoração racista - Vladimir Acosta
Uma brilhante lição do Prof. Vladimir Acosta sobre como foi montado
o mito da superioridade da cultura grega sobre as demais culturas da
antiguidade. Vladimir Acosta deixa claro que o objetivo do enaltecimento
absoluto à Grécia visava, na verdade, o enaltecimento das potências
colonialistas e racistas europeias. Estas buscavam apresentar-se como
herdeiras diretas das tradições culturais gregas e, portanto, também
deveriam ser vistas como sociedades superiores. Com isso se justificaria
seu direito a colonizar e dominar os outros povos do mundo.
A História do Racismo
BBC - Racismo A História. O filme aborda o cruel legado deixado
pelo racismo ao longo dos séculos. Iniciando pelos EUA, berço da Ku Klux
Klan, onde o pesquisador James Allen, possuidor de vasta coleção de
material fotográfico e jornalístico sobre linchamentos, defende que há
um movimento arquitetado para apagar a mácula racial da memória do país.
A seguir, remonta à colonização belga do Congo, por Leopoldo II, onde
os negros que não atingiam a quota diária de borracha tinham a mão
direita decepada. O documentário trata ainda da problemática racial na
África do Sul (Apartheid) e Grã-Bretanha, abordando a luta do Movimento
pelos Direitos Civis nos EUA e a desconstituição do mito da existência
de raças.
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