segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Políticas educacionais e racismo: Monteiro Lobato e o Plano Nacional Biblioteca da Escola, por Ana Maria Gonçalves



10/09/2012 | Publicado por Idelber Avelar em Sem categoria  
Em recente viagem a Montgomery, no Rosa Parks Museum, encontrei com uma família de New Orleans, também evitando o confronto com o furacão Isaac. Negros, como eu e o guia que nos atendeu. Depois da visita, em resposta ao questionamento se tínhamos alguma pergunta a fazer, o guia se sentiu à vontade para nos contar sobre a presença ainda muito forte do racismo na cidade. Apesar de termos visto várias rodas de negros e brancos conversando amigavelmente no bar e no restaurante do hotel onde nos hospedamos, o guia nos contou que ainda há lugares pelos quais negros não andam; outros, onde negros não entram; e muitas regiões ainda completamente segregadas. Mas o que mais me chocou, e acompanhou durante o resto da estadia, foi a informação de que ainda há um núcleo bastante ativo da Ku Klux Klan que, durante a campanha presidencial de 2008, fazia questão de se vestir a caráter, lotar a traseira de caminhonetes e assombrar os bairros negros. Paravam em frente às casas que ostentavam símbolos da campanha do Obama, chamavam a atenção dos moradores e arrancavam adesivos de carros, bandeiras e as placas que continham fotos ou o número do candidato negro. Sabendo disso, e primeiro inconscientemente, mas depois tendo exata noção do que fazia, não me senti mais à vontade para circular pelo hotel com o livro que estava lendo, The Montgomery Bus Boycott and the Woman Who Started It, escrito por Jo Ann Gibson Robinson, a professora que convocou o boicote aos ônibus de Montgomery, depois da prisão de Rosa Parks. 
Dias depois, visitei o King Memorial e assisti a um culto na Dexter Avenue King Memorial Baptist Church, a igreja onde Martin Luther King pregava e de onde comandou o boicote, iniciando sua luta pelos Direitos Civis. Dado interessante é que a igreja fica a menos de 100 metros do Capitólio, sede dos estados confederados do Sul durante a Guerra Civil norte-americana. Antes do início do culto e por pelo menos uns 10 minutos, o reverendo falou sobre política. Sua frase inicial foi “They want our boys to run for football, but they don’t want our boys to run for president”, deixando muito clara a importância de todos os membros da igreja e seus conhecidos estarem registrados para votar, e salientando que a igreja da rua Dexter estava à disposição para tudo o que precisassem, fornecendo carro e acompanhamento até os locais de registro e de votação, e apoio psicológico e legal em qualquer problema enfrentado. “Any emergency, and you know what I mean; and I mean it”, foi o que ele disse. Não citou a Klan, claro, mas era disso que estava falando, principalmente porque depois da eleição do Obama, a organização, que nunca se extinguiu de fato e é legal nos EUA, tem ensaiado uma revigorada em lugares tradicionalmente racistas, como Montgomery. 
A Klan nasceu como organização secreta no início da Guerra Civil, e sua missão era restaurar a ordem, ou seja, retornar o negro para o seu devido lugar: os campos da escravidão. Não chegou a crescer muito nessa época, e quase foi extinta em 1871, para renascer com toda força na década de 1920, no rastro da I Guerra Mundial, chegando a ter milhões de adeptos. Embora enraizada nos estados do sul, a Klan foi um fenômeno nacional. Um bom livro sobre o assunto é Hooded Americanism – The History of Ku Klux Klan, de David M. Chalmers. 
Todos os estados, mesmo os do norte, tiveram vários núcleos da Klan, alguns mais violentos do que os outros, e todos unidos pelo que chamavam de “klannishness”, que era basicamente viver entre os que tinham as mesmas ideias, a mesma herança e os mesmos ideais. O estado de Nova Iorque, por exemplo, tinha células da Klan em quase todos os condados e, na capital, seus membros faziam paradas frequentes pela cidade, reuniões no Central Park e nas salas de uma corte masgistrada no distrito do Brooklyn, com seu líder sentado na cadeira do juiz, e em quartos alugados do Chelsea Hotel, onde também eram realizados os rituais de iniciação. Uma matéria no New York Times, de 1923, estimava em 200.000 o número de membros da Klan no estado. Um lei estadual, a Walker Law, que passou com margem muito pequena, foi instituída para brecar o crescimento da organização, proibindo seus membros de usarem máscaras em público, de usarem o correio para envio de propaganda, de exercerem cargos políticos e administrativos nos quais pudessem beneficiar a organização, e decretando o fim do secretismo das listas de filiados. A lei provocou protestos e violência, amplamente mostrados nos jornais locais, juntamente com a violência, os linchamentos e os enforcamentos que promoviam em todo o país. Calcula-se que a Klan tenha assassinado mais de 1.000 pessoas, concentrando-se nos negros sulistas. 
Os anos de 1927 e 1928 foram bastante movimentados e problemáticos para a Klan, com confrontos em Manhattan e no Queens, durante o desfile comemorativo do Memorial Day, em honra aos soldados mortos na Guerra Civil. Mil e quatrocentos homens e mulheres da Klan apareceram paramentados para desfilar, e a polícia achou que seria melhor permitir, evitando um confronto que colocasse em risco as vidas das pessoas que foram assistir ou desfilar. Quando perceberam que teriam a companhia da Klan, algumas organizações, como os escoteiros, se retiraram da formação. As autoridades tentaram, em vão, convencer a Klan a desistir, primeiro amigavelmente e depois usando a força policial, com carros e até ônibus para bloquear o caminho dos encapuçados, que passaram por cima de tudo, até conseguir o que queriam. Em 1928, quando a Klan sofria debandada em várias partes dos Estados Unidos, seus principais líderes foram para Nova Iorque, promovendo uma série de comícios e tentando eleger políticos e ocupar cargos de comando na administração pública e na força policial do estado. Tudo isso era amplamente coberto pelos jornais, e era impossível que qualquer pessoa, de qualquer lugar nos Estados Unidos, não soubesse exatamente do que se tratava e quais os propósitos da Ku Klux Klan. E é muito importante ter isso em mente quando nos lembramos que Monteiro Lobato morou em Nova Iorque entre 1927 e 1931, como adido comercial representante do governo brasileiro. Porque foi também nele que pensei sentada em um dos bancos da Dexter Avenue King Memorial Baptist Church. Rodeada de negros que, certamente, já tinham encontrado um encapuçado pela frente e buscavam forças para, também certamente, enfrentá-los de novo na eleição presidencial do próximo novembro. Era também em Monteiro Lobato que eu pensava porque, em meio às demonstrações da Klan e ao bom combate exercido pelo estado e pela cidade de Nova Iorque, ele conscientemente escolhe o lado da Klan e escreve ao amigo Arthur Neiva, em carta enviada de Nova Iorque durante o tumultuado ano de 1928, criticando o Brasil: 
País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. (…) Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva.” (Monteiro Lobato, 1928) 
Lembrei-me também de Lobato porque já estava pensando em escrever sobre mais um capítulo da história do parecer do MEC sobre o Caçadas de Pedrinho, sobre o qual vou falar mais adiante. Antes, queria falar um pouco sobre racismo e o processo de universalização da escola pública no Brasil. 
Afinal, do que (não) falamos quando (não) falamos de racismo?  
Para se ter uma ideia de como tudo ainda é relativamente novo e tabu entre nós, o dicionário Houaiss nos informa que a palavra “racismo” foi dicionarizada apenas em 1982. Uma das coisas mais complicadas ao se falar sobre racismo, no Brasil, é conseguir que as pessoas se desarmem, para então entenderem o que está sendo falado. A palavra em si já é quase uma ofensa, fazendo com que grande parte dos brancos, ao ouvi-la, sinta-se na necessidade de se defender, partindo para o negacionismo ou para a ignorância (também no sentido de precisar “ofender” de volta), passando às vezes pelo “ah, era só uma brincadeira”. Se a gente quer mesmo não precisar mais falar de racismo, atitudes como essas não deveriam acontecer, porque são parte do seu sistema de perpetuação. Desmerecer o debatedor, não falar sobre, negar, ridicularizar ou diminuir qualquer problema nunca vai fazer com que ele desapareça; e disso sabemos bem, pois quase 125 anos depois do fim da escravidão, ainda estamos às voltas com um de seus maiores males. A tão sonhada “democracia racial” ficou só no sonho, porque quase nada de concreto foi feito para alcançá-la. 
Em relação ao racismo, não se muda o pensamento e os sentimentos de uma pessoa de um momento para o outro. É necessário também transformar o ambiente a sua volta, para que ela não veja como natural um comportamento ou uma situação que deveriam ser considerados desvios. Mal comparando, é o caso do peixe que nunca saiu da água e nem se questiona se outro estilo de vida é possível e natural a outras espécies. Afinal, naturalizou como universal o ambiente que o cerca, e é incapaz de entendê-lo como hostil, agressivo aos que não possuem brânquias. Pense na universidade pública brasileira antes das cotas para negros: quantos eram os brancos, ali dentro, entre dirigentes, professores e alunos, que se atentavam para o fato de serem quase 100%, num país onde representam 50% da população? Pouquíssimos, ouso dizer, porque estavam no seu ambiente natural. E para preservar esse ambiente e todo o período em que se viveu nele, sem notá-lo, também é natural que não se deseje contaminá-lo com a palavra racismo. Porque, ao ouvi-la, é impossível que se deixe de fazer alguma coisa, nem que seja resolver ignorá-la. Faz-se um pacto pela ignorância, porque assim também se ignora o privilégio, nem sempre merecido e nem sempre consciente. Porque se tem alguém sendo prejudicado, obviamente tem alguém sendo beneficiado, querendo ou não. Porque o racismo é assim: enquanto prejudica negros como um todo, privilegia brancos como um todo, queiram eles ou não, queiram eles saber disso ou não. A culpa quase nem é de ninguém individualmente, salvo os racistas convictos e atuantes, mas cada um que se toca que está se deixando levar pela maré, deveria ter a obrigação moral de parar, nadar um pouquinho contra a corrente dos pensamentos naturalizados, e tentar escutar e entender os que ficaram pra trás não por causas naturais, mas porque uma certa bomba de sucção foi ligada, e ela só atrai aqueles com alta concentração de melanina. Se não quer ajudá-los, não há o menor problema, pois cada um tem os seus com os quais se preocupar, mas é cruel tentar impedir-lhes o avanço com falsas teorias, mentiras, empiricismos, descaso, falas e dados forjados, censuras nos meios de comunicação, compadrismo em relação a quem defende o mesmo ponto de vista que, quase sempre, é baseado na ignorância e propagado apostando nessa mesma ignorância por parte dos receptores de informação. Porque são baseadas na ignorância as opiniões de que o país não deve fazer nada para privilegiar cidadãos que, por ele, foram e continuam sendo prejudicados. Porque é disso que o racismo se vale e é a através do qual se perpetua: o pacto pela ignorância. 
Tipos de racismo - Ninguém precisa se sentir atacado quando falamos do racismo em livros adotados pelo Ministério da Educação, porque aqui estamos falando de racismo institucional. Generalizando um pouco, e usando informações do livro “I’m not a racist, but…“, de Lawrence Blum, podemos dividir racismo em três categorias: 
- Racismo Pessoal – aquele que aparece em pensamentos, crenças, comportamentos e atitudes de indivíduos racistas. 
- Racismo Social ou Sociocultural – aquele que aparece em pensamentos, crenças, comportamentos, atitudes e estereótipos compartilhados por um grupo de pessoas e expressos através de religião, cultura popular, propagandas, meios de comunicação etc… 
- Racismo Institucional ou Estrutural – aquele oriundo de inferiorização, antipatia e/ou descaso perpetrados por instituições como escolas, polícia, sistemas de saúde e judicial etc… 
Lawrence Blum nos alerta que cada um dos três opera em complexa interação com os outros: “Racismo Institucional persistente encoraja a crença pessoal, ou a suspeita, de inferioridade racial. Racismo pessoal reflete o racismo social já existente e o sustenta. Racismo pessoal atrapalha ou bloqueia o ímpeto moral de mudar instituições racistas.” (pág. 9) Racismo pode estar presente em símbolos, piadas, imagens, ditos populares, gestos e comentários, que podem ser racistas por si só, independente do motivos que as pessoas têm para usá-los, e mesmo se o sabem ou não (de novo, a tal da ignorância). Alguns são conhecidos, como as piadas racistas, que quase todo mundo conta sabendo que são racistas, para depois se espantar quando alguém se ofende, chamando-o de super sensível ou fazendo uso do termo mais do que vazio “politicamente correto”, ou então fazendo-se de vítima, com o famoso “Nossa! Eu não tinha intenção de ofender”. Vejo também muitos comentários do tipo “Não sei porque não posso usar uma camiseta com a frase 100% branco”, e o que as pessoas não percebem é a falta de simetria nessa observação, fruto da ignorância histórica. Historicamente, no Brasil, em se falando de escravidão, os negros, e não os brancos, foram vítimas de opressão, ódio, inferiorização, discriminação, preconceito etc… Então, o significado de tentar reverter um pouco o dano desse processo histórico usando uma camiseta “100% Negro” não pode ser comparado ao significado de se usar uma camiseta “100% branco”. É como se o “100% Negro” quisesse seguir adiante, superar, e o “100% branco” o puxasse pra trás, levando-o para o lugar onde ele sempre esteve, onde a opressão era 100% branca. Porque branco não era escravo; negro sim. E aí reside o absurdo da afirmação que Ali Kamel fez em seu livro Não somos racistas, e que já vi repetida na grande mídia pelo menos por Demétrio Magnoli e Demóstenes Torres, a de que a escravidão no Brasil era democrática, porque os negros também podiam ter escravos. Ora, se é que pode haver alguma coisa de democrática em regimes escravocratas, deveria ter sido permitido que negros também escravizassem brancos. 
Muitos brancos dizem não achar ofensivos o uso de termos como “macaco/a” para se referir a negros, por não pensarem direito ou por não conhecerem o legado histórico da escravidão. Usando a ciência de encomenda como muleta moral à escravização de africanos, os eugenistas e os religiosos chegaram escrever estudos para provar que eles não eram bem humanos, e sim humanóides que, numa escala evolutiva, estavam infinitamente mais próximos do macaco do que do homem ideal, o caucasiano. Chamar um negro de macaco, e isso geralmente é feito com a intenção de ofender, porque sabe-se que ofende, é resgatar o forte legado histórico da eugenia, com todo o peso de gerações e gerações de negros que vêm sofrendo racismo através dos séculos. Brancos que dizem que o chamamento não é ofensivo, e que ligam o sistema de auto-defesa alegando que na escola, por serem muito brancos, eram chamado de alemão azedo em bicho de goiaba, deveriam imaginar a seguinte cena e analisá-la dentro de contextos históricos próprios: torcedores querendo ofender, por exemplo, o jogador Roberto Carlos, jogam bananas dentro de campo, enquanto torcedores querendo ofender o ex-goleiro Tafarel jogam goiabas. Levantando-se a casca da banana, encontraremos tudo lá: captura, sequestro, porão de navio, marca corporal feita a ferro em brasa, separação de parentes, trabalhos forçados, condições sub-humanas de vida, teorias racistas de hierarquização, castigos físicos e psicológicos, estupros, privações, humilhações, pobreza, descaso etc etc etc… Levantando-se a casca da goiaba, podemos até encontrar alguns bichos, mas a grande maioria de nós, pelo menos os criados no interior, comia goiaba com bicho e tudo e nem percebia, porque não havia “legado histórico”, ou “indigestão” referente ao que o bicho da goiaba representa no passado da humanidade. A banana, aqui, entra na categoria dos símbolos, aqueles que, em determinada situação, já são racistas por si só, como as cruzes em chamas da Klan para negros norte-americanos, ou a suástica para os judeus. 
