sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MANIFESTO DA JUVENTUDE NEGRA DO AMAPÁ

Repassando o ocorrido durante a realização da II Conferência Municipal
de Juventude de Macapá, que aconteceu na última sexta-feira, na escola
municipal Antônio Barbosa....

Escurecendo as ideias: O Quilombo se Rebela!
O processo de diálogo entre o poder público e sociedade civil tem sido
potencializado consideravelmente nos últimos anos no Brasil. Este
exercício de democracia sugere um novo comportamento entre estes
entes, que por sua vez, tendem a amadurecer o principio da cidadania
no que se refere à aplicabilidade das politicas públicas.
Nesta perspectiva, faz-se necessário estabelecer mecanismos de
fortalecimento deste diálogo. Uma destas ferramentas são as
conferências que nos últimos anos têm se tornado uma alternativa
viável na busca de um caminho de discussão mais igualitário entre a
sociedade e o poder público, que mesmo sem ter um retorno que muita
das vezes não é garantido, tem feito seu papel na construção do
processo.
Com a ampliação das discussões com base nos debates de ideias a
sociedade já tem conseguido protagonizar uma mudança ainda que lenta
no cenário político-social do nosso país. Na verdade, os novos atores
desse processo tem se destacado no cenário nacional como construtores
de um processo democrático que fornece informações importantes para a
construção de politicas publicas eficazes para todos!
E nesse cenário, a juventude negra e quilombola têm “tomado de
assalto” o papel que lhe foi por séculos furtado, e numa grande força
tem sido protagonista de sua própria história e delegado rumos de uma
sociedade com equidade e menos injusta, nos remontando assim, o
sentido do socialismo/comunismo na lógica da afro-diáspora, isto é,
uma sociedade livre da opressão e das disparidades, e equilibrada
econômico e socialmente como nossos ancestrais quilombolas sempre nos
ensinaram.
É a partir desta análise que vemos que as conferências de juventude
favorecem um palco de debate significativo para a verdadeira
construção da cidadania, desde que em sua regulamentação toda
juventude possa estar inserida. A politica para cada ser humano é uma
constante construção e nesse sentido, despertar no jovem este
interesse é um passo para que no futuro tenhamos cidadãos que
realmente “se vejam” e se “compreendam” dentro de um contexto social
democrático.
Por outro lado, do que adianta chamar a juventude para discutir
politicas públicas se quem o faz ainda é incapaz de compreender que
democracia igualitária vai muito além de ideologia politico
partidária! O que uma sociedade quer em geral é comum para todos, uma
vez que todos queremos educação de qualidade, saúde, segurança,
moradia digna, lazer, cultura, emprego... O que realmente nós faz
diferentes uns dos outros?
Lembramos que o ano de 2011 foi instituído pela Organização das Nações
Unidas (ONU), como Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, da
Juventude e das Florestas e, sendo assim, torna-se bastante pertinente
discutirmos a temática de etnia e cor, juventude e a comunidades que
habitam nas florestas (Povos Tradicionais) em todos os espaços de
debate da nossa conjuntura. E neste ano, em que a juventude brasileira
se mobiliza para sua 2ª Conferência Nacional, que tem como tema
principal “Juventude, Desenvolvimento e Efetivação de Direitos” -
“Conquistar direitos, desenvolver o Brasil”. Isto é, tem como foco
“direitos e participação” duas palavrinhas de fácil entendimento porem
difícil ainda de pôr em prática principalmente por “representantes” de
juventude partidária que tentam agir como se estivéssemos no
legislativo que através de articulações e acordos por detrás das
cortinas... Burlando todos os direitos e a participação legitima de
uma juventude que se auto representa e não a interesses de terceiros.
Percebendo tal postura entendemos que os nossos direitos de
participação neste processo foram gravemente violados. Portanto, a
juventude negra e quilombola vêm, por meio deste informe, repugnar
tais fatos que demonstram a prática deplorável, viciada e eurocêntrica
destes agrupamentos e exigir a garantia de nossa participação e,
consequentemente, a efetivação de delegados (as) negros (as) e
quilombolas na II Conferência Estadual de Juventude, uma vez que os
afrodescendentes representam mais de 70% da população do estado,
segundo dados do IBGE (2010).

É com esse sentimento que nos dirigimos à Coordenadoria Municipal de
Juventude, responsável pela II Conferencia Municipal de Juventude de
Macapá, como em pleno mundo Pós-moderno com uma luta histórica contra
o racismo e a segregação racial é possível que a juventude negra, de
comunidade quilombola e tradicional possam ser tratadas como meros
expectadores de um processo construtivo democrático como o que se
propõem a mesma. O modo como a juventude do Quilombo do Mel da
Pedreira, Maruanum, Torrão do Matapi, Rosa, Curiaú, Porto do Abacate,
São Pedro dos Bois foram tratadas nessa conferencia, nos remete a
reflexão a respeito de como esses processos vem sendo conduzidos, as
comunidades não podem e não devem ser penalizadas pela impregnação da
politica partidária que durante a conferência foi visível por parte de
seus organizadores, principalmente aqueles que vão bem fundo...
ofendendo... deixando claro o que pensa à respeito de “preto” não é
possível que possamos conviver com tanta intolerância!!! Ou melhor,
com uma chuva tão grande de ignorância.
Para se construir uma politica igualitária que contemple a juventude
devemos avaliar como são as atitudes dos “jovens” que já estão na
discussão politica, os partidos políticos, devem buscar formar essa
juventude de um modo mais “social”, durante a II Conferencia
Municipal de Macapá constatou-se a prevalência de um palco de
discussão de agrupamentos juvenis partidários e de reboque alguns
jovens da área urbana, que ignoraram a participação da juventude de
quilombo e comunidade tradicionais, mesmo sendo maioria e vindo de
mais longe que todos os demais... Viram-se obrigados à retirarem-se da
plenária, pois a Coordenação Municipal, ciente do regimento,
reuniram-se e tentaram através de manobras politicas impor o numero
de vagas para a eleição dos delegados das comunidades, foram capazes
de ir contra o bom-senso, a própria plenária que neste caso era
soberana!! E mais uma vez, vimos nossos negros e negras saírem de um
espaço público de discussão por não aceitarem um “jogo de cartas
marcadas”.
É importante frisar que mesmo nós, pretas e pretos atuando em
distintos espaços como agremiações partidárias, sindicatos,
agrupamentos político-culturais, entre outros, temos algo que nos
unifica e nos congrega em torno de nossos anseios, isto é, o
afrocentrismo é a cor da nossa bandeira de luta, é o que nos motiva e,
acima de tudo é o que alimenta nossos sonhos. 4P (Poder Para o Povo
Preto)!!!!
Atenção!!! Politica deve ser levada a sério desde cedo e não
aceitaremos que atitudes como essas voltem a acontecer, a juventude
que se fortifica hoje dentro das comunidades são frutos de um processo
histórico de exclusão, entretanto, essa mesma exclusão está nos unindo
e fazendo com que nossa juventude tome decisões coletivas reafirmando
que quando a formação tem como base a força de resistência agregada a
coletividade...ai, pode ter certeza! Sempre passaremos a ser maioria
nas conferências e demais ações que virão. A rebelião do quilombo
ocorrida durante a II Conferência Municipal de Juventude de Macapá é,
portanto, um ato político da juventude negra que compreende o seu
papel enquanto agente de transformação social.
Embora estejamos no final de 2011, não foi tarde em que Zumbis e
Dandaras se rebelaram, pois que fique o alerta o quilombo é aqui!

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