segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Movimento negro lança partido político

Henrique, coordenador da ideia do partido afrobrasileiro 

Um novo partido poderá passar a fazer parte da constelação política brasileira. Trata-se do Partido Nacional AfroBrasileiro (PNAB) cujo lançamento vai marcar a passagem do Dia da Consciência Negra na região Oeste.

O objetivo precípuo do PNAB é promover a participação de negros e afrodescendentes na política brasileira, conforme reza o estatuto do partido. O lançamento nacional será em ações articuladas no dia 20 em Itapevi, Jandira e Carapicuíba.
O partido é, segundo seus proponentes, uma proposta de âmbito nacional que está sendo trabalhada por lideranças negras nos estado da Bahia, Rio Grande do Sul, Maranhão, São Paulo e Rio de Janeiro, a partir do trabalho que é feito em Itapevi pela Associação Nacional do Turismo Afro Brasileiro (Antab) e do Circuito Internacional do Afro Negócio (Cian).
As duas instituições estão sediadas no município e atuam no desenvolvimento de ações e projetos focados para a valorização da população negra brasileira, cooperação comercial e industrial com os países africanos e na promoção do turismo e afronegócio no segmento afro.
Em 3 de outubro a vice-consulesa de Angola em São Paulo, Alice Mendonça e o presidente da Antab e do Cian, Francisco Henrique Silvino, idealizador da proposta de criação do partido e coordenador nacional do programa, realizou o lançamento de dois programas voltados para a população negra da região, sendo um deles o programa “Empreendedor Popular” que terá dentre as matérias do curso que será realizado para formação de empreendedores de forma cooperada, a questão da formação política.
“O PNAB quer ser uma referência da população negra brasileira, que hoje representa mais da metade do povo brasileiro, tendo ainda a abertura para a participação de todos que vejam na proposta do partido uma oportunidade para compartilhar das mudanças que se fazem necessárias na política brasileira, sem qualquer restrição étnica ou religiosa”, disse Henrique.
O coordenador adiantou que já há um abaixo-assinado nas redes sociais buscando assinaturas e adesão para a legalização do partido.

 


Zumbi 317 anos‏


Veja uma fascinante foto de um olho com seus mínimos detalhes

A foto acima é meio apavorante, não é? Ver o olho humano com tantos detalhes nos faz pensar que tem algo de muito “esquisito” com ele.
Mas essa aparência é devida a complexidade desse órgão da visão. São músculos, nervos, veias sanguíneas, fibras, etc, que se ligam para permitir a rotação do globo ocular e a focalização das imagens.
O interior do olho é preenchido por um fluido que, juntamente com a camada de tecido externa, mantém sua forma arredondada, protegendo o olho contra forças mecânicas exteriores.
Da mesma forma, uma membrana mais externa ainda, denominada de conjuntiva, recobre a superfície interior das pálpebras e a superfície anterior do globo ocular, produzindo muco para lubrificação, evitando o ressecamento do olho.

Como enxergamos

O nervo óptico, composto por um conglomerado de fibras nervosas que nascem na retina, [é o responsável pela conexão entre o globo ocular e o sistema nervoso central.
Ele capta as informações através dos cones e bastonetes presentes na retina, que são estimulados pela luz projetada em objetos.
As informações visuais são então enviadas ao lóbulo occipital do cérebro para processá-las, gerando resultados de cor, forma, tamanho, distância e noções de espaço, formando, assim, a imagem que vemos.
Curiosamente, as imagens que se projetam dentro do nosso olho são invertidas – estão de cabeça para baixo. O cérebro faz a inversão da imagem, colocando-a na posição correta e nos dando a sensação que estão na posição normal.
A imagem é sempre formada no fundo do olho, região conhecida genericamente como "retina". A necessidade de usar lentes de óculos, sendo assim, é determinada pela inexatidão com que esta imagem é formada na retina. Por exemplo, nos casos em que a imagem, ou o encontro focal, acontece fora da fóvea central, vemos a imagem borrada ou desfocada. Isso pode ser corrigido com lentes dióptricas, que compensam tais deficiências visuais para que possamos obter uma imagem limpa.[TerritorioMotor, IG, LaboratorioRigor, SoFisica]

IV Congresso Latino-Americano de Agroecologia

 

 
 


Intensificação da agricultura familiar para a segurança alimentar e Mudanças Climáticas
A Sociedade Científica Latino-Americana de Agroecologia (SOCLA) e a Universidade Nacional Agraria La Molina (UNALM) anunciam o IV Congresso Latino-Americano de Agroecologia, a ser realizado nas cidades de Cusco e Lima, de 17 a 21 de setembro de 2013. Saiba mais sobre o evento clicando aqui.

 



Rio Grande do Sul recebe Congresso Brasileiro de Agroecologia em 2013

A 8ª edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia será realizada no Rio Grande do Sul em 2013. A decisão foi anunciada nesta quinta-feira (29) pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA). A candidatura do estado a ser sede do evento teve a coordenação da Emater e contou com o apoio de diversas instituições ligadas à Agroecologia.
Para o diretor técnico da Emater, Gervásio Paulus, esse é um momento especial em que o evento retorna ao Estado onde foi criado.
- Teremos muito trabalho e responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, teremos muita disposição para construir uma programação de forma participativa com as diversas entidades governamentais e não-governamentais - destacou Paulus.
O Congresso Brasileiro de Agroecologia tem como objetivo oportunizar a reunião de profissionais, estudantes e agricultores do Brasil e do exterior para o intercâmbio de conhecimentos e experiências com enfoque agroecológico.
A última edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia (VII CBA) foi realizada na cidade de Fortaleza, no Ceará, em 2011.
* Com informações da Emater

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Impedir a periferia de ter pensamento próprio é racismo, diz escritor Mia Couto

