sexta-feira, 20 de maio de 2011

MEC rejeitou parecer do CNE contra ‘Caçadas de Pedrinho’, acusado de racista

Demétrio Weber

BRASÍLIA - Após rejeitar parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) contrário à distribuição do livro “Caçadas de Pedrinho”, do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), acusado de racismo, o Ministério da Educação (MEC) distribuirá a professores da rede pública um manual sobre como lidar com o tema em sala de aula. O texto reconhece a presença de elementos racistas na obra de Lobato, mas argumenta que o preconceito está inserido num contexto histórico e que obras literárias não devem ser sujeitas a censura, cabendo aos professores fazer a mediação.
A Coleção Explorando o Ensino trata de 20 áreas do conhecimento e já está disponível na página da Secretaria de Educação Básica do MEC (www.mec.gov.br). Com 200 páginas, o volume dedicado à língua portuguesa no ensino fundamental destina as últimas 11 páginas à abordagem de preconceitos e estereótipos nas atividades de leitura. Lobato é um dos autores citados.
“Certamente, devemos reconhecer, nessas e outras criações do escritor paulista, reflexos evidentes de uma cultura em que o lugar do negro é subalterno, herdeiro direto de uma ordem escravocrata. Podemos inferir de suas obras, ainda, preconceitos e formas de discriminação facilmente atribuíveis a esse momento de nossa História e à nossa cultura. Entretanto, dizer que os livros infantis de Lobato são preconceituosos e recusá-los ou censurar passagens, em nome do combate ao preconceito, é esquecer que são ficções e que seus personagens e situação formam um mundo à parte”, diz o texto.
O volume faz referência à personagem negra Tia Nastácia. “Não é possível esquecer que a personagem de Nastácia inscreveu definitivamente o negro no imaginário de crianças e adultos de uma cultura letrada e urbana que preferiria ignorá-lo”, diz o texto.
Em outro trecho, afirma que a simples presença de Tia Nastácia na trama do Sítio do Pica-Pau Amarelo seria um elemento contra o preconceito. “Tia Nastácia reflete tanto o preconceito do branco letrado das classes médias urbanas contra o negro de camadas populares quanto uma tentativa de combater esse mesmo preconceito pela via ficcional do protagonismo.”
O MEC devolveu ao conselho o parecer aprovado no ano passado, com pedido de revisão. O conselho ainda não voltou a analisar o texto.

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