Ou seja, o assunto é complexo, e é impossível que se possa ter qualquer opinião decente informando-se apenas pelo que sai na mídia. Principalmente em jornais e revistas que, em editoriais e colunas de colaboradores apadrinhados (e aqui também uso o apadrinhamento já tão bem mostrado por Roberto daMatta, em “A casa e a Rua”) no sentido meio “klannishiniano” da palavra: viver entre os que têm as mesmas ideias, a mesma herança e os mesmos ideais.), se colocam firmemente contra qualquer iniciativa dos Movimentos Negros (e aqui é sempre bom que se diga que também há muitos brancos nesses movimentos). Desconfiem sempre das intenções de quem diz frases como “para encerrar o assunto”, ou “para acabar de vez com a polêmica”, “para colocar um ponto final nesse imbróglio”, porque a conversa ainda nem começou, ou não está sendo televisionada, e a gente ainda tem muito que aprender sobre a resistência dessa doença moral na nossa sociedade. Casos pontuais como esse do livro Caçadas de Pedrinho são interessantes porque permitem que certos processos históricos sejam trazidos à tona dentro de um contexto atual. Nesse caso específico, quero falar um pouco do processo de implantação e desenvolvimento da educação pública no Brasil, e como isso é determinante para a situação que estamos vivendo agora. 
Educação pública: de brancos para brancos  
Há uma lei de 1835 que proibia os escravos de receberem educação pública. Não que isso tenha feito grande diferença, porque senhores raramente permitiam que seus escravos estudassem, mas é importante saber que existiu a lei, implantada pelo governo brasileiro, e foi prejudicial a boa parte da população brasileira. Educação era então visto como privilégio da elite branca, proibida para os negros (aliás, “negro” era usado como sinônimo de escravos, independente de sua condição), pois poderia provocar neles o desejo de se emancipar ou se rebelar, colocando a sociedade (branca) em perigo. A primeira vez que se pensou em educar negros no Brasil foi durante a discussão em torno da Lei do Ventre Livre, de 1871, com o propósito de integrá-los à sociedade como trabalhadores livres. Marcus Vinícius Fonseca escreve em “A educação dos negros: uma nova face da abolição da escravidão no Brasil“ que, temendo o fim da escravidão, os proprietários rurais achavam indispensável “a criação de um sistema de educação voltado para o trabalho, e dento desse sistema, uma modalidade de educação para as crianças livres de mãe escrava, objetivando que elas se convertessem em seres úteis à ordem social estabelecida mediante a agricultura.”(pág. 83). A lei estabelecia que as crianças nascidas de ventre livre ficariam sob a autoridade dos donos de suas mães até os oito anos de idade, quando então poderiam ser entregues ao Estado, mediante indenização de 600$000, ou mantidos pelo senhores, trabalhando até a idade de 21 anos, quando deveriam, “sempre que possível” – e isso é importante, porque foi uma brecha na lei conseguida pelos agricultores – proporcionar-lhes instrução elementar. 
Para atender às crianças que seriam entregues ao Estado, que também ficaria obrigado a dar-lhes instrução e um pecúlio para quando atingissem a maioridade, através de taxas pegas pelos donos de escravos, o Ministério da Agricultura promoveu uma série de encontros e pediu que as províncias fornecessem listas regionais do número de crianças nascidas anualmente, para que fosse calculada a estrutura necessária. Foram firmados contratos com várias agrônomos, para que eles fundassem estabelecimentos que ensinariam essas crianças a trabalharem na terra, e com instituições religiosas que já atendiam órfãos. Paralelamente, também estava sendo estudada uma a proposta de se criar centros de excelência educacional, para o desenvolvimento e implantação de técnicas modernizadoras da agricultura brasileira, mas abertos apenas para os filhos dos agricultores. Tendo como base dados coletados em 1877, em 1878 teríamos 192.000 crianças nascidas livres de mães escravas, desde a promulgação da lei. Desse número, anualmente, 24.000 estariam em condições que serem entregues ao Estado, mas acreditava-se que apenas a sexta parte, 4.000, o seriam. O governo, que já estava bastante preocupado em não conseguir cuidar de todas, surpreendeu-se quando chegou o 1879 e recebeu, em todo o Brasil, apenas 113 crianças. Subestimou-se enormemente a capacidade de os senhores abrirem mão da escravaria, e percebeu-se que manter os filhos das escravas, a quem deveriam dar educação, “sempre que possível” era muito mais lucrativos para eles, que preferiam que suas escravas continuassem engravidando para então abandonarem as crianças nas rodas dos enjeitados, não tendo que pagar taxa de matrículas sobre elas (eram que essas taxas, de matrículas – ou registros – de escravos, que os governo formaria o pecúlio para cuidar dos libertados). Sem o filho, a escrava poderia ser alugada como ama-de-leite, rendendo ao seu dono 600$000 anuais, que era exatamente o que o governo pretendia pagar como indenização pelos ingênuos. Ao fim e ao cabo, criança nenhuma nascida de ventre livre chegou a ver a liberdade, porque ainda não tinham completado 21 anos quando veio a Lei Áurea. 
Para quem quiser se aprofundar no assunto da educação dos negros no Brasil, além do livro acima, indico também “População negra e educação: o perfil racial das escolas mineiras no século XIX”. 
Uma simples folheada nesses livros já deveria corar quem, contra as cotas, diz que os movimentos negros deveriam é estar lutando pela melhoria do ensino de nível básico. Geralmente, quem fala isso é das classes que, na primeira oportunidade, partem para o ensino privado, abandonando o ensino público à própria sorte e miséria, ms se achando no direito sagrado, “meritório”, dizem eles, de se apropriarem dele, e monopolizarem-no, quando lhes é do interesse, na universidade pública. 
Raça, educação e o papel do MEC 
As informações abaixo foram todas retiradas do excelente livro Diploma of Whiteness – Race and Social Policy in Brazil, 1917-1945, de Jerry D’Ávila. 
Nesse livro dá para acompanhar como, de maneira sutil e às vezes nem tanto, a educação pública brasileira nunca esteve voltada para os interesses de boa parte de seu público – os alunos negros e pobres. Logo no início, ele diz: “Os líderes da educação pública no Brasil na primeira metade do século XX não impediam os alunos negros de frequentarem suas escolas. Ao contrário, entre 1917 e 1945 eles se engajaram numa sucessão de expansões do sistema escolar e projetos de reforma que buscavam colocar a escola pública ao alcance dos brasileiros pobres e dos negros que no início do século estavam basicamente excluídos da escola. Esses educadores buscavam “aperfeiçoar a raça” – criar uma “raça brasileira” saudável, culturalmente europeia, fisicamente em forma e nacionalista. (…) As elites brasileiras da primeira metade do século XX tendiam a acreditar que os pobres e não-brancos eram extremamente degenerados. Ao definir esse estado de degeneração em termos médicos, científicos e sociais, eles reivindicaram para si o poder de regenerá-lo e assumiram o controle da educação pública. Eles tratavam as escolas como clínicas nas quais as doenças associadas à mistura das raças brasileiras poderiam ser curadas. Suas crenças proveram motivos para a construção de escolas e moldaram os modos de como essas escolas deveriam funcionar e as aulas que seriam dadas.” (pág. 3) “O estilo próprio dos pioneiros da educação no Brasil transformou o sistema público emergente em espaços nos quais séculos de supremacia branca europeia foram reescritos nas linguagens da ciência, do mérito e da modernidade. As escolas que eles criaram foram desenhadas para imprimir a visão de uma elite branca de uma nação brasileira ideal em crianças negras e pobres, que era a substância desse ideal.”(pág.5) Ou seja, a elite brasileira já achava que éramos uma raça perdida para os padrões de pureza europeus, e precisávamos encontrar uma maneira só nossa, o nosso jeitinho de criar branquitude, e as escolas públicas foram os laboratórios dessa experiência. 
É bom lembrar que quando o sistema de ensino público brasileiro foi desenvolvido, com a criação do Ministério de Saúde e Educação, as ideias eugenistas estavam em moda por aqui, seu controle foi entregue não a pedagogos ou educadores, mas a médicos e cientistas sociais, que foram capazes de criar uma noção de valor social, baseada em raça mas quase sem falar de raça, que criou uma hierarquia racial estável, efetiva e duradoura, porque parecia se basear me valores científicos e mérito. As coisas aconteceram simultaneamente, mas antes de falar sobre o que os alunos eram submetidos em salas de aula, quero falar do treinamento dos professores, extremamente importantes para que a transformação de pobres e negros em brancos fosse realmente efetiva. Apresentada como parte de um processo de profissionalização, a drástica mudança nos quadros de professores do ensino público favoreceu enormemente o branqueamento da profissão. 
Antes da reforma, o quadro de professores do ensino público brasileiro era majoritariamente formado por homens negros e mulatos, que tinham sido alfabetizados por instituições religiosas nas quais tinham sido abandonados. Esses professores chegavam a fazer parte de uma classe média ascendente, ocupando inclusive cargos de direção nas escolas e sendo bastante respeitados pelos alunos. Os reformadores decidiram que eles não serviam mais, e resolveram formar uma nova classe de professores levando em consideração classe, raça e gênero, substituindo-os gradativamente por mulheres, brancas da classe média. Para isso foram fundadas escolas como o Instituto de Educação, e somente alunas que ali se formassem, e que na maioria das vezes tinham um “pistolão, poderiam ser contratadas pelo Estado. O livro de Jerry Dávila traz várias fotografias que mostram esse processo, ao longo dos anos. Nas palavras do secretário de Educação Anísio Teixeira, “A escola deve dar ao nosso povo o certificado de saúde, inteligência e caráter, que é indispensável para a vida moderna. Tal tarefa não pode ser confiada a qualquer um, muito menos a um grupo de homens e mulheres que é insuficientemente preparado, ao qual falta visão intelectual e social, e que não faria mais do que bastardar o processo educacional a um nível desmoralizante de ineficiência técnica e indulgência espiritual no qual se encontra em muitos casos” (pág. 102) Ou seja, é claro que não acreditavam que professores negros e mulatos fossem capazes de ensinar branquitude. 
A primeira reforma no sistema de formação de professores foi feita pelo eugenista Afrânio Peixoto, que dirigiu o Sistema de Instrução Pública do Rio de Janeiro, que estabeleceu o padrão a ser seguido no restante do Brasil. Nessa e nas reformas posteriores foram colocadas várias barreiras que impediam, sempre de maneira “científica”, a entrada de alunos/as negros nas escolas de formação de professores. Primeiro, foram acrescentados três anos ao currículo, separando-o da educação secundária, afastando os pobres que precisavam começar a trabalhar mais cedo. Foi estabelecida uma bateria de exames de admissão que envolvia critérios acadêmicos, físicos, estéticos e psicológicos. Os alunos do Instituto eram avaliados por seus pares, colocando em situação bem complicadas as negros que conseguiam furar os primeiros bloqueios, pois sobre eles recaia a tão propalada e conhecida degeneração. Não havia vagas para todos que queriam entrar e cumpriam com os critérios estabelecidos,e que às vezes tinham estudados mais de um ano em cursos preparatórios particulares, e pistolões eram necessários, favorecendo a população branca. Para se ter uma ideia, dentre os exames físicos realizados, estavam os de peso e altura, já definidos de antemão segundo padrões encontrados entre a população branca. Tudo isso era analisado e aplicado a uma fórmula, junto com os resultados do Alfa Scale, segundo Jerry Dávila, “um exame psicológico desenvolvido nos Estados Unidos para testar recrutas do exército para a Primeira Guerra Mundial, e que por anos serviu de fonte de estudos para diferenças de habilidades ocupacionais, étnicas, raciais e geográficas nos Estados Unidos.” Ou seja, foi forçadamente formado um time de professoras brancas da classe média que, segundo os reformadores, todos homens, poderiam ser melhor controladas e habilitadas para incutir nos alunos os ideais de branquitude tão almejados pela nação. 
Com esse corpo de professores, mais equipes treinadas para o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos, esses eram submetidos a diversos testes, entre eles, os de inteligência, também desenvolvidos nos EUA e destinados a separar alunos em classes diferentes, tomando como base suas aptidões. O teste principal, Terman Group Test, foi desenvolvido tendo como crença principal que a capacidade eugênica de algumas crianças eram inerentemente melhores que a de outras. Em linhas gerais, isso significava que certas crianças estavam fadadas a não aprender, mais especificamente as já nascidas degeneradas, eram, sem qualquer outra avaliação, colocadas em salas “mais fracas”, junto com seus pares. O departamento de Ortofrenologia e Higiene Mental, dirigido por Arthur Ramos, avaliava a capacidade de as crianças, principalmente as crianças problema, se adaptarem às sociedades modernas, combinando influências que iam da psicologia freudiana à criminologia e antropologia italianas, Lombroso incluído. Os estudos de Lombroso, que faziam ligação entre características físicas e fenotípicas em criminologia, também eram usados no departamento de Antropometria, coordenado por Bastos D’Avila, que usava as fichas antropométricas dos alunos, na maioria das vezes feitas e mantidas sem o conhecimento dos pais. Estas fichas, além de tentaram provar a inferioridade dos alunos negros, também tinham o intuito de servir de base, através de sistema de medidas chamado de Lapicque Index, para a detecção de características africanas latentes em alunos considerados brancos. Bastos D’Avila chega inclusive a sugerir a compra de alguns cefalômetros para medir o tamanho do cérebro das crianças e confirmar a confiabilidade do Dubois Cephalization Index, que categorizava os estudantes em normais, super-normais ou sub-normais. O mais interessante nesses estudos de D’Avila é que quando ele encontrava resultados que contradiziam suas crenças de hieraquia racial, quando as crianças negras se provavam iguais ou superiores às crianças brancas, D’Avila dava um jeito de manipular os resultados, ou justificar que as melhores crianças brancas, aquelas mais ricas, não frequentavam escolas públicas. 
Parece difícil de acreditar, mas essas foram políticas públicas implantadas pelo governo brasileiro, através do Ministério da Educação, e há muitos outros dados assustadores no livro de Jerry D’Avila. Seria bom que os que cuidam das políticas educacionais de hoje em dia o conhecessem, e soubessem o quanto disso tudo ainda pode influenciar suas decisões. As crianças negras sempre foram desrespeitadas nas escolas públicas, por outras crianças, por professores e funcionários, por diretores, por secretários, ministros e presidentes. E continuam a ser, como nesse caso com o livro Caçadas de Pedrinho, comprado e distribuído pelo Ministério para alunos do ensino fundamental e médio, de todas as escolas do Brasil. Nesta próxima terça-feira acontece mais um passo importante dessa história, em audiência de conciliação convocada pelo ministro Luiz Fux, depois que o proponente da ação, Sr. Antônio Gomes da Costa Neto (Técnico em Gestão Educacional da Secretaria do Estado da Educação do Distrito Federal, mestrando da UnB em Educação e Políticas Públicas: Gênero, Raça/Etnia e Juventude, na linha de pesquisa em Educação das Relações Raciais), em conjunto com o Instituto de Advocacia IARA, resolveram apelar para o Supremo Tribunal Federal, numa última tentativa de fazer o Ministério da Educação cumprir a lei. Porque é a lei que o Ministério descumpre ao distribuir livros com passagens racistas, como também viola as leis Diretrizes da Educação, estabelecidas pelo próprio Ministério, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto da Igualdade Racial e, se procurarmos, vamos achar mais. E isso, sem ter conseguido cumprir a Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio. Quem quiser entender melhor a história, deixo dois links de textos anteriores: 

