quarta-feira, 9 de março de 2011

ESCRAVATURA E MUSICA : A CHAMPETA COLOMBIANA E UMA SEMBA

ESCRAVATURA E MUSICA

A CHAMPETA COLOMBIANA E UMA SEMBA

E a interessante revelação que nos fez, calmamente, sobre este ritmo -dança de sucesso, hoje bem codificado no mundo da world music, a activista afro - colombiana, Josefa Maria Hernandez Cabarcas, num aparte que tivemos, no quadro da nossa participação, há dias, em Cartagena de Índias, no Encontro Ibero – americano sobre a Agenda Afro descendente nas Américas e Caraíbas.

Esforçaremos, na presente abordagem, no intuito de analisar esta novidade, esclarecer a origem e o significado da palavra semba, as características da nova expressão dançante que saiu dos “barrios” a dominante melano – africana da aglomeração do setentrião da antiga “Nueva Grenada” e apreciaremos a sua simetria com o bailado embarcado dos cais de “Angole”.
A informação dada pela esta originaria do celebre San Basilio de Palenque e, histórica e antropologicamente, sintomática.
Com efeito, esta indica o povoamento forcado maioritariamente bantu desta velha cidade que se desenvolveu a partir das intensas actividades do seu estratégico e grande porto mercantilista e esclavagista e a notável perpetuação das expressões coreográficas vindas de África central e austral.
A palavra e de origem bantu e significa “tocar com muito carinho” ou “dar um forte abraço”.
E, naturalmente, o termo aplicou-se a uma dança lasciva, que se perpetuou, notavelmente, em quase todas comunidades melano – africanas de ascendência de terras dos “Homens”, instaladas no continente americano e no conjunto insular caribenho.
No Brasil, território extra-muros, bem bantu, o termo foi conservado para designar uma exibição sensual; enquanto nas outras áreas do além – Atlântico, como no estuário do Rio de la Plata, aponta mais para um toque de aproximação com uma parceira.
Como na vizinha federação, o quadro coreográfico afro - colombiano apresenta bem um género chamado samba.
Na realidade, uma análise das variantes danças recreativas afro – colombianas permite afirmar que todas apresentam um perfil voluptuoso.
E a principal impressão que retemos do espectáculo da “Escuela Taller Tambores de Cabildo” e do desencadeamento musical e coreográfico que se estalou na Monte Maria, numa temperatura bem tropical, pela ocasião da cerimonia de assinatura da Declaração Final dos trabalhos do “Encuentro” e na qual assistimos.
Evoluindo numa cidade do litoral atlântico, lugar de todos os tráficos, incluído os de vinil e disco -compactos, os afro- cartagineses, constituindo a grande massa de mão-de-obra do grande porto, receberão, facilmente, as tórridas influências rítmicas do Atlântico negro, desde a compas haitiana, a salsa porto – ricana, a dance hall jamaicano, a afro beat nigeriana, a bikutsi camaronesa, a soukous congolesa e a semba e a kizomba angolanas.
São todos esses aportes que constituirão, numa sólida fusão, a champeta.

TERAPIA CRIOLLA
As primeiras oscilações do “ritmo – danza” de Olaya, um bairro da Cartagena, surgem, bem a propósito, nos meados dos anos 70, período da segunda grande vaga das independências no qual esta a “dipanda” do nosso pais.

E posto no mercado, o identitário vinil “Africa 5000”, cujo perfil ostenta, na base dos ritmos locais tais como o bullerengue e o tenaz cumbia (do bantu nkumbi, tambor), o afro beat do revolucionário e atípico Fela Ramsone Kuti. E a grande época da luta contra a anacrónica cidadela do apartheid.
O jazzman Charles Mingus será sensível a esta nova mistura musical.
O ritmo afro colombiano ganhara a sua plena personalidade, uma maior visibilidade e um reconhecimento internacional, nos fins dos anos 80, graças a uma inteligente abertura, mais estruturada, com músicos africanos instalados em Paris, onde evoluía a grande estrela da salsa colombiana, Yuri Buenaventura, que obteve um Disco de Ouro, em Franca.
Graças a sua enérgica entrada na world music, a “cesura” colombiana e hoje aceites no conjunto da sociedade do pais de Álvaro Urine Velez. Consequência característica do seu sucesso, esta música dos “picos”, pequenos recintos da periferia de Cartagena e, hoje, utilizada nas campanhas eleitorais e bem difundida nas rádios locais.
Facto lógico com a estampilhagem semba da champeta, as grandes celebridades desta corrente musical são quase todas originarias do mítico San Basílio de Palenque, este “pedaço de Angola”perdido na parte setentrional da Colômbia. São nativos desta “mancha negra” no pais epónimo do Descobridor: Luis Towers, Viviano Torres, Dionisio Miranda e Justo Valdez. E este último, hoje, sexagenário e empobrecido, que aplicou, o primeiro, o termo champeta a nova dança afro-colombiana. E, igualmente, o compositor de África, o orgulhoso hino do antigo território dos cimarrones.
Quanto ao Luís, só canta em crioulo cuja base e bantu, e constituída, precisamente, a partir do kikongo/kimbundu/umbundu.

E, os fundamentos sócio - músico - terapêuticos desta expressão bailante de “corpos de ébano” são confirmados pela escolha epónima imposta. A dança niger traduz uma corte. E uma ruptura psicológica, infelizmente efémera apesar da boa ajuda das dinamogenas aguardentes locais. Com efeito, os eróticos dançarinos deverão, depois, enfrentar, inevitavelmente, a dura realidade social…

E uma musica urbana exorcista mas igualmente satírica, com finalidades abertamente sociopolíticas. E, a justo titulo, que a champeta recebeu o nome sucedâneo de “Terapia Criolla”.

CONCLUSAO
Pode-se, após, a apresentação de todos esses elementos de carácter histórico, linguístico a antropológico, considerar, efectivamente, que e a champeta e mesmo uma semba.

E, inesperado sinal antropológico e a venda, tanto nas avenidas do moderno Boca Grande que no mercado popular de Bazurto, de disco compactos, cujo originais vem provavelmente do Brasil, e naturalmente multi-duplicados, in loco, do nosso Carlos Burity, o talentoso Carlito. Justa continuação histórica!

A solução a esta aceitação da nossa semba em Cartagena de Índias e implementar um projecto tal como o que resultou na produção do fabuloso “Champeta –Land” e que reuniu, no ano passado, num trabalho fraternal, excepcional, na cidade costeira do Mar das Caraíbas, músicos afro – cartagineses e os seus colegas centro africanos, congoleses, guineenses e senegaleses.
Por
Simão SOUINDOULA

Simão SOUINDOULA
Membro do Comite Cientifico Internacional
Projecto da UNESCO " A Rota do Escravo "
C.P. 2313
Luanda
( Angola )

Tel. : 929 79 32 77

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