Retirado do site Diário do Pará.
Quarta-feira, 07/07/2010
Artistas participam do I Fórum de Performance Negra, no IAP
Apesar da forte influência da cultura negra no Pará, presente em manifestações como boi-bumbá e carimbó, somente agora Belém é cenário do I Fórum de Performance Negra, realizado no Instituto de Artes do Pará (IAP), até sexta- feira, dia 9.
“O racismo, o preconceito e a discriminação dirigidos à comunidade afrodescendente foram, durante séculos, institucionalizados pelo Estado brasileiro. Somente agora o papel do negro no Brasil torna-se objeto de discussão de forma mais efetiva. No Pará, então, a discussão ainda está engatinhando”, afirma Amilton Sá Barreto,membro da Associação dos Filhos e Amigos Ilê Iyá Omi Axé Ofa Kare (Afaia) e um dos organizadores do evento.
Com a proposta de atrair a atenção da sociedade para a importância histórica da matriz negra no teatro, na dança e na música paraense, o I Fórum de Belém de Performance Negra surgiu da união da Afaia e da Companhia de Dança e Teatro Will Júnior.
“A motivação do encontro paraense parte dos fóruns nacionais de performance negra, realizados há cerca de dois anos em Salvador (BA). É uma grande mobilização, que envolve grupos culturais de todo o país, para discutir políticas e definir diretrizes sobre a questão afro. Mas a faísca que deu início ao Fórum de Belém aconteceu mesmo por acaso”, conta Will Júnior, produtor e coreógrafo da companhia.
Mesmo compartilhando o teatro, a dança e a influência negra em seus trabalhos,os dois grupos só iniciaram a parceria após um encontro em Brasília, em abril deste ano, quando foi entregue o I Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afrobrasileiras.
Os projetos paraenses “Emi – A Concepção Yorubana do Universo”, apresentado pela Afaia, e “Elegbará – O Guardião da Vida”, da Companhia Will Junior, foram os únicos da Região Norte beneficiados, entre 412 inscritos. Cada um recebeu R$ 80 mil do Governo Federal.
QUESTIONAMENTOS
“Se você levar em conta as estatísticas, a população negra no Pará chega a 72,4% do total, mas temos pouquíssimas políticas culturais voltadas exclusivamente para a questão negra. Cotas e editais específicos são necessários nesse processo de afirmação Só reconhecendo a identidade negra no universo das identidades étnicas iremos compor uma identidade nacional plural”, defende Amilton.
Ele ressalta o atual descaso em relação à lei 11.645, de 2008, que estabelece a inclusão, no currículo oficial da rede de ensino, da temática “História e Cultura Afrobrasileira e Indígena”.
“Apesar de garantido por lei, esse conhecimento é negligenciado em escolas e instituições de ensino”, constata Josenir Santos, etnomusicólogo inscrito nas oficinas de percussão ministradas durante o fórum. Ele, que faz parte de um grupo de chorinho local, enxerga o evento como uma oportunidade de ter acesso a uma cultura que, apesar de familiar, é ainda de difícil acesso ao grande público. “Somo todos africanos, negros. A música afro tem uma influencia tremenda na nossa expressividade. Mas existem certos sotaques, ritos que não estão acessíveis para nós. Eventos como este são essenciais para esta troca”, afirma.
PROGRAMAÇÃO
HOJE
Mesa de Debates Tema: Desenvolvimento da Arte baseada nas Matrizes Afrobrasileiras.
AMANHÃ
Mesa de Debates Tema: Presença Negra na Região Amazônica – “Performances Rituais”.
SEXTA, DIA 9
Plenária dos Grupos de Trabalho Apresentações Culturais e Encerramento
OFICINA DE DANÇA - com Zumbi Bahia (professor e coreógrafo/ MA) Até dia 8, de 17h às 19h, na Sala de Dança
OFICINA DE TEATRO - com Adunin Benton (professora, atriz e diretora de teatro/ RJ) Até dia 8, de 9h às 12h, na Sala de Multimeios
OFICINA DE PERCUSSÃO - com Antônio Sérgio de Ogun e Jorge Santos (BA) Até dia 8, de 17h às 19h, no Anfiteatro
OFICINA DE CANTO - com Jeremias Progênio (PA) Até dia 8, de 9h ao meio-dia, no Auditório
SERVIÇO I Fórum de Belém de Performance Negra, com oficinas, debates e workshops. Até sexta-feira, dia 9, no Instituto de Artes do Pará (IAP), em Nazaré, ao lado da Basílica.
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