O livro Caçadas de Pedrinho é um livro paradidático, ou seja, material de apoio. Mas o Ministério da Educação também não conseguiu lidar com o problema do racismo e da falta de representatividade de negros e índios nos materiais didáticos. A situação é grave, como pode ser vista em livros como Racismo em livros didáticos, de Paulo Vinícius Baptista da Silva, Um olhar além das fronteiras, de Nilma Lino Gomes e Racismo e anti-racismo na educação, organizado por Eliane Cavalleiro, entre muitos outros. É de Eliane Cavalleiro também um livro importante para se entender racismo na escola, Do Silêncio do lar ao silêncio escolar
Com essas leituras dá para perceber que não é apenas a pobreza que prejudica alunos negros dentro do ambiente escolar. O racismo está presente e é fator determinante no rendimento e evasão de alunos negros, como mostram alguns estudos feitos com irmãos e, portanto da mesma classe social e mesmo ambiente cultura. No caso onde há um irmão negro e um irmão branco, esse último tem notas melhores. Ao ter que preocupar com o racismo, ao ter que pensar em se defender de “brincadeiras” e humilhações, na maioria das vezes não sendo apoiado por professores, o aluno negro perde o foco, e acaba acreditando que não vai mesmo pra frente, numa profecia auto-realizável. 
É importante acompanhar a luta, para ver se o Ministério da Educação vai ceder a pressões ou se, finalmente, vai começar a tratar com seriedade e ajudar a reverter um processo que ele mesmo instalou, oficialmente, deixando de lado as necessidades específicas das crianças negras, maioria esmagadora nas escolas públicas brasileiras. Vamos acompanhar para ver se o MEC vai se acovardar diante das necessidades de acordos políticos em anos eleitorais e assumir suas responsabilidade na educação de cidadãos conscientes e combativos do racismo. Além de Caçadas de Pedrinho, o MEC também adotou, compra e distribui os seguintes livros, todos permeados de racismo e outros ismos, fazendo-o mesmo depois que essa polêmica veio à tona: 
PNBE 2011: Histórias de Tia Nastácia 
PNBE 2010 (ensino fundamental): Reinações de Narizinho 
PNBE 2009 (ensino médio): Negrinha 
PNBE 2009 (ensino fundamental): Memórias de Emília, O picapau amarelo, Viagem ao Céu 
Há uma grande defesa de Monteiro Lobato, tido como patrono da literatura infantil brasileira. Mas é necessário, nesse caso, entender também o homem e suas lutas, e os motivos pelos quais seu racismo tão flagrante, chegando a ponto de desejar uma Ku Klux Klan brasileira, nunca foi tratado nem por seus principais biógrafos, que até hoje negam que ele tenha sido racista. Lobato não era quem fizeram que era, e sua declaração de usar a literatura para fazer eugenia nunca deve ser esquecida. Ele disse que esses processos indiretos, ou seja, de difundir ideias em colocações aqui e ali, para que não dê muito na cara, funciona muito melhor. Ele fez isso com a questão do petróleo, por exemplo, o que o trona um grande nacionalista, aquele que queria defender os interesses do povo brasileiro frente a um governo que queria ceder nossos campos petrolíferos para empresas norte-americanas. Cartas encontradas recentemente provam que, na verdade, ele queria era beneficiar sua própria empresa, fechando ele contratos com uma empresa alemã. Seu correspondente era um engenheiro de petróleo suíço chamado Charles Frankie, e trechos dessas cartas depois foram usados em sua literatura infantil tratando do assunto. Ou seja: Lobato faz o que diz que vai fazer, usar a literatura para propagar seus ideias e defender seus pontos de vista. Essas cartas deram origem à tese “Ao amigo Franckie, do seu Lobato : estudo da correspondência entre Monteiro Lobato e Charles Franckie (1934-37) e sua presença em O Escândalo do Petróleo (1936) e O Poço do Visconde (1937)”, que pode ser baixada daqui, onde você também vai encontrá-las na íntegra, junto com um quadro do que entrou em cada livro. É triste ver a literatura se prestando a esse papel, mas, mais triste ainda ver tanta gente que não consegue percebê-lo. 
Uma luta de todos nós – O sr. Antônio Gomes da Costa Neto é branco, assim como muitos outros brasileiros brancos que já compreenderam que são extremamente bem-vindos e necessários aos Movimentos Negros. Que as conquistas dos Movimentos Negros nos fará um país melhor como um todo, pois não atingem apenas parte da população que, diga-se de passagem, hoje já é maioria. O sr. Antônio não faz parte daqueles brasileiros brancos que se referem aos Movimentos Negros com um “eles” – contradizendo a ladainha de que não veem cor alguma – bem distinto e contrários aos próprios interesses, que apresentam como se fossem os interesses da nação e do povo brasileiro (as cotas para negros, por exemplo, são aprovadas por 63% dos brasileiros), defendendo, às vezes até quem notar, a manutenção normatizada e inquestionável de privilégios adquiridos ao longo de séculos de exclusão, marginalização e invisibilidade da população negra. E é para todos nós, que queremos um país livre de racismo, a começar pelos bancos escolares, que deixo um trecho do poema “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto: 
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CNS detalha regras das próximas eleições

