quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Juventude afrocentroamericana se une para enfrentar o racismo na América Central, por meio de jovens líderes

LA CEIBA, HONDURAS - Um dos avanços que têm ocorrido, nos últimos anos, na América Central é a mobilização e participação popular para o desenvolvimento da comunidade afro-centro-americana, e um desses conjuntos de movimentos que tem se empoderado neste sentido, é a juventude afrodescendente. A partir da evidência de características e problemáticas que os atingem, em sua maioria, pela identidade afro, a juventude dos países de Honduras, Nicaraguá, Panamá, Belize, Costa Rica e Guatemala estiveram reunidos durante a realização do VI Encontro da Juventude Afrocentroamericana, na semana de 05 a 08 de agosto, na cidade de La Ceiba, em Honduras. Participaram também do evento, jovens do México e Estados Unidos.

O objetivo do encontro foi discutir as políticas de desenvolvimento da juventude afrocentroamericana no Continente, assim como criar um Plano de Ação de Atuação desses jovens em seus países, a fim de combaterem as desigualdades, ocasionadas pela discriminação racial. A América Central tem uma população de 40 milhões de habitantes, destes, 10% são afrodescendentes, e mesmo após a independência do continente há mais de 200 anos, está população ainda vive em níveis de exclusão, racismo, discriminação racial e em condições socioeconômicas deploráveis. Muitos desses problemas, segundo a Organização de Desenvolvimento Étnico Comunitário (ODECO), são provenientes da falta de vontade política das classes que controlam os estados, a falta de institucionalidade das organizações e comunidades afrocentroamericanas e a falta de lideranças comprometidas com a causa, principalmente a juventude.

Nesse sentido, com o intuito de intensificar a participação da juventude no crescimento das oportunidades e no avanço das lutas da população afrodescendente da América Central, a ODECO tem organizado encontros com a juventude de diversos países do continente, para ampliar a incidência desses jovens contra as mazelas oriundas do racismo.

“A atual situação da nossa população, em especial, da juventude afrocentroamericana, é extremamente de empobrecimento e exclusão política, econômica, social, cultural e ambiental. Dessa forma, é muito importante
construirmos e constituirmos uma união e uma base sólida para enfrentar as desigualdades que nos são inerentes, principalmente na educação” ressaltou o secretário de assuntos para juventude da ODECO, Ovilson Bermúdez.

Juventude afrocentroamericana reunida na sede da ODECO

O encontro, em sua sexta edição, teve como tema principal “Meio Ambiente e as Mudanças Climáticas” e, através dos debates em grupos, buscou fortalecer a capacidade de ação, incidência e participação dos jovens no âmbito cultural, social, ambiental e econômico. Nos quatro dias que os jovens estiveram reunidos foi possível a trocar de ideias e experiências para promover o desenvolvimento e enfrentar a exclusão social, a discriminação racial e a falta de participação juvenil. O evento foi promovido pela Organização Negra Centroamericana (ONECA), ECOSALUD e ODECO.


Ministério para os Indígenas e Afrohodurenhos

A abertura do encontro aconteceu com a presença do presidente de Honduras, Porfirio Lobo Sosa, além da presença de centenas de representantes da sociedade civil, políticos, comunidades e organizações de afrodescendentes, meios de comunicação, agências de cooperação, dentre outros.

Umas das propostas que tem sido articuladas pelas organizações negras de Honduras, país onde foi realizado o encontro e sede da ODECO, é a criação de um Ministério para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas e Afrohondurenhos e Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEDINAPROPIR), com o intuito de que o mesmo atue incisivamente na construção do fortalecimento da identidade negra do país. Durante a abertura do encontro o presidente de Honduras Porfirio Lobo Sosa ratificou um apoio absoluto às propostas dos jovens e com isso anunciou, para janeiro de 2011, a instalação do ministério. “É necessário que cada comunidade étnica e indígena melhore suas condições de vida”, ressaltou Sosa.


Encontro foi inaugurado com a presença do presidente de Honduras

Nas duas semanas que antecederam o encontro, representantes da ONECA e da ODECO vieram ao Brasil visitar a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), a fim de conhecerem o processo de construção e atuação da organização federal, que trabalha com as questões de igualdade racial e
desenvolvimento das comunidades afrodescendentes.

Estiveram presentes também no VI Encontro da Juventude Afrocentroamericana, representantes da Fundação Kellogg, o gerente de programas Rui Mesquita e a consultora Trícia Calmon. Ambos participaram da programação para visualizar a estrutura e a forma de sustentabilidade de organizações que atuam em outros
países, a fim de construírem uma fundação no Brasil que ajude na promoção da equidade racial no nordeste brasileiro. “Como jovem militante brasileira, foi igualmente enriquecedora a experiência, inspiradora a convivência com os outros jovens comprometidos com suas comunidades. Foi uma honra trazer, por fim, um legítimo tambor garífuna para colocá-lo na moradia da nova fundação que deve surgir no Brasil com a força do
movimento negro brasileiro e da diáspora”, destacou Trícia Calmon.


