Levantamento feito em 11 países revela problemas comuns na região.
                  
Há cinco ou dez anos, era comum que os sistemas 
educacionais se preocupassem mais com o conteúdo de seus programas 
acadêmicos do que com a forma de transmiti-los aos alunos. No entanto, o
 boom tecnológico dos últimos anos, com a democratização dos 
computadores e a invasão dos smart-phones e tablets, causou um salto na 
rotina de inúmeras casas e terminou com o script tradicional da relação 
entre lares e escolas.
Essa realidade traduz o problema que se colocou na maioria das 
escolas públicas e, em alguns casos, privadas. Como os alunos fora do 
horário de aula mantêm, às vezes, um vínculo patológico com a 
tecnologia, as salas de aula tradicionais transformaram-se em espaços 
próprios do tempo das cavernas.
Levantamento feito em conjunto pelos 11 jornais do Grupo de Diários 
América (GDA)* revela que, apesar de cada país estar num estágio 
diferente na corrida tecnológica, há problemas comuns em quase toda a 
região. Entre eles destacam-se o ainda baixo acesso a computadores e à 
internet nas escolas e a falta de capacitação dos professores para usar 
ferramentas tecnológicas.
No caso do México, por exemplo, de um total de 198.896 escolas 
públicas no nível básico - elementar médio e superior ou primário e 
secundário -, 84.157 têm computadores, de acordo com estatísticas do 
governo. "No entanto, apenas duas de dez escolas estão conectadas à 
internet", afirmou Nurit Carballo Martinez, do jornal "El Universal".
As mesmas estatísticas mostram que, até junho de 2011, havia um computador para cada 25 usuários no México.
Na Colômbia, o programa governamental "Computadores para a educação" -
 iniciativa responsável por proporcionar equipamentos, conexão, 
softwares educacionais e formação de professores em relação ao uso da 
tecnologia e da internet para o ensino - tem sido capaz de beneficiar 
mais de sete milhões de crianças em todo o país, em 28 mil escolas 
públicas. Porém, ainda existem oito mil escolas que sequer têm um 
computador.
Na Argentina, o quadro não é mais animador. Os últimos dados 
disponíveis no Ministério da Educação daquele país indicam que, em 
média, existem 40 alunos para cada computador nas escolas argentinas, e 
somente 29% têm acesso à internet. Enquanto isso, no Brasil a estimativa
 é de que a média seja de 23 computadores por escola e que, destes, 18 
estejam em funcionamento para atender 800 alunos.
No Peru, onde a população escolar ronda os nove milhões, só 19,8% dos
 estudantes de educação primária usam a internet. O mais alarmante é o 
lugar de acesso: apenas 8,3% das pessoas a partir dos 6 anos o faz na 
escola. Outros 56,1% acessam a internet em cabines públicas e mais 36%, 
em casa. No Chile, 9.680 escolas recebem subvenção estatal para usar 
tecnologia. Ainda assim, só 22 mil dos 140 mil docentes do sistema 
público estão capacitados para tal.
O Brasil ilustra bem o problema da capacitação docente para usar a 
tecnologia. Pesquisa com mais de 1.500 professores, divulgada em 2011 e 
feita pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), 
revelou que, para 64%, os alunos têm mais conhecimento que eles sobre o 
uso de novas tecnologias de informação, e 28% ainda preferem os métodos 
tradicionais de ensino. A NIC.br é uma entidade civil que implementa as 
decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Um avanço considerado único na região foi o Plano Ceibal, 
desenvolvido pelo governo do Uruguai entre 2005 e 2010, que entregou um 
laptop a cada aluno das escolas públicas, maioria naquele país. Depois 
do projeto, quatro em cada dez lares com computador têm um do Plano 
Ceibal, o que significa 70% de penetração em nível nacional.
Segundo a consultoria Radar, entre 2001 e 2010 a inserção de PCs nas 
casas cresceu 85% em Montevidéu e 215% no resto do país. O acesso a um 
PC e à internet, no entanto, não está distribuído de maneira equitativa:
 em lares de nível socioeconômico mais alto, chega a 98%, e, nos de 
nível mais baixo, a 49%.
* O Grupo de Diários América (GDA) é integrado por 11 jornais da 
América Latina: "La Nación" (Argentina), "O Globo", "El Mercurio" 
(Chile), "El Tiempo" (Colômbia), "La Nación" (Costa Rica), "El Comercio"
 (Equador), "El Universal" (México), "El Comercio" (Peru), "El Nuevo 
Día" (Porto Rico), "El País" (Uruguay) e "El Nacional" (Venezuela).
(O Globo)

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