Em 27 de novembro de 2012, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) vai eleger novas representações da sociedade civil para atuar ao longo do triênio 2012/2015.

Acesse aqui a Resolução do CNS nº 457/2012, que regulamenta a eleição das entidades e dos movimentos sociais nacionais de usuários do Sistema Único da Saúde (SUS), das entidades nacionais de profissionais de saúde, incluída a comunidade científica da área de saúde, das entidades nacionais de prestadores de serviços de saúde e das entidades empresariais nacionais com atividades na área de saúde

Acesse aqui o Edital de Convocação da Eleição do CNS para o triênio 2012/2015.

Acesse aqui o Requerimento de Inscrição para as eleições do Conselho Nacional de Saúde.

Acesse aqui a Portaria  nº 1.837/2012 do Ministério da Saúde, que designa os membros da Comissão Eleitoral para as eleições do Conselho Nacional de Saúde para o triênio 2012/2015.

Acesse aqui o Termo de Inscrição de Entidades e Movimentos Sociais dos Profissionais de Saúde.

Acesse aqui o Termo de Inscrição de Entidades e Movimentos Sociais dos Prestadores de Serviços de Saúde e Entidades Empresariais com Atividades na Área de Saúde.

Acesse aqui o Termo de Inscrição de Entidades e Movimentos Sociais dos Usuários.

Acesse aqui o Calendário Eleitoral do Conselho Nacional de Saúde – Triênio 2012/2015


Comissão Eleitoral
Telefone: 61 3315-2472
e-mail: eleicoes.cns@saude.gov.br

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Estudos em Movimentos Etnicos - Cachoeira


Processo seletivo - Coordenação Geral ABIA


A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) procura pessoas interessadas na vaga da Coordenação Geral da Instituição.
Buscamos interessados/as com experiência significativa em gestão organizacional, liderança e com trajetória em advocacy e ativismo na resposta à epidemia de aids para trabalhar em sinergia com o conselho de curadores da ABIA e supervisionar o cotidiano das atividades da instituição.
Ter pós-graduação em saúde pública ou ciências sociais não é uma exigência, mas consideramos positivo assim como experiência anterior com ONGs /Aids.
Para mais informações sobre a ABIA e as funções da Coordenação Geral, consulte a descrição detalhada no link abaixo.
ou clique aqui

As inscrições serão aceitas a partir de 05 de  setembro de 2012 e devem ser enviadas até 30 de setembro  para: coordgeral@abiaids.org.br  
As candidaturas deverão incluir uma carta de apresentação indicando o interesse na posição e detalhando as qualificações relevantes, bem como um Currículo vitae completo.