Confira o que os representantes dos países da América Central falaram sobre a juventude afrodescendente de sua região:


BELIZE

Marlon Melendrez, do Conselho Nacional Garífuna

“Os jovens, em Belize, estão atuando, através de um grupo no Conselho Nacional Garifuna, lá temos debatidos os problemas que nos atinge, em principal, o problema racial, e procurando meios e alternativas de tornar a juventude mais atenta às essas questões. Atualmente, o maior problema que temos enfrentado lá, é com
relação à terra, pois é neste espaço, que nós a juventude garífuna*, temos para nos reunirmos, constituirmos família, trabalharmos, dentre outros aspectos”.

*Garífuna é uma etnia da América Central, que possui mais de 200 anos, formada por uma junção de
indíos e negros, vindos da Nigéria.


GUATEMALA

Marta Castillo, da Associação de Mulheres Garífunas de Guatemala (ASOMUGAGUA)

“A juventude afrodescendente tem problemas que são universais aos jovens afrocentroamericanos, que são a falta de oportunidades no mercado de trabalho, que gera o desemprego, e principalmente a falta de jovens negros nas universidades. Na Guatemala, são pouquissimos os jovens que conseguem ingressar no ensino
superior, isto ocorre, por que a maioria não possui uma educação de qualidade, e muitos trabalham quase que o dia inteiro e não tem como manter-se na universidade. Atualmente, temos trabalhado para conquistar bolsas e politicas publicas que permitam a inserção desses jovens nesse espaço”.


HONDURAS

Annaete Tifre, da Organização de Desenvolvimento Étnico Comunitário (ODECO)

“Estamos unidos para fortalecer a juventude afrohondurenha e afrocentroamericana, através da participação da juventude, reinvidicando nossos direitos e combatendo os nossos problemas. Acredito que nós podemos, através da união dessa juventude e das experiências dos jovens de cada paises, construir uma política de incidência que nos favoreça. Atualmente, a maior problemática que temos em Honduras é a pouca participação dos jovens dentro das universidades, além do pouco acesso, os jovens não tem como se manter nas universidades e por isso estamos, através da Odeco, buscamos bolsas para que esses jovens possam estudar e permanecer dentro das universidades”.


ESTADOS UNIDOS

Dinorah Palacios, da Hondureños Contra el Sida, em Nova York

“A juventude negra afrocentroamericana que vive nos EUA tem enfrentado um grande problema que é a assimilição da cultura norteamericana sob a cultura de nossos ancestrais. Na minha organização, temos trabalhado, através de programas de incentivos, para resgatar e preservar a cultura garífuna entre os jovens. Muito deles, às vezes não sabem nem falar espanhol, com isso estamos lutando para manter viva nossas tradições, costumes e cultura entre a juventude”.


COSTA RICA

Marshel Jackson, de la Juventud Afrocostaricense


“É importante encontros, como este, que possibilitam a união entre jovens de vários paises da América Central para compartilharmos nossos problemas e buscarmos soluções. Um dos grandes problemas dos jovens da Costa Rica é com relação ao desemprego e a falta de acesso dos jovens às universidades. Esses espaços que para nós são caracterizados como espaços de incidência, dos quais a juventude afrocostaricense deve atuar, tem pouca participação dos jovens, devido à falta de políticas de ações afirmativas. Está é a segunda vez que
participo desse encontro e percebi o quanto os jovens têm se unido constantemente para combater as desigualdades que nos atingem, seja no trabalho, na saúde, na educação e em diversos outros âmbitos”.


PANAMÁ

Marlon Jackman, da SAMAAP e ONECA

“Esta é a quarta vez que participo deste encontro e a cada ano percebo a importância da juventude afrocentroamericana estar reunida e conectada em prol dos nossos direitos, para darmos seguimentos a cada Plano de Ação que tiramos a cada ano. A apartir desses encontros tenho crescido politicamente e quando retorno a meu país, procuro mobilizar mais jovens a entrarem nessa causa também, para perceberem a importância da união da juventude. A juventude afrodescendente do Panamá estar criando uma plataforma para entregar ao governo que contemple as nossas demandas, com o intuito de garantir oportunidades para essa juventude em diversos âmbitos, que nos tem sido excluido”.


MÉXICO

Armando Serrano, da ODECA

“As pessoas pensam que no México não existe negros, existe sim, tanto que estou aqui para comprovar isso. E assim como em outros países da América Central, sofremos com os mesmo problemas, como a discriminação racial, que atinge principalmente a juventude afrodescendente, que não tem oportunidades no trabalho e na educação. Nosso projeto é fazer com que a comunidade e a juventude afromexicana se una para melhorar a sua situação no país, que nos exclui em diversos setores, é uma exclusão tão perversa, que nos nega enquanto mexicanos”.



Texto e fotos: Juliana Dias, jornalista do Portal Correio Nagô

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