O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) terá em Londres,
durante os Jogos Olímpicos, uma ginecologista dedicada a atender as atletas brasileiras.
Essa mesma médica está, desde 2011, acompanhando
cerca de 70 atletas da delegação do Brasil (de um total de 123), que optaram
por tomar medicamentos – anticoncepcionais hormonais ou anti-inflamatórios –
para reduzir os sintomas da tensão pré-menstrual ou mesmo evitar a menstruação
durante os Jogos de Londres-2012.
É o caso da ala Patricia Ferreira, a Chuca, da
seleção de basquete, que se queixava de perda sanguínea excessiva, irritação e
dores ao disputar partidas durante seu período menstrual.
"É legal ter controle sobre isso. Já tive
anemia, então é bom não perder muito sangue", disse a jogadora à BBC
Brasil. "Nosso jogo melhora e não nos sentimos tão debilitadas",
afirmou.
A perda sanguínea excessiva pode atrapalhar as
atletas durante atividades aeróbicas, explica o médico britânico Christopher
Hughes, consultor e palestrante em medicina esportiva das universidades Newham
e Queen Mary.
"(Esse tipo de controle hormonal) já é
amplamente usado em atletas de elite do esporte mundial", diz ele.
Diversas modalidades
No caso do Brasil, o trabalho com a seleção de
basquete, desde 2009, foi o que deu início ao projeto com foco na Olimpíada,
explica a ginecologista Tathiana Parmigiano, que atenderá as atletas do Brasil
em Londres.
Depois do basquete, foi a vez de as meninas do
judô, iniciativa a ser adotada pela delegação brasileira como um todo. Desde
2011, Parmigiano está atendendo esportistas de diversas modalidades - como
futebol, vela, pentatlo, judô, esportes aquáticos, atletismo -, com tratamentos
individualizados.
A principal queixa das meninas, diz ela, são as
cólicas e os outros sintomas da TPM.
Antes da Olímpíada de 2012, Parmigiano também fez
trabalho semelhante com atletas que disputaram o Pan-Americano de Guadalajara,
em 2011, cujos resultados a médica pretende apresentar em um congresso de
medicina esportiva em setembro, em Roma.
"A ideia é oferecer um acompanhamento para que
a parte hormonal não seja um problema para a atleta", disse Parmigiano à
BBC Brasil. "Podemos planejar o ciclo menstrual de acordo com o calendário
esportivo."
No caso de Patricia e de outras jogadoras da
seleção de basquete, a opção foi suspender a menstruação durante os meses de
julho e agosto, quando as atletas têm as temporadas pré-Olímpica e Olímpica.
Desempenho
A ala Patricia Ferreira sofria com perda excessiva
de sangue, irritação e dores
Para José Alfredo Padilha, chefe do departamento
médico do COB, a ideia é "colocar o ciclo dentro de um ritmo favorável à
mulher e à competição", para evitar incômodos como retenção de líquido,
irritação, e dificuldades em perder peso, prejudicando o desempenho das
esportistas.
Padilha afirmou que iniciativas do tipo já são
bastante descritas na literatura médica, mas diz que o projeto brasileiro não
se inspirou em outro país.
"O feedback é positivo. (Parmigiano) é uma das
médicas mais procuradas da delegação brasileira. É algo que influencia muito a
performance das atletas", afirmou ele.
Segundo Parmigiano, é difícil quantificar essa
melhora na performance, mas a grande vantagem é que "(o ciclo menstrual) é
uma coisa a menos com que a atleta tem que se preocupar".
O médico britânico Christopher Hughes também diz
que a medição dos efeitos disso na performance não é fácil, mas, se a mulher
sofre muito no período menstrual, pode sentir melhoras.
"Não dá para ignorar esse diferencial entre as
atletas mulheres e os homens, e isso muitas vezes é subestimado", opina
Parmigiano. "Defendo que as atletas saibam que existe (uma forma de evitar
isso)."
Doping e efeitos colaterais
Os tratamentos são individualizados, para encontrar
as doses ideais para cada atleta e para prevenir efeitos colaterais da
medicação, como dores de cabeça ou diarreia.
Hughes adverte também para efeitos do tratamento em
lesões e na densidade óssea das atletas. O problema, diz ele, é que há estudos
contraditórios a respeito – alguns sugerem que o uso prolongado de hormônios
pode ter efeitos negativos na densidade óssea; outros apontam efeito positivo.
"A resposta ao tratamento muda de indivíduo
para indivíduo. Mas, no geral, as vantagens são maiores do que as
desvantagens."
Outra preocupação é evitar que o tratamento gere
problemas com a Wada, a agência mundial antidoping.
"Algumas progesteronas podem ser confundidas
com anabolizantes em exames antidoping, então não podem estar nos
anticoncepcionais receitados", explicou Parmigiano.
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