CONVOCATORIA ABIERTA MAESTRIA EN ESTUDIOS DE ASIA Y AFRICA





Centro de Estudios de Asia y África

Convocatoria abierta
 
 Maestría en Estudios de Asia y África
 
Curso Propedéutico: 27 de mayo de 2013
 
Inicio del Programa de Maestría: 5 de agosto de 2013
 
Fecha límite de entrega de documentos: 15 de enero de 2013
 
 áreas de especialización:
África; Corea (abrirá dependiendo de la disponibilidad de recursos); China; Japón; Medio Oriente; Sur de Asia; Sureste de Asia
 
Informes:
El Colegio de México
Centro de Estudios de Asia y África
Camino al Ajusco No. 20
Col. Pedregal de Santa Teresa
Delegación Tlalpan
C.P. 010740 México, D.F.
 Contacto: Estela Segura
Correo electrónico: esegura@colmex.mx
Más información disponible en:
 

sábado, 8 de setembro de 2012

I Seminário Internacional sobre Infâncias e Pós-Colonialismo - Campinas

“Se as crianças conseguissem fazer entender seus protestos em um maternal, ou mesmo simplesmente suas questões, isso bastaria para causar uma explosão nos sistemas de ensino" (Michel Foucault).

O “I Seminário Internacional sobre Infâncias e Pós-Colonialismo: Pesquisas em busca de Pedagogias Descolonizadoras”, a ser realizado nos dias 22,23 e 24 de novembro de 2012 em CAMPINAS (SP), têm como objetivo discutir pesquisas e pedagogias nos campos da educação, infância e educação infantil sob a tensão de abordagens marxistas e na perspectiva pós-colonialista, procurando, assim, a construção de aportes teóricos que favoreçam pensar pedagogias descolonizadoras das infâncias circunscritas dentro das diferentes realidades do Brasil. Numa perspectiva antropofágica vamos devorar reinventar e problematizar pedagogias e pesquisas que buscam dar conta das dimensões artísticas e culturais, provocando o público e os/as palestrantes para responderem e quando a inclusão excludente é com pessoas de 0 a 12 anos de idade?
Link: https://sites.google.com/site/infanciaposcolonialismo/

Chamada da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - Debate sobre Cotas nas Universidades

 
 
A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República vai realizar, no dia 10 de setembro, a partir das 15h, a quarta edição do Roda de Conversa, que terá como tema as "Cotas nas Universidades". Os expositores serão a jornalista Míriam Leitão; o prof. José Geraldo, reitor da UnB; a escritora Ana Maria Gonçalves, autora do livro "Um defeito de cor"; e a Profª Zélia Amador de Deus, ums das fundadoras do movimento negro e docente da Universidade Federal do Pará. A conversa será transmitida em tempo real através do link www.aids.gov.br/mediacenter e o público poderá enviar perguntas.

Preso por uma bagatela - Documentário

Para a reflexão: O que é mesmo justiça?

Link:  http://www.canalibase.org.br/o-principio-da-bagatela/

Em um país de desvios financeiros milionários e CPIs que não resultam em prisão, um trabalhador que tenta levar para casa um frango que foi jogado no lixo vai para a cadeia. Afinal, o sistema penal foi construído para punir quem?
No Direito Penal, bagatela significa insignificância. No documentário “Bagatela” de Clara Ramos, são conhecidas as histórias de mulheres presas por pequenos furtos, além da opinião de pessoas diretamente ligadas ao sistema penal, como os juízes de São Paulo Vico Mañas, Marcelo Semer e Airton Vieira.
Pequenos mesmo. No filme o espectador entra em contato com casos como o de Sueli, que ficou dois anos na prisão por ter roubado um queijo e duas bolachas. Por sua vez, Maria Aparecida foi presa por furtar xampu e condicionador. Ela tem problemas mentais e sofreu agressões na prisão. São essas as causas às quais a advogada Sonia Drigo, inspiração para o documentário, se dedica gratuitamente. A advogada e a diretora do filme se conheceram em 2005 durante a gravação de um outro projeto.
De acordo com Clara Ramos, a intenção é expor uma série de opiniões diferentes. No documentário, é possível ver críticas sobre o excesso de punição em situações singelas como essa, já que isso ajuda também a reforçar o processo de criminalização da pobreza. Ao mesmo tempo, opiniões completamente favoráveis a esse tipo de pena são exibidas, deixando o espectador chega a sua própria conclusão.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Nota da CNTE sobre Adin contra a Lei do Piso



Governadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí e Roraima querem impedir reajuste
No mesmo dia em que os movimentos sociais comemoraram a derrubada do recurso que impedia a tramitação ordinária do PNE no Senado Federal, e em que a CNTE e a CUT realizaram a 6ª Marcha Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, foi publicada no Diário Oficial de Justiça a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) nº 4.848 contra o art. 5º da Lei 11.738, que trata da atualização monetária anual do piso nacional do magistério. Subscrevem a referida ação os governadores dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí e Roraima - os novos “e velhos” Inimigos da Educação, Traidores da Escola Pública.
A CNTE lamenta, profundamente, a atitude leviana dos governadores que abdicam do debate democrático em torno da valorização dos profissionais da educação, para continuar a tumultuar o processo de implementação integral do piso no país, além de tentar rebaixar os objetivos da Lei Federal.
Cabe informar que, nesse exato momento, o Congresso Nacional discute alternativas para a alteração do critério de reajuste do piso do magistério, mantendo-o porém atrelado à meta 17 do PNE, que prevê equiparar a remuneração média do magistério à de outros profissionais - hoje a diferença é de 40%. O mesmo debate pretende ampliar a complementação da União ao piso, à luz de diretrizes nacionais para a carreira dos profissionais da educação.
Vale destacar que ao contrário do que alega os Governadores, não é a União quem dita aleatoriamente o índice de atualização do piso. O mecanismo associa-se ao Fundeb, que conta com recursos dos estados e mais a perspectiva de complementação da União ao piso. Portanto, o mecanismo possui sustentação financeira. Ocorre que, transcorridos 4 anos de vidência da Lei, nenhum ente federado comprovou cabalmente a incapacidade de pagar o piso. O que se vê Brasil afora são redes públicas de ensino extremamente desorganizadas, inchadas e com desvios de dinheiro da educação que tornam o piso impagável na carreira do magistério.
A nova Adin dos governadores, além de afrontar a luta dos trabalhadores e da sociedade por uma educação pública de qualidade e com profissionais valorizados, despreza a importância do debate cooperativo entre os entes federados para cumprir as exigências do piso, e por isso a mesma merece o nosso repúdio. Desde já a CNTE compromete-se a mobilizar sua base social e a arregimentar todas as formas de lutas para combater mais essa investida de gestores públicos contra o direito à educação de qualidade e à valorização de seus profissionais.
Acesse aqui a ADI nº 4.848.
Site oficial da CNTE: www.cnte.org.br
Informações para a imprensa
Frisson Comunicação

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Divulgação Mestrado em Estudos sobre as Mulheres 2012-2014

Candidaturas 2012-2014
Informamos que está a decorrer, de 27 de agosto a 11 de setembro, a candidatura ao 11º curso do Mestrado em Estudos sobre as Mulheres da Universidade Aberta.
Este mestrado, pioneiro em Portugal, foi criado em 1994 e funciona, presentemente, em regime de e-learning.
igualdade entre mulheres e homens constitui um dos grandes desafios internacionais, presente nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) da ONU. Este mestrado permite aprofundar a investigação neste domínio de estudos e desenvolver competências profissionais e de decisão para a implantação de Políticas para a Igualdade que tenham em conta os aspectos relacionados com o género na vida social e cultural, em relação com outras desigualdades sociais.
O curso funciona totalmente em regime de e-learning, permitindo construir conhecimento e partilhar experiências numa comunidade de aprendizagem diversificada e operando em diferentes contextos sociais e culturais que esta modalidade de ensino oferece.
Todas as informações sobre o curso e documentação necessária para a candidatura podem ser consultadas em: http://www.univ-ab.pt/guiainformativo/detailcursos.php?curso=46.
Agradecemos divulgação.
As coordenadoras
Teresa Joaquim e Rosana Albuquerque
_________________________________
UNIVERSIDADE ABERTA
CAMPUS DO TAGUSPARK
Edifício Inovação I
2740-122 Porto Salvo (Oeiras)
Portugal

Poluição: um problema de saúde pública. Entrevista especial com Paulo Saldiva


“Quando as mesmas empresas propõem produtos de padrões ambientais distintos em lugares diferentes, penso que é uma forma de tratar mal as pessoas. É isso que chamo de racismo ambiental: é uma forma de oferecer produtos de menor qualidade tomando partido”, assinala o médico.

Confira a entrevista.
A resolução dos problemas de mobilidade urbana e de poluição está imbricada em “conflitos econômicos e culturais”, e “numa política de sinais trocados”, diz Paulo Saldiva, médico e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP à IHU On-Line. Os conflitos econômicos, esclarece, são de ordem pública, porque se estimula o problema, e dificulta a solução. “Por exemplo, para fazer um corredor de ônibus ou metrô, é preciso fazer um estudo de impacto ambiental, enquanto que no caso de São Paulo, para licenciar dois mil veículos por dia, não precisa fazer estudo nenhum. Então, isso impede que as decisões mais estruturantes sejam feitas”. Já os de ordem cultural, acontecem “porque as pessoas acostumaram a se defender do transporte coletivo ruim usando seus veículos (...) Enquanto nós nos maravilhamos quando vamos para a Europa andar de transporte coletivo, trem, ônibus, bonde, aqui defendemos o uso do nosso transporte individual”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o pesquisador enfatiza que a poluição é verificada como problema de saúde pública desde os anos 1970, mas o tema é desconsiderado porque “quando se discute que tipo de combustível o país irá usar para diminuir a poluição, se o diesel irá mudar ou não, se vamos reduzir o IPI para facilitar a compra de carros, quem decide essas questões é o Ministério do Planejamento, o Ministério da Fazenda, Indústria e Comércio, e os integrantes da área da saúde nem se sentam à mesa para conversar”.

Paulo Saldiva é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, com pós-doutorado em Anatomia Patológica e Patologia Clínica. Coordena os projetos de Avaliação da Toxicidade da Poluição por Material Particulado Gerado por Diferentes Fontes Emissoras: Proposição de Estudos Clínicos e Experimentais, do Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental – Inaira.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Desde quando a poluição passou a ser um problema de saúde pública no Brasil, e como o tema tem sido tratado no âmbito da saúde?

