Nesta semana, onde se comemora o dia
internacional de combate ao racismo - um gesto poderia ser dado ao povo
baiano e divulgar ao mundo o que faz o Governo baiano sobre as
desigualdades raciais na Bahia. Vivemos o paradoxo de um Estado
hegemonizado pela forte presença da civilização africana e seus
descendentes, mas que encontra uma dificuldade em pautar de forma aberta e franca um debate que pode servir como um modelo de desenvolvimento para o país.
O
Estatuto da Bahia é um enigma. A maioria nem o menciona, ou discute,
não concorda, nem discorda, muito pelo contrário. Enquanto comemoramos
os 10 anos da SEPPIR - SECRETARIA ESPECIAL DE POLITICAS DE IGUALDADE
RACIAL e da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação, o
Estatuto Estadual mofa há 08 anos em sua lenta tramitação na Assembleia
Legislativa da Bahia.
O Estatuto, caso aprovado, influirá na
agenda de desenvolvimento do Estado, através dos polos de
desenvolvimento regionais, encontradiço no recorte de territórios de
identidade e impulsionado pelo governo Wagner. O PAC baiano (Programa de
Aceleração do Crescimento) atrelado a uma aprovação legislativa de
conteúdo equitativo surtirá um efeito abrangente sobre as leituras das
desigualdades baiana. Esta ação política poderá soerguer a Bahia como
fonte de riquezas civilizatórias multiculturais, caudatárias de trocas
simbólicas e materiais que sirvam de exemplo ao restante do país.
Defendo
a tese de que o Estado da Bahia ganhará com a aprovação do Estatuto da
Bahia. Terá realizado na velha tradição social democrata dos
Mangabeiras, renovado com o discurso republicanizado da nova esquerda,
uma lição de história no velho autonomismo baiano e que fará no estilo
comunitarista americano o projeto das nações. Contudo, aqui, tudo parece
muito reticente e o movimento negro conta com oposição esquizofrênica
de muitos intelectuais que já ganharam muito dinheiro com a baianidade
nagô e não gostam desse negócio de protagonismo de negros e de religião
africana.
Os vultosos recursos do deleite harmonioso de
camarotes multi-étnicos e diálogos inter-religiosos em que se joga sal e
enxofre nos candomblés da Bahia e bentifica a todos, podem estar em
risco. Aprovar um Estatuto desta natureza na Bahia pode significar
perder o tema do “turismo étnico” que sobrevoa as agências de viagens e
do “carnaval da alegria”, mas pode também significar riqueza e
democracia para maioria da população baiana. Quem sabe na Copa ...
Sérgio São Bernardo
Advogado, Mestre em direito, Professor da Uneb, Conselheiro da OAB-Bahia.
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