São Paulo – O escritor moçambicano Mia Couto disse, em São Paulo, que impedir a população mais pobre de pensar por si mesma é uma prática racista. “Acredita-se que a periferia pode dar futebolista, cantor, dançarino. Mas, poeta? No sentido que o poeta não produz só uma arte, mas pensamento? Isso acho que é o grande racismo, a grande maneira de excluir o outro. É dizer: o outro pode produzir o que quiser, até o bonito. Mas, pensamento próprio, isso não”.
O escritor, que já recebeu diversos prêmios, como o da União Latina de Literaturas Românicas, visitou ontem (7) o sarau da Cooperifa. O evento é realizado toda quarta-feira no Bar do Zé Batidão, na região do Jardim Ângela, zona sul paulistana. Nessas reuniões, que ocorrem há 11 anos, crianças, adolescentes e adultos se revezam ao microfone para recitar poesia.
“É uma coisa nova que me acontece no Brasil, estar em um lugar como este”, disse ao começar o bate-papo com a plateia que lotou a laje do bar para ouvi-lo. Couto já esteve no país em várias ocasiões, mas só na noite de ontem satisfez a vontade de conhecer a periferia de uma grande cidade.
“Faltava-me essa experiência”, ressaltou. “Eu queria visitar a periferia de uma cidade brasileira pela mão de amigos, pela mão de gente da periferia”, acrescentou o autor que também se sente procedente de um lugar periférico.“Sou filho de portugueses que migraram nos anos 1950 para uma pequena cidade. Moçambique já é uma periferia. Eu sou da periferia da periferia, porque é uma cidade pequena”.
A identificação com a periferia da zona sul de São Paulo também está, segundo Couto, na resistência à condição de invisibilidade. Para ele, os moçambicanos têm buscado força para dizer: “queremos permanecer, queremos ser parte do mundo, queremos ser parte de um universo que não é sempre periferia”.
Na visão do autor, o processo é semelhante ao que ocorre com o projeto da Cooperifa que, além de fomentar a criação literária, busca formar público para a cultura produzida na região. “Eu vi aqui um pensamento que está muito vivo e que está contaminando, fazendo acontecer coisas”, destacou o escritor que admite ser fortemente influenciado pela cultura brasileira.
“Vocês não podem imaginar a importância de pessoas como Jorge Amado, por exemplo, nessa vontade de dizer: afinal, podemos falar dos nossos próprios assuntos. Afinal, o negro e o mulato podem ser personagens. Afinal, as nossas coisas têm valor”, disse, ao comentar como a literatura brasileira ajudou na formação das gerações das décadas de 1950 e 1960 em seu país.
Não só os autores brasileiros ajudaram na formação de Mia Couto, mas músicos como Chico Buarque e Caetano Veloso. “Sempre se pensa que um autor literário é influenciado por outros. E, às vezes, não é só. Eu fui muito tocado pela música brasileira”. Ele lembrou que tem um leque muito amplo de influências musicais, incluindo o sambista paulista Adoniran Barbosa.
Como morava em uma antiga casa colonial, contou que na juventude havia pressão para a demolição desse tipo de imóvel e a construção de edifícios mais modernos. “Lá em casa havia esse medo, que não era pronunciado, de que viesse qualquer coisa que nos levasse a isso. E essa canção do Adoniran Barbosa [Saudosa Maloca] era uma espécie de hino. Porque aquela demolição não era só de um edifício, era a demolição de um passado, de um lugar onde fomos felizes”.
Couto destacou que também encontra a África fortemente enraizada na alma dos brasileiros. “O brasileiro tem uma alma mestiça e conseguiu essa mestiçagem naquilo que era mais difícil, no componente religioso. As religiões africanas conseguiram se infiltrar nesse meio mais íntimo, naquilo que é mais fundo da nossa alma.
Mia Couto estudou medicina, formou-se em biologia, mas adotou o jornalismo depois da queda da ditadura em Portugal, em 1975, e engajou-se na guerra de libertação de Moçambique. É um dos autores do Hino Nacional moçambicano, adotado em 2002. Terra Sonâmbula, seu primeiro romance, de 1992, foi considerado um dos 12 melhores livros africanos do século 20 por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbábue.

Com Lula

Antes de participar do evento da Cooperifa, Mia Couto esteve com  O ex-presidente Lula.O escritor está no Brasil também para promover o lançamento do seu livro “A confissão da leoa”. Lula, Mia Couto e Luiz Schwarcz, da editora Companhia das Letras, conversaram sobre as relações entre Brasil e África.
Segundo o Instituto Cidadania, Lula disse ao moçambicano que dois grandes objetivos do seu governo foram fazer com que as pessoas voltassem a se interessar pela África e deixassem de ter preconceito com os países da América Latina.
Lula ainda recomendou que Mia conheça a Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira).