Paulo Saldiva – A poluição tem sido verificada como problema de saúde pública desde as primeiras medidas sistemáticas de poluição, que começaram no Brasil através da rede da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – Cetesb de São Paulo, no final dos anos 1970. Naquele momento havia evidências de que a poluição seria um problema de saúde, tanto que foram tomadas medidas de controle das emissões em Cubatão, criou-se um programa de controle das emissões de indústria e se começou a montar, a partir dos anos 1980, o Programa de Controle das Emissões Veiculares – Proconve. Em função desses programas, a poluição caiu bastante. Ao mesmo tempo, porém, foram surgindo novas evidências de que mesmo os níveis de poluição considerados adequados já não eram mais. Ou seja, à medida que as técnicas de análises e os estudos epidemiológicos foram se refinando e surgiram novos dados de poluição, percebemos que variações de poluição, mesmo na faixa que antes se imaginava legal, provocavam mortalidade, internações e uma série de outros desfechos.

A área da saúde, desde Oswaldo Cruz, da revolta da vacina, das grandes endemias, organiza-se muito no sentido de fazer vacinação, de providenciar atendimento. O problema é que ela se sente um pouco incapaz frente às necessidades de resolver o problema de poluição. Hoje o problema da poluição envolve desde emprego, renda, planejamento urbano, política tecnológica, questões de mercado. Enfim, são temas que não estão relacionados apenas com a saúde. De toda forma, a saúde ainda não aprendeu a lidar adequadamente com essa questão. Então, quando se discute que tipo de combustível o país irá usar para diminuir a poluição, se o diesel irá mudar ou não, se vamos reduzir o IPI para facilitar a compra de carros, quem decide essas questões é o Ministério do Planejamento, o Ministério da Fazenda, Indústria e Comércio, e os integrantes da área da saúde nem se sentam à mesa para conversar.

IHU On-Line – O senhor costuma dizer que não há impedimentos técnicos para que o problema da poluição seja resolvido. Quais são hoje as maneiras possíveis de diminuir a poluição atmosférica?

Paulo Saldiva – Ao longo desses anos todos fiquei mais convencido de que, embora todo mundo advogue que mortalidade precoce e internações sejam temas que compadeçam a todos, quando se está formulando políticas públicas o fato predominante vai ser o econômico, por causa da crise do emprego e de outros fatores. Entretanto, para se ter uma ideia, o país gasta algo em torno de 30 bilhões por ano em função dos acidentes, entre atendimento hospitalar e perda de capacidade laboral. Então, ter essa visão da economia de forma mais integral é importante e imperativa para tomada de decisões.

Por que eu digo que o remédio existe? Porque nós sabemos fazer tudo. O Brasil tem tecnologia reconhecida no exterior para construir corredores de ônibus expresso. São os engenheiros brasileiros que fazem isso na China, em Bogotá, no Chile. Desde Curitiba nós aprendemos a fazer isso e sabemos como fazer um corredor de ônibus transportar metade do que um metrô transporta por hora de passageiros. Além disso, o Brasil tem várias matrizes de combustíveis, basta citar a elétrica provida de força hidráulica, a do etanol, biomassa, gás. Além disso, sabemos produzir veículos elétricos, híbridos. Quer dizer, nós podemos fazer tudo o que quisermos, sem precisar inventar nada.

O grande problema é que, ao contrário dos grandes temas da saúde pública, como a dengue ou o vírus A (H1N1), onde quem conseguir colocar um remédio e destruir o agente etiológico, ganho um prêmio, no caso do uso de ocupação do solo das cidades, quem vai ocupar as ruas são os carros, os transportes coletivos etc. Há aí conflitos econômicos extremamente grandes e um conflito cultural, porque as pessoas acostumaram a se defender do transporte coletivo ruim usando seus veículos. Existe o que chamo de política de sinais trocados: nós estimulamos o problema e dificultamos a solução. Por exemplo, para fazer um corredor de ônibus ou metrô, é precisa fazer um estudo de impacto ambiental, enquanto que no caso de São Paulo, para licenciar dois mil veículos por dia, não precisa fazer estudo nenhum. Então, isso impede que as decisões mais estruturantes sejam feitas. Enquanto nós nos maravilhamos quando vamos para a Europa andar de transporte coletivo, trem, ônibus, bonde, aqui defendemos o uso do nosso transporte individual.

Então, essa é uma questão até educacional. Temos de perceber que estamos deteriorando as nossas cidades, estamos perdendo o nosso tempo, estamos perdendo um pouco da nossa saúde e não estamos ganhando nem em mobilidade. Hoje cada brasileiro gasta cada vez mais tempo para ir e vir para o mesmo lugar ao qual ele se deslocava outrora.

IHU On-Line – Que investimentos em mobilidade urbana devem ser considerados para diminuir a poluição nas grandes cidades? A partir da infraestrutura urbana existente, como melhorar a mobilidade?

Paulo Saldiva – Basta que se ocupem as ruas com corredores de veículos leves, sobre trilho, de corredores de ônibus inteligentes, onde não há necessidade de ter, por exemplo, um bilheteiro dentro. O problema é que tem de fazer da qualidade do transporte coletivo, da eficiência e do valor econômico um atrativo para as pessoas migrarem. Então, talvez ao implantar um sistema desses haja um conflito inicial, enquanto se monta a estrutura, mas depois o transporte melhora.

Berlim é a cidade que tem o melhor sistema de mobilidade urbana que eu já vi. O número de veículos por habitantes é muito maior do que o brasileiro, mas as pessoas só usam os carros quando realmente precisam, porque o transporte coletivo é tão melhor e as ciclovias são tão mais eficientes, que as pessoas preferem utilizar o transporte público.

IHU On-Line – Que políticas públicas existem no país para tentar reverter a poluição e os danos causados por ela?

Paulo Saldiva – Existem algumas, mas elas são menores do que o problema que cresce. Tem o programa de controle de carros, de diminuição de carros; tem também o programa de inspeção e manutenção de carros. Mas essas e outras são sempre medidas que não são muito significativas.

Nunca houve uma medida de cobrar pelo uso do centro da cidade, como um pedágio urbano, por exemplo. Ninguém tem coragem de propor isso, embora todos nós pagamos um pedágio urbano embutido. Na Av. Paulista, por exemplo, se você quiser estacionar um carro, vai pagar trinta reais a primeira hora, e depois vinte reais por hora subsequente. É muito dinheiro, mas nós preferimos entregar esse valor na mão dos proprietários do estacionamento, porque não confiamos nas lideranças políticas.

Nós acordamos mais cedo, temos privação do sono, do nosso lazer, da nossa capacidade de interagir com as pessoas das quais gostamos por causa do trânsito. No momento em que as pessoas se conscientizarem de que isso não é normal, de que isso não é esperado, de que não é normal morrerem quatro pessoas em acidente de tráfego por dia em São Paulo, mais doze de poluição, poderemos ter uma cidade mais legal. Nós poderíamos recuperar um pouco desse cimento todo com verde; poderíamos dar espaço para as pessoas caminharem, andarem de bicicleta e promover saúde. Chamam-me de romântico quando falo essas coisas, mas, se formos analisar na ponta do lápis, veremos que o que estamos fazendo com as nossas cidades é uma loucura.

IHU On-Line – Sobre a mobilidade das cidades brasileiras, quais são os limites da acessibilidade da periferia para o centro das cidades? Como que as ilhas de vulnerabilidade ambiental se relacionam com as ilhas de pobreza?

Paulo Saldiva – Tem uma relação muito grande, porque as cidades brasileiras passaram por um processo de pseudourbanização devido ao crescimento caótico. Então, os centros das grandes cidades estão ficando menos povoados, porque são considerados espaço de empreendimentos comerciais. Como o preço do solo cresce, as pessoas vão migrando e acabam morando cada vez mais longe. Elas estão indo para regiões onde não têm serviços, onde a cobertura vegetal é muito menor. Além disso, elas ficam mais tempo no tráfego e, portanto, têm menos tempo para descansar, dormir, se exercitar. Em São Paulo, por exemplo, o tempo médio de deslocamento no trânsito, para ir e voltar do trabalho, é algo em torno de 2h 40min. Quase três horas do dia. Então, 1/3 do nosso dia gastamos para estar no trânsito.

Então, essas pessoas que menos podem, que trabalham mais, que “matam um leão por dia”, moraram mais longe. Uma pessoa de Santo Amaro-SP, por exemplo, perde 2h30min para ir e 2h30min para voltar do trabalho. Em 5 horas um indivíduo faria uma faculdade. Então, essas pessoas são, digamos, dentro de um ecossistema urbano, a base da cadeia alimentar, e à custa da saúde delas é que construímos uma cidade. Isso é muito desigual, é uma forma bastante injusta de considerar a cidade.

IHU On-Line – Pode nos explicar o conceito de racismo ambiental e qual a influência econômica nesse processo?

Paulo Saldiva – Tem um relatório da OSD que mostra quais serão as principais causas de morte em 2050, em função das causas ambientais. Segundo o relatório, a malária e a diarreia irão diminuir, mas em contrapartida a poluição do ar por material particulado irá aumentar muito, e isso vai acontecer na África, na América Latina, na Ásia e no Oriente Médio. Ou seja, isso vai transformar a poluição do ar no maior problema de saúde decorrente de alterações ambientais nos próximos quarenta anos. Irão morrer nove milhões de pessoas de poluição em 2050 por ano. Ultrapassando toda a soma de diarreia e malária.

Acontece que nem o plasmódio da malária, nem os embriões coléricos, tampouco os agentes das diarreias têm lobby econômico. Enquanto isso os processos menos avançados tecnologicamente estão migrando para regiões que têm menos capacidade de produzir conhecimentos e detectar os efeitos.

