domingo, 1 de agosto de 2010

Projeto Escola Brasil da Igualdade orienta para relações etnicorraciais


O PEB (Projeto Escola Brasil) alcançou, em sua terceira edição, mais uma etapa para a construção de uma educação voltada para a diversidade. Professores da rede pública de ensino que atuam desde o ensino infantil até o ensino médio participaram do curso “Educação para as Relações Etnicorraciais”. O curso faz parte da Rede PEB da Igualdade, projeto desenvolvido pelo CEERT em parceria com o Grupo Santander.

O objetivo do curso foi a elaboração de um projeto didático para o professor aplicar na sala de aula. No encontro final do curso, realizado no dia 3 de julho, professores e educadores trocaram experiências de ações desenvolvidas nas escolas a partir do projeto. Foram levantadas algumas das dificuldades encontradas nas escolas para a adoção de uma educação que inclua a promoção das relações etnicorraciais. Por outro lado, os professores foram unânimes ao diagnosticar que a melhor metodologia ainda é a conversa, o diálogo.
Segundo os participantes ainda há muita resistência por parte das escolas na aplicação de metodologias voltadas à discussão das relações raciais. Uma dessas dificuldades é em relação à posição dos gestores, que muitas vezes, coíbem novos métodos. Outro exemplo de resistência enfrentada pelos professores é a religiosa. Ainda é comum confundirem o ensino da cultura com o ensino da religião. É preciso, portanto, ensinar a cultura – o que inclui a religião – de diversas etnias, falar da influência da cultura africana na cultura brasileira sem que isso seja tomado como ensino religioso. Mas isso ainda é visto como entrave, inclusive, pelos pais dos alunos e pelo preconceito existente em relação às religiões de matriz africanas.Essas dificuldades que emergem da escola, da comunidade e da própria intolerância secular a respeito da identidade do negro precisam ser superadas. O Projeto Escola Brasil III ressaltou que essas atividades não dependem da boa vontade dos professores, mas do cumprimento da Lei. A LDB (Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional), alterada pelo artigo 26-A (Lei 10.639/03), garante a inclusão no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade do ensino de “História e Cultura Afro-brasileira”.

Para Daniel Teixeira, advogado do CEERT, a maior parte da resistência encontrada pelos professores existe porque ainda há uma dificuldade em relação ao aspecto legal, ou seja, de aplicar a legislação. Segundo ele, as ações precisam começar dentro da sala de aula, o que torna o professor peça-chave deste processo. “Começa dentro da aula, o professor tem que ter esta atitude”, diz. E as dificuldades devem ser tratadas a partir da legislação em vigor, ou seja, “temos instituições que lidam com o tema e que podem ajudar indo à escola para fazer a discussão. Se a resistência for grave, temos Ministério Público”, completa.

As formas de preconceito nas escolas são muitas, incluem agressões verbais e até físicas. “Quando você começa a trabalhar com isto, você começa a perceber outras diferenças que também influenciam na formação da criança, como a sexualidade”, afirma a pedagoga do CEERT, Carolina Telles Duarte, ao se referir, por exemplo, à inexistência de bonecos negros. Para ela, é preciso um trabalho de retribuição e autoestima dos alunos, com orientações ao grupo, fazendo com que os outros também se reconheçam como afrodescendentes. Para a diretora executiva do CEERT, Cida Bento, “o profissional não trabalha e nem deve trabalhar a questão da criança negra ou da criança branca, mas sim as relações raciais”. É “um trabalho de mudança sobre si e sobre o outro”, diz. Em seu diálogo com os professores, Cida Bento ressaltou a importância de um trabalho pedagógico que visa à mudança sobre si e sobre o outro, além da avaliação permanente e contínua, que dialogue com pais e também com a comunidade. “Eu acho importante, e alguns trabalhos têm feito isso, em algum momento envolver a família, porque a família pode fazer a diferença. A família faz a diferença, mas se a sociedade não mudar (e ela já tem mudado), a gente não consegue estruturar a criança”, completa.O curso contou com uma metodologia semipresencial, modalidade de ensino à distância (EAD), o que não impediu o processo de aprendizado e até surpreendeu pela dinâmica usada. “Não fazia idéia de como seria um curso à distância. Será que vai ter esta interatividade, relação de aprendizagem? Como serão os participantes? Me surpreendi. Foi uma dificuldade, mas também foi um aprendizado, principalmente pela qualidade dos projetos que vieram”, diz Carolina.O curso “Educação para as Relações Etnicorraciais” da Rede PEB da Igualdade, é um projeto desenvolvido pelo CEERT em parceria com a diretoria de Desenvolvimento Sustentável do Grupo Santander – Banco Santander. O curso tem como objetivo principal contribuir para a melhoria da qualidade na educação do ensino público no país e atua a partir de cinco temas: esporte e recreação; arte e cultura; meio ambiente; empreendedorismo e geração de renda e diversidade. Para valorizar a educação para a igualdade, o CEERT promove ainda o Prêmio Educar para a Igualdade Racial.

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