Para lidar com a diabetes, não basta apenas cortar os doces, mas readequar a rotina
São Paulo - Silenciosa e implacável, ela avança pelo mundo. Hoje, 285
milhões de pessoas têm diabetes melittus, segundo a Federação
Internacional de Diabetes. No Brasil, são quase 10 milhões (eram 7
milhões em 2007 e devemos chegar a 17 milhões em 2030).
A diabetes é uma disfunção que eleva o nível de açúcar (glicose) no
sangue, causada pela diminuição total ou parcial da quantidade ou da
ação do hormônio insulina, produzido pelo pâncreas. A insulina é
responsável por atuar sobre o açúcar, retirando-o do sangue para ser
usado pelas células como energia.
Com insulina "de menos", o nível de açúcar no sangue vai às alturas,
aumentando as chances de o indivíduo desenvolver doenças
cardiovasculares e ter complicações em diversos órgãos, que podem
inclusive levar à cegueira e até à morte. "Como na maioria dos casos a
doença não apresenta sintomas na sua evolução, metade dos diabéticos não
sabe que tem o problema. Em função do estilo de vida sedentário e do
crescimento da obesidade, a diabetes vem se manifestando mais cedo,
entre crianças e adolescentes", afirma o endocrinologista Roberto Betti,
chefe do Centro de Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
O melhor remédio
A gordura corporal, principalmente a visceral, por trás da barriguinha,
é a principal culpada por diminuir a sensibilidade à insulina. É aí que
a corrida pode ajudar. É possível prevenir a doença, especialmente a
diabetes tipo 2, a que mais cresce na população mundial. Principalmente
se o exercício for aliado a uma dieta equilibrada. "Essas medidas podem
reduzir em 58% o risco de diabetes após três anos, sem a necessidade de
medicamentos", diz Betti.
A recomendação do American College of Sports Medicine é de pelo menos
30 minutos de atividade leve a moderada por dia, cinco vezes por semana.
"A corrida combate a obesidade e atenua os riscos cardiovasculares, que
são as principais causas da diabetes tipo 2. Aumenta a sensibilidade à
insulina e regula processos metabólicos, melhorando a eficiência do
corpo em gerenciar a glicemia [concentração de glicose no sangue]", diz a
endocrinologista Karla Melo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Atividades físicas como a corrida são especialmente indicadas para quem
tem propensão a desenvolver diabetes, ou seja, pessoas com sobrepeso
que já sofrem alterações na glicemia, que nelas costuma ficar entre 100 e
126 mg/dl (miligramas por decilitro de sangue) em jejum. Como é uma
situação que ainda pode ser revertida, a mudança de hábitos deve ser
imediata, incluindo também a alimentação. Segundo Joyce Mourão,
nutricionista do Hospital Oswaldo Cruz, o ideal é evitar alimentos ricos
em açúcar, gordura e farinha refinada e priorizar os carboidratos
complexos sobre os simples. Segundo a Associação Americana do Coração,
quem come de duas a cinco porções de arroz integral tem 11% menos chance
de desenvolver a diabetes tipo 2. Já quem come de duas a cinco porções
de arroz branco por semana tem 17% a mais de chance de ter a doença.
Corrida e diabetes
Uma vez instalada a diabetes, o jeito é mantê-la sob controle. E a
corrida é uma poderosa ferramenta nessa tarefa. "Ao tornar o organismo
mais sensível à insulina, o exercício pode reduzir ou dispensar o uso do
hormônio injetável ou medicamentos orais. Por isso, hoje já é prescrito
como coadjuvante no tratamento", afirma Páblius Braga, coordenador do
Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital Nove de Julho,
em São Paulo.
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