Luta dos Guarani-Kaiowá chega à Justiça e ganha projeção internacional

Protesto de estudantes em frente ao STF em favor dos Guarani-Kaiowa no fim de outubro
Nas últimas duas semanas, o Brasil incorporou no vocabulário o nome do povo Guarani-Kaiowá. “É Kaiowá, ou tem som de ‘ua’?”, perguntaram centenas de pessoas nas redes sociais, numa curiosidade recém nascida sobre o povo indígena. Após uma carta interpretada como uma ameaça de suicídio coletivo, milhares de pessoas aderiram a causa, militando nas ruas ou na internet, para chamar a atenção para o drama dos 170 índios da comunidade Pyelito kue/Mbrakay, que reivindicam um pedaço de terra de dois hectares de extensão, numa fazenda de 700 hectares.
A luta dessa etnia não é um fato isolado. Só em 2011 foram registrados, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 56 conflitos fundiários no país envolvendo índios em 16 estados. São disputas que ocorreram em áreas demarcadas e fora delas. Os dados referentes a este ano ainda estão em fase de consolidação.
A luta dos Guarani, dividida nas etnias Kaiowá e Ñandevá, vem ocorrendo nas terras férteis do Mato Grosso do Sul e envolve 45 mil indígenas, dos quais 15 mil deles vivem à beira das estradas no estado. O grito de guerra dos Guarani-Kaiowá foi tão alto e causou tamanha comoção, dentro e fora do Brasil, que, em tempo recorde, a desembargadora Cecília Mello, da 3ª Região do Tribunal Regional Federal do MS, decretou, no final da última semana, à permanência dos índios na fazenda Cambará, no município de Tacuru, a 462 km de Campo Grande. A desocupação vinha sendo reivindicada pelos fazendeiros locais. O governo, por sua vez, montou uma força-tarefa. Também no final da última semana, a secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniram-se com as lideranças dos Guarani-Kaiowá. Da reunião saíram várias decisões: 1. envio da Força Nacional, 2. seis lideranças indígenas ameaças passaram a ficar sob a proteção do Estado e 3. a Polícia Federal manterá reforço policial à área.
O Mato Grosso do Sul virou o palco desse drama. A pujança do seu crescimento econômico contrasta com a miséria dos índios. No ano passado, o estado registrou o maior crescimento de área plantada de cana-de-açúcar do país. Os canaviais ocupam 650 mil hectares, que renderam, na última safra, R$ 1,9 bilhão, o equivalente a 4,8% da produção nacional. Outros dois milhões de hectares são plantados com grãos. O estado é hoje o quarto maior produtor nacional de algodão e o quinto de soja. A própria Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu a existência do conflito fundiário na área.
Em meio a briga, aumentou a pressão para a conclusão de um relatório completo sobre a situação dos Guarani, os Kaiowá e os Ñandevá. Seis grupos técnicos de identificação e delimitação de terra estão trabalhando para entregar o documento ao governo até meados de 2013. Antropólogos contratados pela Funai estão debruçados sobre dados oficiais, mas reclamam de dificuldades no trabalho de campo. É que, segundo o antropólogo Rubem Almeida, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trabalha com ambas as etnias no Mato Grosso do Sul desde 1976, alguns fazendeiros não estão deixando os pesquisadores entrarem nas fazendas para pesquisa encomendada pela Funai.
“Não vai haver decisão antes de esses relatórios ficarem prontos, por isso estamos correndo com esse processo. A opinião pública está se dando conta do problema agora, e é ótimo. Mas o que está sendo visto, com a história dessa família que escreveu a carta, é a ponta de lança. O conflito começou em 1978, e se agravou nos anos 90. A Justiça tem sido de uma imprudência assustadora”, afirmou Almeida.
O litígio está longe de terminar e vai além dos Guarani-Kaiowá. As terras indígenas ocupam, pelos cálculos da Funai, 12,5% do território brasileiro: 98,47% estão na Amazônia e 1,53% no resto do país.
Enquanto o relatório encomendado pelo Funai não fica pronto, um grupo de latifundiários da região se uniu. Eles mantêm a posição de que as terras indígenas no país, de um modo geral, devem ser demarcadas na área de 200 milhões de hectares pertencentes à União e não em territórios produtivos, ou seja, nas fazendas.
Os fazendeiros querem também que, em caso de expropriação, recebam indenização não apenas pelas benfeitorias, mas também pelo valor da terra, o que não está previsto. Além disso, numa tentativa de amenizar os conflitos e sob pressão da sociedade, o grupo lançará na próxima semana uma pesquisa sobre o assunto. Segundo a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD, do Tocantins), o estudo feito pelo órgão mostrará outras mazelas que atingem os índios, que vão, segundo ela, muito além da questão fundiária.
A pesquisa incluirá dados sobre saúde, alternativas econômicas, educação, entre outros pontos. A senadora garante que o objetivo não é desviar do conflito de terras que está em voga por causa da carta escrita pelos Guarani-Kaiowa, mas ampliar a discussão:
“Debitar todas as agruras dos índios à falta de terras é hipocrisia. O erro não é dos fazendeiros, mas do Estado, da Funai. Será que um pedaço de terra que não vem é o único problema deles”, disse a senadora.
Kátia Abreu afirmou ainda que, além de dados sobre problemas enfrentados pelos índios, a CNA lançará um conjunto de propostas, para que os fazendeiros trabalhem em parceria com os povos indígenas. Segundo ela, o plano incluirá oficinas de técnicas de produção agrícola sustentável, sem uso de transgênicos ou agrotóxicos – ao contrário do que a maioria dos produtores rurais aplica no território brasileiro.
“A luta dos fazendeiros não é contra os povos indígenas, mas contra a expropriação com pagamento apenas de benfeitorias. Se quiserem desapropriar, que paguem um preço justo. Por que não fazem as reservas em terras devolutas do Incra? Por que tem que ser dentro de área de produtor rural? O direito não é só dos índios, é também dos brancos, dos negros. Só não podemos perder o comportamento civilizado. Temos que buscar a Justiça, jamais reforçaremos a violência contra os índios”, disse a senadora, que já esteve na região, em outros momentos, para conter brigas entre fazendeiros e índios.
Funai reconhece gravidade
Nádia Silveira, assessora da presidência da Funai e especialista na questão Guarani-Kaiowá, afirma que a situação de conflito no Mato Grosso do Sul está na pauta de prioridades do governo Federal desde 2008. “A situação é tensa na maioria das aldeias. Mesmo onde não há litígio com fazendeiros, as reservas estão superpovoadas , o que gera conflitos entre eles” afirma.
Ela reconhece que os indígenas acampados à beira de estradas ou em terras onde há litígio não conseguem produzir e que nem sempre as cestas básicas chegam até eles.
“A cesta não garante comida todo dia. A distribuição é uma ação emergencial, que foi prevista como complementar. O grande problema é a falta de acesso à terra”, diz Nádia, admitindo que há o atraso das ações da Funai à “judicialização dos processos administrativos”. Segundo a assessora, está ainda em fase de estudo a ampliação de acesso a programas sociais do governo federal, como o Bolsa-Família, mas que ele é dificultado pela falta de engajamento do estado e municípios.
O Brasil tem 817,9 pessoas que se declaram índios e 517,4 mil delas vivem em terras indígenas. O conflito entre os indígenas e os grandes agricultores locais pode ser, segundo o Centro Missionário Indigenista (Cimi), traduzido em números: 101 índios foram assassinados e 48 foram ameaçados de morte entre 2010 e 2011. Isso sem falar no fato de que muitas crianças falecem por desnutrição. A população indígena no Mato Grosso do Sul soma 73.295 indígenas, dos quais 52% são crianças ou jovens de até 24 anos.
As terras demarcadas para os Guarani-Kaiowá e Ñandevá somam 42.267 hectares. Desde 2008, quando a Funai decidiu demarcar e recuperar para os índios territórios no Mato Grosso do Sul, a situação se tornou mais tensa. Até então, muitos indígenas eram empregados de fazendas. O corte de cana-de-açúcar chegou a empregar 15 mil deles. Eles recebiam R$ 0,07 centavos por metro corrido colhido. Agora, nem isso. O setor mecanizou 93% da colheita e 72% do plantio. Além de sem-terra, os índios estão sem emprego.
“Agora quem faz tudo é a máquina. Não querem mais índios. Só falta plantarem cana dentro do rio”, desabafa Ava Taperendy, um dos integrantes do conselho Aty Guasu, que reúne líderes indígenas do estado.
Marcha para o Oeste
Sem trabalho e sem ter onde ficar, grupos que foram retirados de suas terras de origem começaram a retornar e a ocupá-las. Eles tentam reverter uma história que começou no início do século XX, entre 1914 e 1928, quando foram criadas oito reservas indígenas, sem que os próprios interessados fossem consultados. O critério de criação seguia a ideia de integração dos índios à cultura branca, e punha-os próximos a cidades.
A partir do Estado Novo (1937-45) de Getúlio Vargas, iniciou-se a ocupação pelos brancos da terra dos Guarani-Kaiowá. Os conflitos começaram e as demarcações foram suspensas, já que o objetivo do governo Federal era liberar as terras para os colonos que chegavam, no que se chamou de “A Grande Marcha para o Oeste”. No período da ditadura militar, a colonização do Mato Grosso do Sul se intensificou. Um grande número de sulistas, principalmente gaúchos, migrou para o território e iniciou sua produção na terra dos índios. Isso fez com que eles ficassem amontoados. Segundo dados do Museu Nacional, as reservas Guaranis no Mato Grosso do Sul hoje estão superlotadas. Na Terra Indígena – ou Tekoha, em guarani – de Dourados, por exemplo, são cerca de 13 mil indivíduos morando em 3,5 mil hectares, o que, segundo o modelo de ocupação dos índios, é sufocante.
A cultura do suicídio
Em terras que ainda estão aguardando decisão judicial, a situação é similar. Em Guyra Roka, cuja terra foi identificada com 11,4 mil hectares, os índios só estão conseguindo ocupar 60 deles. Por isso, estão tentando retomar seus territórios originais. O caso dos 170 índios que causaram a polêmica do momento, é uma situação dessas. O fazendeiro entrou com reintegração de posse aceita pelo juiz – e revogada semana passada. A situação deles ainda não figura nas tabelas da Funai, mas o levantamento antropológico já foi feito. O órgão deve publicar em breve o relatório, reconhecendo que o local é uma Terra Indígena, o que ajudará o trabalho do Ministério Público Federal.O Brasil só voltou os olhos para o problema no último dia 8 de outubro, quando a carta assinada por 50 mulheres, 50 homens e 70 crianças ganhou a internet e passou a circular pelo mundo. “Pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo, expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui”, dizia o trecho da carta que causou mais polêmica. Um possível suicídio coletivo gerou controvérsia e muitas dúvidas.
Para entender o significado da carta, Tonico Benites é um personagem central. Ele é Guarani-Kaiowá, mora no município de Tacuru, e foi um dos idealizadores do movimento. Concluindo seu doutorado Antropologia no Museu Nacional, ele passou boa parte da vida vivendo na estrada, junto com a família. Seus pais sentiram na pele a chegada das máquinas no campo e, depois de décadas de trabalho para um fazendeiro, foram expulsos de terras onde seus ancestrais haviam vivido. “Se estamos falando de suicídio coletivo? Não é um anúncio, mas é sim uma morte lenta. Eu já pensei em morrer, várias vezes. E a maioria dos meus familiares também. Na nossa cultura, se uma família é posta para viver em um lugar onde não há vínculo histórico, onde não se sente bem, a vida não faz mais sentido. O branco chama isso de suicídio, para nós é a perda de esperança”, explicou Benites.
Os rituais dos Guarani passam necessariamente pela terra. É no local onde seus parentes mortos viveram que eles acreditam poder se comunicar com os antepassados. E essa sensação de pertencimento à terra faz com que muitos deles, por se sentirem sem perspectivas e sem apoio, acabam virando alcoólatras.  Outros preferem o suicídio. Em 2011 foram registrados 45 casos de suicídio entre indígenas no país, segundo o Ministério da Saúde. Pelo menos 13 deles eram Guarani-Kaiowá.
O Ministério Público Federal no MS atua em 141 processos que envolvem os Guaranis-Kaiowá. Todos esses processos são relativos à demarcação de terras, danos morais coletivos, crimes contra a vida, racismo e genocídio. As ações judiciais tramitam na Justiça Federal de Dourados, Naviraí e Ponta Porã. Nos últimos dez anos, apenas dois mil hectares de terras indígenas foram ocupadas integralmente pelos Guarani-Kaiowá.
Já os proprietários de terra da região reforçam a ideia de que o conflito não é fundiário, mas social. Eduardo Riedel, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), atribui a responsabilidade da situação ao governo federal.
“É lamentável. Somos solidários à penúria. Há um abandono do Poder Público e os índios não têm onde ficar”, disse. Riedel afirma que há um contraponto constitucional: de um lado, o direito dos índios, de outro, o direito à propriedade. De acordo com ele, todas as terras em litígio são legalizadas e o conflito com os índios envolve pequenos produtores rurais, a maioria inseguros e temerosos de ter de sair de suas terras a qualquer momento. Para a Famasul, o melhor jeito de resolver o problema é o governo federal se comprometer a pagar pelas terras que queira devolver aos índios, e não expropriá-las. O próprio estado do Mato Grosso do Sul criou este ano um fundo destinado a indenizar produtores que percam suas terras a favor dos índios.
Mas a regularização das terras é um calcanhar de aquiles para o setor agrícola do estado. Com base num levantamento do Incra, o Ministério Público Federal no estado investiga propriedades em 60 dos 78 municípios, com suspeitas de falsificação de documentos – a conhecida grilagem. O motivo é que a área declarada de propriedades em cartório supera o tamanho dos territórios municipais, o que dá uma dimensão do tamanho e da quantidade de possíveis títulos irregulares. Ladário, por exemplo, tem 34 mil hectares, mas no cartório seus 159 imóveis rurais têm 422,3 hectares – 12 vezes mais. As propriedades acima de mil hectares representam 10% do total, mas ocupam 77% da área.
Clima de tensão
É este o contexto que vem inflamando o conflito fundiário na região. Para o engenheiro agrônomo Marcelo Gusmão, que trabalhou na Funai até o início de 2011 fazendo relatórios em áreas reivindicadas pelos Guarani-Kaiowá, a situação se agrava, mesmo sob conhecimento de órgãos públicos. “O clima na região atualmente é de extermínio. Trata-se de uma política velada no Mato Grosso do Sul. E é essa situação que leva ao assassinato ou ao suicídio dos índios”, disse Gusmão.
O conflito entre brasileiros índios e não-índios também é fato no Sul da Bahia. Foram 12 embates no ano passado, sete deles em fazendas de Ilhéus, área de plantação de cacau. Na região de Porto Seguro 16 aldeias e seus 119 índios se conflitam com donos de hotéis e pousadas. No Maranhão, onde as terras indígenas já são regularizadas, elas foram ilhas de pobreza e os índios vivem constantemente ameaçados por invasores, que retiram as árvores à luz do sol, com caminhões que cruzam as aldeias. Na divisa com o Pará, até plantadores de maconha se instalaram nas terras do Alto Turiaçu, sem que os índios possam reagir. Motoqueiros armados cuidam das plantações. Na terra indígena (TI) Alto Rio Guamá, de 279 mil ha, os Tembé tiveram 60% do território invadido e o problema vem de longa data: a terra indígena foi reconhecida na década de 1940 e homologada em 1993.
O Brasil possui cerca de 110 milhões de hectares de reservas indígenas, espalhadas em cerca de 650 unidades. As maiores e mais bem preservadas estão na Amazônia. No Sul e Sudeste do país, eles vivem em espaços pequenos, onde não conseguem plantar. Em Avaré, no interior de São Paulo, um hotel fazenda os emprega e deixa que eles se apresentem a turistas e vendam colares ao fim das danças para ganhar alguns trocados. Dos índios do Mato Grosso do Sul, 43% vivem com até 1/4 de um salário mínimo por mês. Quase 30% declaram renda entre meio e um salário mínimo e mais de 10 mil deles não têm rendimento algum. Não passam de 1.150 os que ganham mais do que um salário mínimo.- O problema é amplamente conhecido pelo governo. O que acontece aqui é uma grave crise humanitária. Há processos de reconhecimento de terras indígenas que já estão completando 30 anos sem sequer serem julgados – afirma Flávio Vicente Machado, conselheiro do Cimi no Mato Grosso do Sul.
Roberto Hollanda, presidente da Associação dos Produtores de Bionergia do Estado do Mato Grosso do Sul (Biosul), afirma que é uma injustiça responsabilizar o produtor rural pela situação dos índios. Segundo ele, não mais do que 0,5% das terras arrendadas para plantio pelas usinas tem algum tipo de litígio e, mesmo sendo poucas, elas serão descredenciadas. Hoje, o Mato Grosso do Sul tem 22 usinas de cana-de-açúcar em operação. “Não acredito na competição por terra. Estamos trazendo mais receitas para o estado e interiorizando o desenvolvimento. Nosso setor cumpre a lei e não ocupa terra indígena. Não precisa. Mas a situação é muito feia e nossa forma de contribuir é gerar renda”, diz Hollanda, acrescentando que o setor, que cresce 10% ao ano, não faz distinção de raça ou cor ao contratar funcionários.
Riedel acusa as ONGs de fomentar os conflitos, de oferecer ônibus para ajudar os índios a chegarem nos locais a serem invadidos, e levar para o estado índios que estão até no Paraguai. “É preciso uma decisão de governo. Não se pode manter esta estratégia de conflitos. O Estado precisa agir, sob pena de algum grupo ficar em extrema fragilidade”, afirma.
O final do conflito depende de muitas decisões judiciais que ainda demandarão tempo, mas os Kaiowá já ganharam pelo menos milhares de adeptos da causa. Entre os ícones do movimento que começou na internet e se espalhou como um vírus na rede está o documentário: “À sombra de um delírio verde”, que mostra o problema fundiário e as mazelas enfrentadas pelos índios, como a desnutrição infantil nas aldeias e as rotinas exaustivas daqueles que ainda trabalham em canaviais. O filme virou febre no Facebook e em outras redes sociais, desde o final de outubro, quando os Kaiowá passaram a ser centro das atenções no país.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1315493&tit=Luta-dos-guaranis-kaiowas-chega-a-Justica-e-ganha-projecao-internacional