Quando as mesmas empresas propõem produtos de padrões ambientais distintos em lugares diferentes, penso que é uma forma de tratar mal as pessoas. É isso que chamo de racismo ambiental: é uma forma de oferecer produtos de menor qualidade tomando partido. Quer dizer, se produzir com o menor preço possível, em lugares onde as pessoas não têm como se defender, medir, analisar e quantificar o impacto dessas políticas comerciais de natureza duvidosa.

IHU On-Line – O senhor relaciona o racismo ambiental com a atuação das empresas multinacionais, que praticam padrões ambientais distintos dependendo do país em que atuam. Qual é o padrão utilizado no Brasil? Que modelo de tecnologia é utilizado no transporte público brasileiro? Por que em alguns países há maior valorização em questões ambientais, sociais?

Paulo Saldiva – É um modelo intermediário. Mas se você quiser saber quanto o seu carro emite de poluição na França, você consegue, mas não consegue saber aqui no Brasil. Quer dizer, as mesmas empresas que atuam no Brasil e na Europa disponibilizam as informações lá, e não aqui. É o mesmo que aconteceu há um tempo com a bula de remédios.

IHU On-Line – Como a questão da poluição é tratada em outros países? Há uma preocupação em diminuir a poluição e resolver os problemas de mobilidade?

Paulo Saldiva – Muito! Por isso que eles estão conseguindo resolver o problema da poluição deles e nós não. Alguém lá fez a conta, o lucro de diminuir a poluição é muito grande. É possível ganhar dinheiro diminuindo a poluição. Tanto que se observarmos o mapa da poluição, veremos que é o mapa da pobreza: quanto mais pobre a cidade, maior será a poluição. O controle da poluição não inviabiliza o desenvolvimento econômico. É o contrário.

Ainda não atingimos o nível de maturidade de fazer essas políticas integradas. É como se cada secretaria e cada ministério tivesse a sua política individual, e não tivesse uma conversa para saber o custo e o benefício destas políticas. Este é o papel da universidade, de fazer uma análise crítica e de vez em quando parar para pensar se de fato o que estamos fazendo é o mais inteligente e o mais adequado para todos.

IHU On-Line – A poluição ainda está muito atrelada a essa ideia de desenvolvimento?

Paulo Saldiva – Está! Aliás, nós destruímos o nosso transporte ferroviário para desenvolver a indústria de caminhões pesados no Brasil, e agora estamos tentando recompor. O Brasil optou por esse modelo de desenvolvimento que vem desde o governo Juscelino Kubitschek, onde a indústria automobilística estaria alavancando o desenvolvimento do país. A mesma coisa se repete hoje com a indústria de energia, com o pré-sal. Dizem que os recursos do pré-sal serão a salvação da educação brasileira. É lógico que ele vai contribuir, mas tem um lado negativo, e esse lado não é apresentado com a mesma clareza. Esse balanço entre custos e benefícios tem de ser feito por toda a sociedade e não só pelo segmento que está dentro daquela esfera de negócios da própria Caixa.

IHU On-Line – Quais os principais desafios de relacionar políticas de saúde, meio ambiente e mobilidade?

Paulo Saldiva – É incluir saúde humana na pauta da discussão. A saúde deveria tomar a si o projeto de discutir, porque hoje, no caso de São Paulo, quatro mil pessoas a mais morrem por ano, e isso é um tema de saúde pública. Do contrário, alguns segmentos analisam os ganhos e outros pagam os custos. A saúde já não está com aquela bola toda e ainda se gasta o dinheiro público para subsidiar o Ministério da Indústria e Comércio, ou uma política de desenvolvimento. Vamos fazer a conta e ver o que vale a pena. Essa discussão é interessante, e o Brasil tem uma grande oportunidade para resolver esse problema.

