A identidade do Campo faz parte da vida de Raquel Graciela Gomes da Silva e de outras milhares de estudantes que têm na educação o caminho para se fortalecerem como sujeitos de fundamentos. Aos três anos de idade, a garota nascida em Pedra Preta (MT), foi morar com os avós camponeses e lá conheceu a cultura da terra, por meio das plantações de arroz e feijão.
Mulher, agricultora e estudante
A identidade do Campo faz parte da vida de Raquel Graciela Gomes da Silva e de outras milhares de estudantes que têm na educação o caminho para se fortalecerem como sujeitos de fundamentos. Aos três anos de idade, a garota nascida em Pedra Preta (MT), foi morar com os avós camponeses e lá conheceu a cultura da terra, por meio das plantações de arroz e feijão. Antes mesmo de aprender a ler e escrever ouvia do avô, analfabeto, a lição de como tirar da terra o próprio sustento. A máxima fortaleceu na criança a importância da terra como espaço de cultivo da sobrevivência, das amizades, dos relacionamentos, conflitos, lazer.
A escola formal, o ensino regular, entrou na vida da menina aos sete anos, numa escola urbana, na cidade de Diamantino, para onde se mudaram. A rotina escolar foi abrupta para então sitiante. Acordar cedo para as tarefas de casa, às 11h30 aguardar o ônibus para chegar na escola duas horas depois. Fim de tarde e quatro horas diárias dentro do veículo escolar somado a dificuldade de percurso até o sitio do avô , fez com que aos 11 anos chegasse a quarta série do Fundamental. “Quando meu avô não me esperava no ponto, percorria quilômetros sozinha no escuro, até chegar em casa”, relata.
“Deixei de estudar nessa época, quando minha avó faleceu e voltei para a cidade para morar com minha mãe”. Conforme ela foram anos afastada das salas de aula e longe do campo. “Tinha que trabalhar e não tinha tempo para estudar na cidade”, conta. Aos 15 anos, volta para o campo, casa, e da continuidade ao trabalho do avô, que durante os anos havia expandido as práticas da agricultura familiar, com a criação de gado leiteiro e criação de porcos e galinha.
Segundo ela, o retorno foi uma busca da qualidade de vida, com a tranqüilidade do campo e garantia de sobrevivência. Apesar da pouca idade, Raquel, dois anos depois tem a primeira filha. Foi diante dessa nova realidade -, mulher, mãe e agricultora - que aparece a oportunidade de retomar os estudos. “Os estudos oferecidos aos finais de semana e com incentivo financeiro do governo federal foi uma grande oportunidade”, diz.
Raquel estuda numa escola estadual que desenvolve o Pro - Jovem Campo, no município de Diamantino, a partir da Pedagogia da Alternância (currículo dirigido, respeitando a vivência do estudante, parte repassado em sala de aula - sábados e domingos -, e outra parte com o deslocamento do professor para a região de trabalho e moradia do aluno).
Para Raquel, bem como para outras mulheres entre 18 e 29 anos que integram a primeira turma de ensino fundamental do Pró-Jovem, a retomada aos estudos foi uma descoberta. “Passei a interagir mais com as pessoas, desenvolvi potenciais que desconhecia”, revela a sindicalista rural, membro do Sindicato da Agricultura Familiar de Diamantino .
“Hoje, diferente do que foi para o meu avô, as pessoas do campo sabem o que querem, o que precisam e não são levadas pelo desejo alheio”. Raquel e outras 16 mulheres, de uma turma de 18 estudantes, se formam no Ensino Fundamental, em abril de 2011. Planeja continuar os estudos com o ensino médio, e sonha com o ingresso no curso superior, na área de biologia.
ROSELI RIECHELMANN
Assessoria/Seduc-MT.
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