Programa para mulheres negras será lançado pelo governo em 2013

São Paulo – O governo federal anunciou que em 2013 será lançado um programa de políticas públicas para mulheres negras. Em setembro foram realizadas oficinas com mulheres negras de movimentos sociais e representantes do governo para estabelecer um plano de ação específico. A representante da Secretaria de Política de Promoção de Igualdade Racial da Presidência da República Eunice Léa de Moraes explica que o plano terá três eixos.
“O primeiro é o empoderamento da organização de mulheres negras, o segundo é o combate ao racismo e ao sexismo, e o terceiro é ‘comunicação para a igualdade’ para reverter o estereótipo negativo das mulheres negras na mídia”, disse, em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Jurema Werneck, da organização não governamental Criola, afirma que não há políticas públicas para essa população.
Segundo ela, é preciso desnaturalizar o racismo para que ocorra a criação destas políticas. “Os diferenciais na educação e no mercado de trabalho que observamos nos dados são vistos como naturais, precisamos desnaturalizar essa situação”, afirma. “Apesar dos nossos esforços para aumentar a escolaridade da população de mulheres negras, não há na política de educação iniciativas que nos possibilitem potencializar s
esforços. E isso é reflexo do racismo na educação.”
A maioria das mulheres negras são, em sua maioria, trabalhadoras domésticas, lembra Juliana. “Mesmo que tenham a escolaridade relativamente alta, as mulheres negras são as que ganham menos, são sempre injustiçadas e exploradas recebendo menos do que merecem.” Embora seja determinado por lei que tenham a carteira assinada, a maior parte delas ainda está na informalidade. Isso significa a falta de acesso a uma série de direitos, como o INSS, a licença maternidade e o seguro-desemprego.

Clube da Inglaterra bane torcedor de 13 anos por racismo

Um garoto de 13 anos foi banido do Estádio do Milwall, time da segunda divisão do Campeonato Inglês, após admitir ter usado insultos racistas durante uma discussão com Marvin Sordell, do Bolton, em um jogo entre as duas equipes no New Den.
Há um mês, houve denúncias de racismo dirigidas ao atacante, que representou a Grã-Bretanha na Olimpíada. Após investigações, ficou provado que o garoto de 13 anos havia sido o autor de insultos racistas ao jogador e o Millwall imediatamente anunciou que o jovem torcedor estava banido.
Ao contrário de Gavin Kirkham, torcedor do Chelsea que fez gestos de racismo em direção a um jogador do Manchester United, o garoto não será punido para sempre, principalmente por conta da sua idade. O Millwall convidou o jovem torcedor a entrar em um programa educacional.
Além disso, o garoto tomou a iniciativa de escrever uma carta a Sordell pedindo desculpas pelos seus atos, aceita prontamente pelo jogador, que após acusá-lo recebeu muitas ameaças pela internet.
Campeonatos europeus ao vivo
Terra exibe ao vivo via internet para o Brasil todas as partidas da Liga Europa nas temporadas de 2012/2013, 2013/2014 e 2014/2015, sendo o único meio de comunicação do País a transmitir ao vivo os 205 jogos da competição. As transmissões são disponibilizadas em alta definição (HD) e padrão standard, inclusive para tablets e smartphones.

Surto de febre amarela já matou 67 em Dafur, alerta OMS

O surto de febre amarela na região sudanesa de Darfur já matou 67 pessoas, informou hoje (7) a Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório apresentado também demonstra que o surto atinge agora 17 localidades na região, com 194 casos relatados, mais que o dobro do início do mês passado, quando a epidemia começou.
De acordo com a OMS, estima-se que 200 mil casos de febre amarela — doença causada por um vírus transmitido por mosquitos — sejam registrados no mundo a cada ano, com até 30 mil mortes. Não há tratamento específico para a doença e a vacinação é a medida mais importante para a prevenção.
Além de monitorar a doença em todo Darfur, a OMS está treinando cerca de 220 profissionais de saúde na região sobre a vigilância de doenças, gestão de casos e prevenção e controle de infecção.
A agência de saúde da ONU também está trabalhando com o Ministério da Saúde do Sudão para enviar equipes técnicas para ajudar a conter o surto através da realização de pesquisas sobre novos casos, reunião com líderes comunitários locais para aumentar a conscientização sobre a doença, bem como apoiar no fornecimento de suprimentos de banco de sangue e com equipamentos de proteção para as áreas afetadas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A QUESTÃO AGRÍCOLA NA RIO+20


Jean Marc von der Weid*


A segunda conferência internacional sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, mais conhecida como Rio+20 deverá tratar de 27 eixos considerados fundamentais para que o mundo possa enfrentar os desafios de promover um desenvolvimento sustentável sem destruir o meio ambiente ou esgotar os recursos naturais renováveis. Destes eixos, onze tem relação com a agricultura: segurança alimentar, agricultura e desenvolvimento rural, mudança climática, água, energia, oceanos e zonas costeiras, biodiversidade, florestas, desertificação, pesca e aqüicultura e erradicação da pobreza. O documento base da conferência, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) faz uma análise bastante limitada sobre estas correlações e não dá à agricultura o lugar central que deveria ocupar no debate, além de abster-se de constatar os problemas provocados pelo modelo de desenvolvimento agrícola dominante no mundo, conhecido como agricultura industrial.

A agricultura, entendida no sentido amplo adotado pela FAO, inclui os cultivos temporários ou perenes, a pecuária, a pesca/aqüicultura e a exploração florestal. A correlação da agricultura com os dois primeiro eixos citados acima carece de demonstração mas é preciso lembrar que a agricultura é o maior fator de perda de biodiversidade, de destruição florestal e de desertificação em todo o mundo. Ela também é o maior consumidor de água potável (70%) além de ser o principal agente de contaminação de rios, lagos e aqüíferos. A contaminação química provocada pelo uso de adubos químicos e agrotóxicos também é um fator importante na destruição do meio ambiente nas zonas costeiras, em particular na foz dos rios onde cria imensas áreas chamadas de desertos marinhos afetando também a pesca. A agricultura tem forte relação com a questão da produção de combustíveis (álcool e biodiesel em tempos mais recentes e carvão e lenha desde muito tempo). Do ponto de vista das mudanças climáticas a agricultura é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), mais do que a queima de combustíveis nos transportes. Se combinarmos este efeito direto com as emissões provocadas pelo desflorestamento (em grande parte provocado pela expansão das áreas agrícolas) e outras emissões ocorridas em outras etapas da cadeia alimentar, chegamos acerca de 50% de emissões de GEE. Finalmente, é preciso lembrar que a agricultura concentra a maior parte da população em extrema pobreza no mundo e que não existe modelo de desenvolvimento urbano nos tempos modernos capaz de absorver este contingente.

Outros temas da conferência têm relação indireta com a agricultura. A questão da saúde, por exemplo, tem a ver com o modelo alimentar derivado da agricultura industrial e que tem provocado verdadeiras pandemias de obesidade, diabetes e problemas cardíacos, além do envenenamento por agrotóxicos e dos efeitos deletérios provocados pelo consumo de hormônios e antibióticos amplamente empregados na moderna criação animal.

A agricultura industrial tem outros efeitos negativos sobre os recursos naturais renováveis como os solos. Desde a segunda guerra mundial aproximadamente 2 bilhões de hectares de solos potencialmente agricultáveis no mundo já foram degradados, mais de 22% de toda a área disponível para cultivos, pastagens e florestas. A degradação química dos solos devido às praticas agrícolas é responsável por 40% das perdas nas áreas cultivadas.

Este modelo agrícola tem outro calcanhar de Aquiles, a sua dependência de recursos naturais não renováveis como petróleo, gás, fosfatos e potássio. A exaustão das reservas mundiais de petróleo já se faz sentir nos custos crescentes deste combustível. As reservas de gás têm previsão de alcançar seu pico de produção em 2025. As de fósforo já passaram por este pico e as de potássio devem alcançá-lo em mais 20 anos. Os custos de produção no modelo da agricultura industrial, alem das perdas das áreas cultiváveis, deverão trazer de volta o fantasma da fome endêmica em escala não vista desde o início do século vinte. Na atualidade, o mundo produz comida suficiente para alimentar os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta e a existência de mais de um bilhão de famintos se deve a problemas de pobreza e não de disponibilidade, mas no futuro próximo haverá carência absoluta de alimentos se o presente modelo produtivo não for radicalmente alterado.

Frente a este quadro de crise profunda que pode levar a terríveis problemas sociais e instabilidade política em muitos países um grupo de entidades da sociedade civil elaborou uma proposta para a Rio+20 intitulada “Tempo de Agir”. O documento disponível no site http://aspta.org.br/category/documentos/) aponta para um novo modelo de agricultura baseado na produção familiar empregando as práticas da agroecologia.

A agroecologia é definida como o manejo integrado dos recursos naturais (solo, água e biodiversidade) sem uso de insumos externos industriais. Este tipo de sistema de produção busca imitar os ecossistemas naturais de tal forma que eles se caracterizam por um ato grau de diversidade. São policulturas integradas com criações animais e com a vegetação natural. Este grau de diversidade permite que operem uma série de interações positivas entre os vários componentes do sistema e resulta em produtividades totais mais elevadas do que em qualquer monocultivo no sistema agroindustrial.

A agroecologia é econômica no uso de água e de energia e, além de não emitir GEEs, promove uma forte absorção de carbono. O sistema não tem efeitos contaminantes para águas, solos, produtores e consumidores e promove uma dieta saudável. Os críticos mal informados sobre estes sistemas dizem que suas produtividades são baixas e que adotar a agroecologia obrigaria a aumentar a área cultivada e, portanto, aumentar o desmatamento. Pesquisas da FAO, da Univesidade de Essex e da Academia de Ciências dos estados Unidos, para citar apenas alguns estudos, indicam que os sistemas agroecológicos têm índices de produtividade comparáveis aos convencionais e que os preços superiores cobrados pelos produtos vendidos como orgânicos não se devem a custos de produção superiores ou produtividades inferiores, mas a uma relação de oferta e demanda do mercado e aos custos de comercialização dos orgânicos. Ambas as questões podem ser resolvidas como o aumento da produção agroecológica (orgânica), garantindo uma oferta de produtos de qualidade a preços mais baixos.

A questão mais importante a ser notada na produção agroecológica é a sua demanda de conhecimentos técnicos e de mão de obra. Diz-se que a agroecologia é “knowledge intensive” enquanto a agricultura industrial é “input intensive”. A questão do conhecimento na agroecologia deriva do fato da sua busca de grande diversificação na estratégia de mimetizar os sistemas naturais. Isto implica na necessidade de se procurar um desenho produtivo específico para cada propriedade e isto não se faz sem métodos de pesquisa que integrem o agricultor como experimentador. A questão da mão de obra não é apenas relativa às limitações de uma mecanização dos sistemas produtivos quando os mesmos são muito diversificados, mas à exigência de cuidados e informação que limita a eficiência do trabalho assalariado. Tudo isto resulta no fato de que a agroecologia opera em condições ideais em sistemas produtivos da agricultura familiar de pequena escala.

Para países como os Estados Unidos onde o emprego agrícola é inferior a 4% do emprego total e que tem menos de dois milhões de agricultores familiares adotar a agroecologia seria (será) dramático, pois necessitarão de gerar uma nova classe de camponeses quando o conjunto das crises acima referidas destruir a sua agricultura convencional. No Brasil, apesar dos descaminhos de uma reforma agrária sempre feita à “meia boca” ainda temos perto de 4,5 milhões de agricultores familiares e potencial para mais 10 milhões capazes de adotar a agroecologia como forma de produção. Isto poderá acontecer de forma dramática pela mera força das crises que assolam a humanidade ou de forma controlada e suave se as necessárias políticas públicas forem adotadas. Dado o gravíssimo problema de pobreza mundial e nacional o fato de que os sistemas agroecológicos sejam demandadores de mão de obra não é um problema mas uma solução pois vão permitir que um enorme contingente de excluídos venha a integrar-se na sociedade de forma produtiva e não assistencial.

Dada a total falta de compromisso dos governos da maior parte do mundo com as exigências de mudanças drásticas na forma como o mundo produz, consome e se relaciona com a natureza, não podemos esperar muito da Rio+20 mas o que os signatários do manifesto “Time to Act” pretendem é despertar a opinião pública e continuar um embate nos planos internacional e nacionais após a conferencia.






* Coordenador do Programa de Políticas Públicas da AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar.

IV Congreso Latinoamericano de Agroecología, del 17 al 21 del septiembre 2013 en Lima, Peru

Colegas les envio el primer anuncio del IV Congreso Latinoamericano de Agroecología que se realizara del 17 al 21 de septiembre del 2013 en Lima Peru. La organización esta a cargo de un grupo encabezado por colegas de la Universidad Nacional Agraria La Molina. Saludos cordiales, Miguel A. Altieri Presidente SOCLA

ANA Detalhamento de algumas aes prioritárias PNAPO.doc

Este documento contém o detalhamento de algumas das propostas de ações prioritárias para a Política Nacional de Agroecologia e de Produção Orgânica (PNAPO), formuladas no processo de debate realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). A partir do Seminário Nacional sobre a PNAPO, realizado em Luziânia, em abril de 2012, foi elaborado e encaminhado ao Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) o documento “Propostas da Articulação Nacional de Agroecologia para a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica”, contendo propostas de diretrizes, objetivos e um conjunto maior de ações prioritárias, assim como as premissas político-estratégicas da ANA, que referenciaram sua mobilização para a elaboração das proposições à política.

Transgênicos aumentam em até três vezes ocorrência de câncer em ratos

Pela primeira vez na história foi realizado um estudo completo e de longo prazo para avaliar o efeito que um transgênico e um agrotóxico podem provocar sobre a saúde pública. Os resultados são alarmantes.
O transgênico testado foi o milho NK603, tolerante à aplicação do herbicida Roundup (característica presente em mais de 80% dos transgênicos alimentícios plantados no mundo), e o agrotóxico avaliado foi o próprio Roundup, o herbicida mais utilizado no planeta – ambos de propriedade da Monsanto. O milho em questão foi autorizado no Brasil em 2008 e está amplamente disseminado nas lavouras e alimentos industrializados, e o Roundup é também largamente utilizado em lavouras brasileiras, sobretudo as transgênicas.
O estudo foi realizado ao longo de 2 anos com 200 ratos de laboratório, nos quais foram avaliados mais de 100 parâmetros. Eles foram alimentados de três maneiras distintas: apenas com milho NK603, com milho NK603 tratado com Roundup e com milho não modificado geneticamente tratado com Roundup. As doses de milho transgênico (a partir de 11%) e de glifosato (0,1 ppb na água) utilizadas na dieta dos animais foram equivalentes àquelas a que está exposta a população norte-americana em sua alimentação cotidiana.
Os resultados revelam uma mortalidade mais alta e frequente quando se consome esses dois produtos, com efeitos hormonais não lineares e relacionados ao sexo. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais.
O estudo, realizado pela equipe do professor Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França, foi publicado ontem (19/09) em uma das mais importantes revistas científicas internacionais de toxicologia alimentar, a Food and Chemical Toxicology.

Segundo reportagem da AFP, Séralini afirmou que "O primeiro rato macho alimentado com OGM morreu um ano antes do rato indicador (que não se alimentou com OGM), enquanto a primeira fêmea, oito meses antes. No 17º mês foram observados cinco vezes mais machos mortos alimentados com 11% de milho (OGM)", explica o cientista. Os tumores aparecem nos machos até 600 dias antes de surgirem nos ratos indicadores (na pele e nos rins). No caso das fêmeas (tumores nas glândulas mamárias), aparecem, em média, 94 dias antes naquelas alimentadas com transgênicos.
O artigo da Food and Chemical Toxicology mostra imagens de ratos com tumores maiores do que bolas de pingue-pongue. As fotos também podem ser vistas em algumas das reportagens citadas ao final deste texto.
Séralini também explicou à AFP que "Com uma pequena dose de Roundup, que corresponde à quantidade que se pode encontrar na Bretanha (norte da França) durante a época em que se espalha este produto, são observados 2,5 vezes mais tumores mamários do que é normal".
De acordo com Séralini, os efeitos do milho NK603 só haviam sido analisados até agora em períodos de até três meses. No Brasil, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autoriza o plantio, a comercialização e o consumo de produtos transgênicos com base em estudos de curto prazo, apresentados pelas próprias empresas demandantes do registro.
O pesquisador informou ainda que esta é a primeira vez que o herbicida Roundup foi analisado em longo prazo. Até agora, somente seu princípio ativo (sem seus coadjuvantes) havia sido analisado durante mais de seis meses.
Um dado importante sobre esse estudo é que os pesquisadores trabalharam quase que na clandestinidade. Temendo a reação das empresas multinacionais sementeiras, suas mensagens eram criptografadas e não se falava ao telefone sobre o assunto. As sementes de milho, que são patenteadas, foram adquiridas através de uma escola agrícola canadense, plantadas, e o milho colhido foi então “importado” pelo porto francês de Le Havre para a fabricação dos croquetes que seriam servidos aos ratos.
A história e os resultados desse experimento foram descritos em um livro, de autoria do próprio Séralini, que será publicado na França em 26 de setembro sob o título “Tous Cobayes !” (Todos Cobaias!). Simultaneamente, será lançado um documentário, adaptado a partir do livro e dirigido por Jean-Paul Jaud.
Esse estudo coloca um fim à dúvida sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para a saúde da população e revela, de forma chocante, a frouxidão das agências sanitárias e de biossegurança em várias partes do mundo responsáveis pela avaliação e autorização desses produtos.
Com informações de:
Etude unique, la plus longue et la plus détaillée sur la toxicité d'un OGM et du principal pesticide – CRIIGEN, 19/09/2012.
EXCLUSIF. Oui, les OGM sont des poisons ! – Le Novel Observateur, 19/09/2012.
Estudo revela toxicidade alarmante dos transgênicos para os ratos -
AFP, 19/09/2012.
Transgênicos matam mais e causam até três vezes mais câncer em ratos, diz estudo – UOL, 19/09/2012.
Referência do artigo:
"Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize". Food and Chemical Toxicology, Séralini G.E. et al. 2012.
(*) Matéria reproduzida do boletim 601 da campanha Por um Brasil Ecológico, Livre de Trasngênicos e Agrotóxicos. Foto: Reprodução.

Modelo de desenvolvimento para um campo justo, saudável e soberano

agroecologia 
Agroecologia é uma ciência, mas essa palavra também é utilizada para designar o sistema de produção sustentável praticado pelos camponeses. Como Ciência, estuda a relação entre as plantas, as pessoas e o meio ambiente, e surgiu como fruto da união do conhecimento dos camponeses com a pesquisa científica formando um novo jeito de ver o mundo.
Dela surgiram técnicas para produzir alimentos que mantém a produtividade da terra através do respeito em relação à natureza. Diversos nomes são dados aos estilos de agricultura sustentável, como: Agroecologia, Agricultura Orgânica, Biológica, Biodinâmica, Ecológica, Natural, Permacultura, etc. Nesses modelos utiliza-se de métodos bioecológicos como a compostagem, defensivos naturais, rotação de culturas e a diversidade de plantas no mesmo local entre outros.
Dentro desses modelos novos de produção, muito importante é manter uma paisagem diversificada e equilibrada onde cada planta, árvore, cada pássaro, o pomar, a horta, a lavoura e a capineira sejam como órgãos de um corpo: um depende do outro e a saúde de um é a saúde de todo o conjunto, incluindo o homem.
O solo produtivo é vivo e cheio de grumos (pelote de terra igual esterco de minhoca só que menor). Quando na mão, esfarela facilmente e cai igual quirera. Seu cheiro exala um frescor agradável como a úmida de um solo de floresta. Quando esse solo e revolvido, não cai em torrões, mas bem solto. A água da chuva entra rapidamente e não escorre e nem empoça. Tem muitas raízes que penetram profundamente. As plantas são fortes e sadias. Elas tem a capacidade de resistir ao ataque de insetos e se defendem bem das ameaças de doenças, bem como da falta de chuva.
Um solo cansado, pobre e assim, consequentemente morto, tem uma crosta na sua superfície, levanta poeira quando é trabalhado, e formam-se torrões na superfície. As raízes entram muito pouco ou pouco e custam a crescer; muitas vezes forquilham ou viram para o lado. A terra cheira a mofo ou não possui cheiro algum.
O solo exposto ao sol e à chuva se degrada rápido, pois aquece muito, chegando até a 76ºC quando a temperatura ideal deve ser de entre 18 a 26ºC dificultando assim, o desenvolvimento da planta, produzindo menos e a uma produção cada vez mais cara. O segredo da exuberância nativa tropical é
o clima quente e úmido e a terra fresca, coberta de folhas.
Seguindo-se os pilares da produção agroecológica, teremos sim, condições de produzir sem um
grama de veneno, mais que isso, gerar renda para os camponeses e alimentar não seis bilhões de pessoas, mas doze, isso mesmo meu amigo, doze milhões de pessoas!

Veja o vídeo Fazendo Agroecologia

Para saber mais:
- Por que a agroecologia é a solução à fome e à soberania alimentar?
- Los pecados de la agroecología según el capital
Agroecologia Acontece - veja o mapa das experiências de agroecologia no Brasil:
- www.agroecologiaemrede.org.br

Veja mais:Agroecologically efficient agricultural systems for smallholder farmers: contributions to food sovereignty
Um novo lugar para a agricultura
- Agroecossistemas

Aspta boletim-492-02-de-junho-de-2010
- Aspta boletim-389-18-de-abril-de-2007
- Aspta boletim-366-19-de-outubro-de-2007