As armas e as cotas

O cientista político e historiador Luiz Felipe de Alencastro comenta a batalha adiada da igualdade racial nas Forças Armadas, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-09-2012.
Eis o artigo.
Impermeáveis às políticas afirmativas do governo Dilma, as Forças Armadas não promovem a formação de altos comandantes cujo rosto espelhe o da população brasileira. Índia, África do Sul e EUA (que destacaram oficial negro para comandar frota no Atlântico Sul) dão valor estratégico à questão racial nas elites militares.
Nas vésperas do Sete de Setembro, cabe lembrar as perspectivas sobre as Forças Armadas inscritas no "Livro Branco da Defesa Nacional" (LBDN), apresentado em junho à presidente da República e ao Congresso.
Organizado pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, o Livro Branco constitui uma iniciativa original. Tanto na forma quanto no seu conteúdo. Faltou, na imprensa e nos meios políticos e universitários, um debate à altura das análises elaboradas no LBDN. Pela primeira vez, a reflexão sobre as Forças Armadas e a diplomacia estão associadas num documento governamental que analisa as relações de força no mundo atual.
Resta que o LBDN não aborda um problema importante -de repercussão nacional e internacional-, que Amorim ajudou a começar a resolver no Itamaraty. Problema com o qual ele e seus sucessores no atual ministério também terão que lidar: a discriminação racial não escrita que exclui negros e mulatos do alto oficialato das Três Armas.
No Itamaraty, o assunto foi abafado durante muito tempo. Entrou pela primeira vez em pauta quando o presidente Jânio Quadros, em 1961, na época da independência das colônias africanas, nomeou o escritor Raimundo Souza Dantas (1923-2002) embaixador em Gana.
Primeiro e único embaixador negro desde a Independência, Souza Dantas escreveu "África Difícil, Missão Condenada: Diário" (1965), que narra a discriminação de que foi vítima, por parte de intelectuais e diplomatas brasileiros, no seu posto na África. Quando o livro saiu, a ditadura já sufocava o debate sobre esse e outros assuntos.
Agindo como pau-mandado do colonialismo português, o Itamaraty perseguiu o então diplomata e futuro dicionarista Antônio Houaiss (1915-99). Membro da Comissão de Descolonização da ONU, Houaiss dialogava com os movimentos independentistas da África lusófona. Como narra o embaixador Ovídio de Andrade Melo, em seu livro "Recordações de um Removedor de Mofo no Itamaraty" (2009), a pedido de setores salazaristas, Houaiss foi cassado e demitido do Itamaraty, acusado de ser "inimigo de Portugal".
No entanto, cada vez que o governo abria uma embaixada na África, inclusive nos países lusófonos, já escaldados pela colaboração de Gilberto Freyre (1900-87) com o colonialismo salazarista, escancarava-se um paradoxo: como acreditar que o Brasil era uma "democracia racial" se todos os diplomatas, e até os contínuos da embaixada, eram brancos? A branquidade encenada pelos diplomatas brasileiros entravava a política do Brasil na África.
Com a redemocratização, o debate voltou à ordem do dia. Em 2002, iniciou-se o programa Bolsa Prêmio de Vocação para a Diplomacia. Implementado pelo Itamaraty, o programa concede a afrodescendentes bolsas de preparação ao concurso à carreira diplomática.
A necessidade de aproximar o rosto interno do rosto externo do país foi sublinhada pelo então presidente Fernando Henrique, em dezembro de 2001: "Precisamos ter um conjunto de diplomatas -temos poucos- que sejam o reflexo da nossa sociedade, que é muliticolorida e não tem cabimento que ela seja representada pelo mundo afora como se fosse uma sociedade branca, porque não é".
Sob a presidência de Lula, o processo se consolidou. Em julho de 2008, em Brasília, o então chanceler Celso Amorim enfatizou que a democracia é "incompatível" com a discriminação, acrescentando: "Acreditávamos que éramos uma democracia racial. Hoje sabemos que isso não é verdade".
AJUSTE
Contudo, o ajuste entre o rosto interno e o rosto externo do país é longo e difícil. No último dia 18 de agosto, reportagem de Flávia Foreque na Folha revelou que, dentre as 40 novas embaixadas abertas na África, 35 têm um corpo de diplomatas inferior ao previsto. Por quê? Porque alguns itamaratecas, que se acham, evitam as embaixadas africanas, acreditando que tais postos rebaixam suas carreiras.
Celso Amorim deixou o Itamaraty e, depois de uma pausa, assumiu o ministério da Defesa. Graças à sua iniciativa, redigiu-se o "Livro Branco". Com 270 páginas, o documento contou com o aporte de vários ministérios e duas centenas de colaboradores.
De saída, o LBDN salienta as bases da geopolítica nacional: "O Brasil dá ênfase a seu entorno geopolítico imediato, constituído pela América do Sul, o Atlântico Sul e a costa ocidental da África". Mais adiante, a importância do espaço oceânico é reiterada, porquanto o Brasil é o "país com maior costa atlântica do mundo".
Citado no texto introdutório da presidente Dilma Rousseff, o pré-sal é objeto de mais quatro referências no LBDN. A posse da Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas marítimas (onde está o pré-sal) garantida pela Convenção da ONU de 1994, que foi assinada por 152 países, é destacada.
Mas o documento também observa que nem todos países aderiram à convenção, "inclusive grandes potências", circunstância que "pode se tornar, no futuro, uma fonte de contenciosos". O que o LBDN não diz, mas está nos jornais, é que a única das "grandes potências" não aderente à convenção de 1994 é os Estados Unidos.
4ª FROTA
O tom diplomático do texto evita ainda referências a uma novidade que reconfigura o Atlântico Sul, a volta da 4ª Frota americana. Estabelecida em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), a 4ª Frota foi desmembrada em 1950. Em 2008, foi restabelecida para operar no Caribe e nos mares da América Central, América do Sul e África Ocidental.
Seu renascimento foi saudado pelo "Navy Times", jornal da marinha de guerra americana: "Quase 60 anos depois de ter fechado, a 4ª Frota, que conduziu a caçada aos submarinos alemães no Atlântico Sul, está de volta. Desta vez, para caçar traficantes de drogas no Caribe".
Na América Central e na América do Sul, pouca gente acreditou nessa fita da caça aos piratas do Caribe. O governo argentino discutiu o assunto com o governo americano. Mas a reação mais incisiva veio do Brasil. Respondendo a jornalistas argentinos, em setembro de 2008, o presidente Lula declarou: "Estou preocupado com a 4ª Frota americana, porque ela vai exatamente para o lugar onde nós achamos petróleo".
Tal armada de porta-aviões, cruzadores e submarinos é comandada por um ilustre oficial negro, o contra-almirante Sinclair M. Harris. Feliz coincidência para o prestígio do contra-almirante Harris e para o lustre da U.S. Navy, sua poderosa esquadra singra entre a costa atlântica africana e o país americano que conta com o maior número de afrodescentes.
Neste contexto apenas subentendido no LBDN, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul ganha todo o seu relevo. Instaurado pela ONU em 1986, esse tratado abrange o Brasil, Argentina, Uruguai e 21 países africanos. Programas de colaboração militar estão em curso nesses países, com destaque para a Namíbia -cuja costa situa-se em latitudes idênticas à faixa do litoral brasileiro contendo o pré-sal-, a qual envia boa parte dos oficiais de sua Marinha de Guerra para se formarem no Brasil.
O LBDN assinala uma cooperação mais direta com a África do Sul, no intercâmbio de oficiais e no desenvolvimento do míssil A-Darte e, mais além, com a Índia, no avião de transporte Embraer 145, dotado de radar indiano.
A colaboração com a África do Sul e a Índia é reforçada pelo Fórum Ibas, reunindo o Brasil aos dois países. Fundado em 2003, sob o impulso do então chanceler Celso Amorim, o Ibas é definido como "um mecanismo de coordenação entre três países emergentes, três democracias multiétnicas e multiculturais, que estão determinados a redefinir seu lugar na comunidade de nações".
Efetivamente, o Brasil, a África do Sul e a Índia constituem um grupo exemplar de democracias multiétnicas e multiculturais. Não há quem duvide disso, quando percorre as ruas das grandes cidades desses países.
Salvo em algumas altas instâncias, como as Academias Militares. Ali, o rosto dos cadetes, dos futuros oficiais superiores brasileiros, predominantemente branca, destoa da igualdade étnica e multicultural do oficialato das Forças Armadas da África do Sul e da Índia. Destoa, sobretudo, da sociedade brasileira.
Graças aos avanços constitucionais do país, as Forças Armadas têm evoluído. Mulheres passaram a ser admitidas nas Três Armas, embora suas funções sejam geralmente restritas aos serviços administrativos e de saúde.
Também é certo que há, desde o século 19, certo número de oficiais afrodescendentes e que as escolas militares não vetam mais certas categorias da população.
Assim, como revelou o historiador Fernando Rodrigues, da UFRJ, na reportagem de Leonencio Nossa, no jornal "O Estado de S. Paulo", em 12 de março de 2011, até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-45), as escolas militares barravam formalmente a entrada de negros, judeus, islâmicos, filhos de pais separados e filhos de estrangeiros.
SAITO
Muita coisa mudou para melhor. Em 2007, a comunidade nipo-brasileira saudou a nomeação no comando da Aeronáutica do brigadeiro Juniti Saito, nascido em Pompeia (SP) e filho de imigrantes japoneses. No ano seguinte, viajando a Tóquio como convidado especial do governo japonês, o comandante foi recebido pelo Imperador Akihito.
Saito visitou também uma escola de filhos de imigrantes brasileiros. Segundo o site nikkeypedia.org.br, ele declarou na saída: "Eu me identifiquei com aquelas crianças porque passei o mesmo que elas quando cheguei ao Brasil. Até os cinco anos de idade, só falava japonês dentro de casa". A menos que tenha sido o resultado de um erro de transcrição, o lapso do brigadeiro Saito ("quando cheguei ao Brasil") é significativo.
Mostra o estranhamento e a emoção da "chegada" à escolinha paulista, e dá mais força ao seu mérito e à competência da Escola Militar na condução de sua trajetória até a chefia da Aeronáutica.
Da mesma forma que a carreira do contra-almirante Harris impressiona os oficiais africanos e brasileiros, o dinamismo social e democrático que impulsionou a carreira do comandante Saito deve ter impressionado os oficiais do Japão. No Extremo Oriente, o retrato do oficialato brasileiro, apresentado como um corpo militar multiétnico, ganhou foros de verossimilhança. No Extremo Ocidente é outra história.
GUARARAPES
Sabe-se que a hierarquia militar sempre afirmou sua consonância com o colorido da sociedade. Como outros documentos oficiais, o LBDN se refere à primeira Batalha de Guararapes (1648), palco da vitória icônica das Forças Armadas: "Foi o evento histórico considerado gênese do Exército, nessa ocasião as forças que lutaram contra os invasores foram formadas genuinamente por brasileiros (brancos, negros e ameríndios)".
Depois disso, os holandeses se renderam, a população indígena declinou, chegaram muito mais africanos, mais portugueses, outros europeus, e também os levantinos e os asiáticos que formaram a atual sociedade brasileira.
As Forças Armadas mudaram, mas a sociedade mudou mais rápido. A referência encantatória às forças brasileiras na Batalha de Guararapes, pintadas como um exército multiétnico, não cola à realidade. Não é preciso fazer um desenho para mostrar que há um desequilíbrio gritante no escalonamento hierárquico das Três Armas.
Como em outros setores governamentais, os brancos sempre dominaram as patentes mais elevadas, em detrimento da presença dos afrodescendentes, que compõem atualmente a maioria dos recrutas e da população do país. Para retomar a análise do então presidente FHC, trata-se de uma situação que "não tem cabimento".
A doutrina constitucional e a dinâmica democrática tem tornado a sociedade brasileira mais justa. Desse modo, a Constituição decreta que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza" (art. 5°), e completa o preceito com as políticas afirmativas, determinando a "proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei" (art. 7° § 20).
Consoantemente, a presidente Dilma Rousseff promove a nomeação de mulheres nos altos cargos, numa política pública para ninguém botar defeito.
De seu lado, o Judiciário e o Legislativo têm procurado corrigir as desigualdades herdadas do passado para reforçar a democracia. No mês de abril, o Supremo Tribunal Federal decidiu, unanimemente, que as cotas raciais nas Universidades estavam em conformidade com a Constituição.
Como é notório, o STF é raras vezes unânime em seus julgamentos. A concordância dos ministros sobre matéria tão controversa, e combatida pela grande maioria dos editorialistas, conferiu mais peso ainda à decisão, que tornou-se jurisprudência.
Após longo estudo, o STF reconheceu que existe no Brasil discriminação étnica estrutural -embora não inscrita nas leis-, que as universidades públicas tem o direito constitucional de combater.
Na sequência, o Congresso aprovou a lei que reserva 50% das vagas das universidades federais para estudantes de escolas públicas. Metade das cotas, ou 25% das vagas, vai para estudantes cujas famílias tenham renda até 1,5 salário mínimo. Os outros 25% das vagas são reservados aos estudantes negros, pardos ou indígenas. Persistem dúvidas sobre a aplicação da lei no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que depende do Ministério da Defesa.
Independentemente das Academias Militares, os oficiais superiores estão cada vez mais envolvidos na política externa. Aliás, o LBDN registra a frequente "participação articulada de militares e diplomatas em fóruns internacionais [...] na tarefa de defender, no exterior, os interesses brasileiros".
Cedo ou tarde a branquidade do oficialato entravará o papel internacional das Forças Armadas. O acomodamento nacional -tão bem resumido na frase "Imagina na Copa!"- pode continuar esperando que as coisas, na hierarquia militar e alhures, evoluam a partir de críticas externas.
A frase citada acima, e seu complemento carioca "Imagina na Olimpíada!", tem duplo sentido. O significado imediato mostra que se está apreensivo com a chegada de tanta gente de outros países.
Menos óbvio, o segundo sentido deixa entender que se espera uma melhoria nos serviços públicos, na telefonia celular, nos aeroportos. Assim, o bordão "Imagina na Copa!" revela também um comportamento acomodado e subalterno: já que os cidadãos (brasileiros) não impõem respeito, vamos tirar proveito do respeito imposto pelos consumidores (estrangeiros).
Como sucedeu no Itamaraty, o apelo à representação multiétnica, à aproximação entre o rosto multicolorido dos recrutas e o rosto dos oficiais superiores, poderá também vir de fora para dentro, das parcerias militares desenvolvidas com países do Caribe e da África, e até com a 4ª Frota americana.
Não obstante, no seu discurso de posse, Celso Amorim fez uma afirmação que indicava sua intenção de não aceitar acomodamentos e subalternidades.
De fato, na sua fala, Amorim propôs uma gestão mais democrática no Ministério da Defesa: "Devemos valorizar a discussão de temas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável e igualdade de raça, gênero e crença". Tais temas não sofrem contestação nas Forças Armadas.
Salvo a discussão do tema da igualdade de raça. Tão presente na sociedade brasileira, tão ausente no "Livro Branco da Defesa Nacional".

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Exposição Arte e Cultura Africana‏


Planejamento publica edital de concurso com 825 vagas.

O Ministério do Planejamento divulgou nesta segunda-feira, dia 27, o edital do concurso para analista de políticas sociais, todas para atuação em Brasília. Para concorrer é preciso ter o nível superior em qualquer área. A remuneração inicial do cargo de chega a R$ 5.466,53, incluindo as gratificações. Este é o primeiro concurso para a função, criada em 2009.
As inscrições serão abertas a partir da próxima segunda-feira, dia 3, até 16 de setembro, pelo site www.esaf.fazenda.gov.br, com taxa de R$ 100. Quem for membro de família de baixa renda e estiver inscrito no Cadastro Único do Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) pode solicitar a isenção;
As oportunidades estão distribuídas pelas seguintes áreas: Assistência Social (77), Educação (30), Gestão Social (248), Previdência (20) e Saúde (450). A seleção será composta por provas objetiva e discursiva marcadas para 18 de novembro

Leia mais: http://extra.globo.com/emprego/concursos/ministerio-do-planejamento-abre-concurso-publico-para-825-vagas-de-analista-5903087.html#ixzz25QLN2zp0