Retirado do O Globo.
Todo mundo já sabe, mas vale outra notícias sobre a UFRJ.
Publicada em 20/08/2010
O Globo
RIO - Depois de quatro horas de reunião, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiu destinar 20% das suas 8 mil vagas anuais para alunos de escolas públicas da rede estadual e municipal. A medida vale para o processo de seleção de 2011 e exclui colégios federais, universitários, militares e de aplicação. Não há previsão de cotas para negros e índios.
O Conselho Universtário (Consuni) decidiu ainda que 40% do total de vagas serão preenchidas por meio do vestibular tradicional e os outros 40% pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), avaliação feita do Ministério da Educação. Para entrar por cotas, o critério de seleção também será o Sisu.
Embora tenha sido considerada um avanço, a medida não incorporou cotas para negros e índios, como defendiam estudantes e servidores da universidade. Além desses, apenas dois professores votaram a favor da reserva de vagas para esses grupos.
Durante a reunião, ao rebater as críticas de que o percentual de 20% era tímido diante do quadro atual (32% dos alunos da universidade são da rede pública) e recusar a proposta de ampliar para 35% a reserva de vagas, o reitor Aloisio Teixeira disse que a decisão valerá apenas para 2011 e que "certamente serão discutidas coisas mais generosas para 2012".
Ao se posicionar contra as cotas raciais, o reitor reforçou que uma parte da comunidade acadêmica não era a favor da medida, já adotada em outras instituições. Na Uerj, o primeiro vestibular com recorte racial foi feito em 2003.
O representante do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, professor Marcelo Paixão, que defendeu a reserva de vagas para negros e índios, disse que as decisões da UFRJ já eram esperadas. Para ele, diante do "conservadorismo", 20% de cotas para rede pública são "um passo".
- Não considero uma vitória, mas uma chance de recolocar esse debate futuramente - disse.
Sobre as cotas etnorraciais, Paixão disse que os professores têm "resistência" em entender que os negros sofrem discriminação racial. Num dos momentos mais aplaudidos, ele falou sobre a história dos negros no Brasil e citou o abolicionista Joaquim Nabuco:
- Não basta acabar com a escravidão. É preciso destruir sua obra - citou.
A pró-reitora de Extensão da universidade, Laura Tavares, atenuou a rejeição das cotas raciais, afirmando que negros e índios serão contemplados indiretamente com a reserva criada para escolas públicas.
No Consuni também circulou uma "carta" assinada por 30 professores - entre eles, Eduardo Viveiros de Castro, Otávio Velho e Heloisa Buarque de Hollanda - defendendo as cotas sociais e raciais. "É preciso considerar os perfis dos estudantes, em vez de seguir camuflando a realidade com discursos sobre mérito, como se o conceito não fosse problemático e como se fosse possível comparar méritos de pessoas de condição social e trajetórias totalmente díspares", diz o documento.
Cerca de 100 estudantes do ensino médio acompanharam a reunião do Consuni. "Te cuida, te cuida playboyzada, a universidade vai ser universalizada" e "O filho do pedreiro vai virar doutor", gritaram, em alguns momentos. Eles também estenderam uma faixa pedindo 50% de cotas, com apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata.
Mesmo com as principais propostas derrotadas, o DCE considerou que saiu vitorioso.
- Achamos que 20% não eram suficientes. Defendemos 50%, depois 35%, mas o que foi aprovado é um avanço rumo à popularização da UFRJ - afirmou a representante da entidade, Clara Saraiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário